Com informações do O Globo
MARIUPOL — Um cessar-fogo temporário e parcial das forças russas em torno da cidade ucraniana de Mariupol foi anunciado neste sábado, 5, mas a trégua, que permitiria que civis deixassem a cidade durante um período de cinco horas, não foi cumprida e a prefeitura adiou a evacuação da cidade.
Segundo a agência de notícias russa RIA, os civis poderiam deixar Mariupol e Volnovakha entre meio-dia e 17h (das 9h às 14h no horário de Brasília). Além disso, suprimentos e medicamentos também poderiam chegar à cidade durante o período.
Mas, apesar de a Rússia garantir que as tropas que cercaram a cidade portuária do Mar de Azov, no sul da Ucrânia, parariam de atirar, o cessar-fogo não foi cumprido e o prefeito de Mariupol, Vadim Boichenko, adiou a retirada de seus cidadãos.
“A retirada de civis foi adiada por razões de segurança, já as forças russas continuam bombardeando Mariupol e seus arredores”, afirmou a prefeitura no Telegram.
Mais cedo, Boichenko havia dito que a trégua permitiria um trabalho de restauração da infraestrutura destruída pelos bombardeios. A cidade, que em um período normal tem cerca de 450 mil habitantes, está há alguns dias sem energia elétrica, alimentos, água, gás e transportes.
Um funcionário da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) que está refugiado em Mariupol com sua família contou que eles recolheram “neve e água da chuva” diante da impossibilidade de conseguir água devido às longas filas nos locais de distribuição.
“Queríamos conseguir também o pão social (distribuído pelas autoridades locais), mas o horário e os pontos de distribuição não estavam claros. Segundo a população, muitos armazéns foram destruídos pelos mísseis e o que sobrou foi levado pelas pessoas mais necessitadas”, disse.
Localizada a cerca de 55 km da fronteira russa e a cerca de 85 km do reduto separatista de Donetsk, apoiado pela Rússia, Mariupol é até hoje a maior cidade nas mãos de Kiev na área de Donbass, que inclui as regiões de Donetsk e Lugansk, parte delas sob o controle de rebeldes pró-russos.
Por isso, o controle da cidade tem caráter estratégico para a Rússia, já que permitiria garantir uma continuidade territorial entre suas forças procedentes da península da Crimeia e as unidades dos territórios separatistas pró-Moscou.
Em um comunicado, o conselho da cidade de Mariupol afirmou que os civis poderão seguir em direção à cidade de Zaporizhzhia e poderão usar rotas de ônibus especialmente organizadas, bem como seus próprios carros.
O conselheiro do Ministério do Interior ucraniano, Anton Herashchenko, disse neste sábado, 5, que devem ser feitos outros acordos com a Rússia sobre o estabelecimento de corredores humanitários para evacuar civis das comunidades da linha de frente.
“Definitivamente haverá mais acordos como este para todos os outros territórios — disse ele, se referindo a um plano de evacuação existente para a cidade portuária ucraniana sitiada de Mariupol.
Embora os ataques tenham sido interrompidos em Mariupol e Volnovakha neste sábado, 5, forças de Moscou continuaram com suas ofensivas durante a madrugada. As tropas se aproximam ao mesmo tempo da capital, Kiev, onde encontram uma intensa resistência, e bombardeiam bairros dos subúrbios ao oeste da capital. A cidade de Chernihiv, ao norte, também é alvo de bombardeios constantes, que deixaram muitas vítimas civis nos últimos dias.
Moscou já conquistou o controle de duas cidades importantes em dez dias de invasão: Berdiansk e Kherson, na costa do Mar Negro, sul da Ucrânia.