Rússia corta fornecimento de gás para Polônia e Bulgária

(Photo by MENAHEM KAHANA / AFP)
Com informações Infoglobo

MOSCOU —  Em sua retaliação mais dura até agora às sanções internacionais devido à invasão da Ucrânia, a Rússia interrompeu o fornecimento de gás para a Bulgária e a Polônia nesta quarta-feira, alegando que os países rejeitaram a sua exigência de receber pagamento em rublos.

A medida foi denunciada por líderes europeus como uma “chantagem” e ocorre em um momento em que os países europeus se uniram aos Estados Unidos para reforçar os envios de armas para ajudar o Exército da Ucrânia.

A Gazprom, monopólio russo de exportação de gás, disse em comunicado que “suspendeu completamente o fornecimento de gás à Bulgargaz e PGNiG devido à ausência de pagamentos em rublos”, referindo-se às empresas de gás polonesas e búlgaras. A Polônia e a Bulgária confirmaram que o fornecimento foi cortado.

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“Como todas as obrigações comerciais e legais estão sendo observadas, está claro que no momento o gás natural está sendo usado mais como uma arma política e econômica na guerra atual”, disse o ministro da Energia da Bulgária, Alexander Nikolov.

O presidente da Polônia, Andrzej Duda, disse que tem certeza de que uma ação legal será tomada contra a russa Gazprom por quebra de contrato.

“Princípios legais básicos foram quebrados, violados”, disse Duda durante uma visita à capital tcheca, Praga. “As medidas legais apropriadas serão tomadas e haverá compensação apropriada da Gazprom por violações das disposições do contrato.

Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia, o órgão Executivo da União Europeia (UE), disse nesta quarta-feira, 27, que o bloco está preparado para a falta de abastecimento determinada pelo governo de Vladimir Putin. A líder europeia ainda definiu a medida como uma “chantagem”.

“O anúncio da Gazprom é outra tentativa da Rússia de nos chantagear com gás. Estamos preparados para esse cenário. Estamos definindo uma resposta coordenada para toda a UE. Os europeus podem confiar que estamos unidos e solidários com os Estados-Membros afetados”, informou von der Leyen em comunicado.

Em entrevista à agência Lusa, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, defendeu um “embargo total” pela UE ao petróleo, gás e carvão russo.

“Quando olhamos para a dependência do gás russo, cada país [europeu] tem a sua própria realidade individual, e precisamos reconhecer isso. Mas a menos que digamos que o objetivo final tem de ser a dependência zero da Rússia em relação ao gás, nunca conseguiremos fazer isso”, ressaltou.

A exigência feita pelo Kremlin a países considerados “hostis” de receber pagamentos em moeda russa foi uma tentativa de proteger o rublo de sanções impostas desde o início da guerra na Ucrânia. Ainda não se sabe quantos países europeus aceitaram usar a moeda russa. A Bloomberg publicou uma notícia nesta quarta-feira, 27, que cita dez compradores, incluindo quatro países europeus, mas no entanto não diz quais são.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rejeitou nesta quarta as acusações de que Moscou usou o fornecimento de gás natural como ferramenta de chantagem, e afirmou que a Rússia é “um fornecedor confiável de energia”, que reage às sanções impostas contra si próprio.

“As condições estabelecidas fazem parte de um novo método de pagamento desenvolvido após ações hostis sem precedentes”, disse Peskov, que se recusou a dizer quantos países concordaram em passar a pagar pelo gás em moeda russa.

Os suprimentos da Gazprom cobrem cerca de 50% do consumo da Polônia. O país disse que não precisava recorrer às reservas e que seu armazenamento de gás estava 76% cheio. A estatal polonesa PGNiG informou que ainda está fornecendo gás a seus clientes, conforme o necessário.

“Cortar o fornecimento de gás é uma quebra de contrato, e a PGNiG se reserva o direito de buscar compensação e usará todos os meios contratuais e legais disponíveis para fazê-lo”, ressaltou a empresa.

A Polônia e a Bulgária são ex-satélites de Moscou que, desde o fim da da soviética, se juntaram à UE e à Otan (aliança militar ocidental, liderada pelos EUA). A Polônia tem sido um dos oponentes mais expressivos do Kremlin durante a guerra. A Bulgária há muito mantém relações mais calorosas com a Rússia, mas o seu primeiro-ministro, Kirill Petkov, um ativista anticorrupção que assumiu o cargo no ano passado, denunciou veementemente a invasão da Ucrânia.

O corte de combustível da Rússia ocorreu um dia depois de os Estados Unidos e de pelo menos 40 países se comprometerem a armar a Ucrânia “em longo prazo”. A mudança mais significativa foi da Alemanha, que disse que enviaria dezenas de veículos antiaéreos blindados.

Mesmo que a Rússia não amplie a proibição para outros países, já há consequências na Europa. Os preços do gás no continente subiram até 24% na quarta-feira, colocando pressão adicional nos custos em um momento em que a inflação está em alta e a recuperação pós-Covid está sob ameaça.

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