Saiba quais empresas faturam quase R$ 2 bilhões com Governo do Pará


Por: Fabyo Cruz

27 de fevereiro de 2025
Saiba quais empresas faturam quase R$ 2 bilhões com Governo do Pará
Helder Barbalho é o governador do Estado do Pará (Composição de Paulo Dutra/CENARIUM)

BELÉM (PA) – Os dez maiores contratos firmados pelo Governo do Pará nos anos de 2023 e 2024, sob a gestão do governador Helder Barbalho (MDB), chegam a quase R$ 2 bilhões e estão concentrados em um grupo restrito de empresas e consórcios da construção civil. De acordo com o levantamento feito pela CENARIUM, a Ankara Engenharia Ltda., a OCC Construções e Participações S/A e a Ameta Engenharia Ltda. estão entre as principais beneficiadas pelos investimentos públicos, garantindo, isoladamente ou em parceria, os contratos de maior valor.

Os recursos milionários foram destinados a grandes projetos de infraestrutura, urbanização e saneamento, abrangendo diferentes regiões do Estado, administrado pelo governador Helder Barbalho (MDB). A análise dos contratos mostra que houve um crescimento expressivo nos valores pagos de um ano para outro. O maior contrato de 2024 (R$ 310,8 milhões) é 43% maior do que o maior contrato de 2023 (R$ 216,6 milhões), evidenciando a ampliação dos investimentos públicos no setor.

Além do aumento nos valores, também há uma mudança no foco das contratações. Enquanto as obras de 2023 priorizaram saneamento e macrodrenagem, os contratos assinados em 2024 concentram-se em urbanização, mobilidade e pavimentação. A mudança ocorre em um momento de intensificação das obras públicas na capital paraense, impulsionadas pela preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro de 2025, em Belém.

Placa da obra “Asfalto COP 30” no bairro da Pedreira, em Belém (Leonardo Macêdo/Agência Pará)

Um pacote de R$ 4,7 bilhões foi destinado pelo governo federal para infraestrutura na cidade, com recursos do Orçamento Geral da União, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e de Itaipu. Os investimentos visam melhorar transporte, hospedagem e espaços que receberão eventos ligados à COP30.

Entre os contratos de maior valor assinados em 2024, destacam-se a reforma do Canal da Avenida Visconde de Souza Franco (Doca), orçada em R$ 310,8 milhões, e a duplicação da Rua da Marinha, com contrato de R$ 242,3 milhões. Essas obras fazem parte de um conjunto de intervenções que prometem requalificar áreas estratégicas para a conferência.

Obra da duplicação da Rua da Marinha (Marx Vasconcelos/CENARIUM)

Um ponto que chama a atenção na distribuição dos contratos é que as mesmas empresas aparecem repetidamente nos contratos mais valiosos de 2023 e 2024. Ankara Engenharia Ltda, OCC Construções e Ameta Engenharia Ltda integram diferentes consórcios e, juntas, concentram uma grande parcela dos recursos investidos pelo governo estadual.

Para o professor de Direito Administrativo da Universidade Federal do Pará (UFPA) Aleph Hassan Costa Amin, a concentração de contratos públicos em um grupo restrito de empresas pode decorrer de fatores técnicos e econômicos, mas também pode indicar barreiras à concorrência que comprometem a dinâmica do mercado. A Lei de Licitações (Lei 14.133/2021) estabelece como princípios a isonomia, a ampla concorrência e a eficiência, de modo que as contratações devem assegurar igualdade de condições entre os licitantes.

“Quando um número reduzido de empresas concentra os principais contratos, é essencial avaliar se os certames tem garantido efetiva competição. A restrição à concorrência tende a encarecer as contratações, reduzir a inovação e gerar dependência excessiva do poder público em relação a poucos fornecedores, comprometendo a eficiência do gasto público e o desenvolvimento do setor da construção civil no Pará”, afirma o especialista.

Reforma do Canal da Avenida Visconde de Souza Franco (Doca) (Marx Vasconcelos/CENARIUM)

A CENARIUM solicitou um posicionamento do Governo do Pará sobre a diversidade de empresas prestadoras de serviço. Leia abaixo a nota enviada pela Seop na íntegra:

“A Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop) reforça o compromisso com a transparência e a ampla concorrência nos processos licitatórios, seguindo os princípios estabelecidos pela Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021. Desde 2024, a Seop tem adotado a plataforma Gov.br como ferramenta oficial para a realização de licitações e contratações, garantindo maior acessibilidade e democratização da participação de empresas interessadas.

Todos os certames são conduzidos de forma pública e transparente, permitindo ampla concorrência e igualdade de condições para empresas de diferentes portes e regiões. Os critérios de seleção são baseados em exigências técnicas, capacidade operacional e comprovação da qualificação necessária para a execução dos serviços.

A Seop reforça que o Governo do Pará tem implementado iniciativas para estimular a participação de um número maior de empresas nas contratações públicas, facilitando o acesso à informação sobre os processos licitatórios, como a divulgação em jornais de grande circulação, Diário Oficial, Compras Pará e o Gov.br, incentivando a concorrência saudável no setor de infraestrutura, urbanização e saneamento”.

A seguir, veja os detalhes dos cinco maiores contratos de cada ano, os serviços contratados e os responsáveis por essas obras.

Maiores contratos de 2023

1. Ankara Engenharia Ltda – R$ 216,6 milhões
Obra: Construção do Novo Hospital do Leste, em Paragominas.
Sócios e administradores: Ancyra Participações Ltda; Emanuel Augusto Ladeia Vilasboas; Vanessa de Mendonça Sarti.

2. Consórcio Canal Murutucu – R$ 192,3 milhões
Obra: Saneamento e urbanização da Bacia do Canal de Mártir e alargamento do Canal do Murutucu, em Belém.
Sócios e administradores: Ankara Engenharia Ltda; Marco Aurélio Alves Reis; OCC Construções e Participações S/A.

3. OCC Construções e Participações S/A – R$ 168 milhões
Obra: Macrodrenagem da bacia do Tucunduba, incluindo os canais Vileta, Timbó, União e Leal Martins, em Belém.
Sócios e administradores: Carlos Berardo Zaeyen; Fabiano Arantes de Faria; Marco Aurélio Alves Reis; Mário Jorge Allem Nunes; Olívia Regina da Silva Vieira.

4. Consórcio Canal Benguí – R$ 123,3 milhões
Obra: Infraestrutura dos canais Benguí e Marambaia, além da adequação viária da Rua das Rosas, em Belém.
Sócios e administradores: Andrea Costa Dantas; J.A. Construcons Civil Ltda; OCC Construções e Participações S/A.

5. Consórcio Canal Gentil SPE Ltda – R$ 123,1 milhões
Obra: Macrodrenagem da Bacia do Tucunduba – Canal da Gentil, em Belém.
Sócios e administradores: Sebastião Ailson de Carvalho e Silva; José Carlos Moura Garcia Júnior; Luiz Costa Profeti; Marcelo Vilhena Porto; Carlos Demetrio Cordeiro Gouvea.

Maiores contratos de 2024

1. Consórcio Nova Doca – R$ 310,8 milhões
Obra: Reforma do Canal da Av. Visconde de Souza Franco e construção de um parque linear, em Belém.
Sócios e administradores: Conata Engenharia Ltda; Infracon Engenharia e Comércio Ltda; Marco Aurélio Alves Reis; OCC Construções e Participações S/A.

2. Consórcio Duplicação Marinha – R$ 242,3 milhões
Obra: Prolongamento e duplicação da Rua da Marinha, ligando a Av. Augusto Montenegro à Av. Centenário.
Sócios e administradores: Ameta Engenharia Ltda; Fazzo Engenharia e Transportes Ltda; Paulitec Construções Ltda.

3. Consórcio RMB – R$ 231 milhões
Obra: Pavimentação e requalificação de vias urbanas na Região Metropolitana de Belém.
Sócios e administradores: Ameta Engenharia Ltda; Andrea Costa Dantas; J.A. Construcons Civil Ltda.

4. Ameta Engenharia Ltda – R$ 219,7 milhões
Obra: Drenagem e pavimentação em vias urbanas nas regionais Xingu e Baixo Amazonas.
Sócios e administradores: Elaine Barbosa de Oliveira Souza; Francisco José Bento Gonçalves de Souza; Marcelo Aloísio de Souza; Marco Antônio de Souza; Mateus Martins Mangabeira Pereira.

5. CCB – Consórcio de Conservação de Belém – R$ 103,9 milhões
Obra: Serviços de conservação e zeladoria urbana em vias públicas urbanizadas de Belém.
Sócios e administradores: Fernando Augusto Leite da Silva; Jean de Jesus Nunes; Sebastião Ailson de Carvalho e Silva.

Veja detalhes dos contratos:

Leia mais: EDITORIAL – A crise de narrativas da COP30
Editado por Adrisa De Góes
Revisado por Gustavo Gilona

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