Saída de Mandetta do MS veio após críticas a governadores

Sem ter oferecido apoio concreto contra o coronavírus, o então ministro da Saúde disse, há dois dias, que o Amazonas “não tinha gestão”. Foto: Sergio Lima / AFP

Da Redação

A demissão do ministro de Saúde, Luiz Henrique Mandetta, nesta quinta-feira, 16, anunciada pelo Twitter, reúne não apenas recentes divergências com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a pandemia do coronavírus. Em meio a uma teleconferência, o então ministro chegou a afirmar que Manaus sofre com “falta de gestão, de organização de sistema”, referindo-se à gestão de Wilson Lima (PSC).

A fala reiterava a troca de titulares da Secretaria de Estado de Saúde (Susam), em meio ao colapso do sistema público de assistência. “Só nesse governo foram quatro [trocas]. O Amazonas teve eleição fora de época há um ano e meio, troca de governo; ali vêm tendo turbulências há muito tempo”, declarou.

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O ex-ministro da Saúde no momento da fala sobre a crise nacional do sistema público de saúde

Mandetta chegou a comparar o estado com Ceará, que “tem descaso, mas tem uma estrutura de saúde pública sempre muito boa”. A exoneração do ministro foi classificada por Bolsonaro como um “divórcio consensual”, em pronunciamento no fim desta tarde ao lado do oncologista Nelson Teich. O médico já aceitou o convite para ser o novo chefe da pasta.

Durante o discurso, Bolsonaro afirmou que Mandetta se pôs à disposição para ajudar o governo no período de transição e justificou sua escolha, elencando o retorno à normalidade dos empregos no País como o principal motivo. “É direito do ainda ministro defender o seu ponto de vista, como médico, e a questão do emprego não foi da forma como eu, como chefe do Executivo, achei que deveria ser tratada. Não critico o ministro Mandetta. Ele fez da forma como achou que deveria fazer”, declarou.

Nesse sentido, a saída de Mandetta vem após semanas de embates com o presidente. O principal ponto de discordância era sobre a não adesão ao estrito isolamento social, defendido pelo presidente, e o estímulo ao uso profilático de drogas para a Covid-19 sem embasamento científico, como a cloroquina.

Com a troca de ministros, o presidente Jair Bolsonaro ganha mais influência dentre seus governantes para decretar um possível fim do isolamento social. Foto: Divulgação

“Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar”, publicou o ex-ministro em seu perfil no Twitter.

O ex-ministro deixa a pasta com 76% no índice de aprovação de gestão, conforme o Datafolha, enquanto Bolsonaro pontuou 33%. Os últimos dias marcaram um clima de despedida para a equipe técnica atual do Ministério da Saúde. Ontem, o então secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson Kleber de Oliveira, pediu demissão. Ele adiantou, inclusive, que a eventual saída de Mandetta estava programada “para as próximas horas ou dias”, afirmando que até poderia ocorrer via Twitter.

Oliveira é apontado como um dos principais estrategistas para o enfrentamento atual à pandemia do novo coronavírus. Na semana passada, funcionários chegaram a limpar gavetas quando pensaram na possível demissão em massa da equipe.

O presidente Jair Bolsonaro já havia anunciado publicamente a reprovação de Mandetta, dizendo que os dois “estavam se bicando há um tempo”, mas que não pretendia uma exoneração “no meio da guerra”. Dias depois, ele afirmou que algumas pessoas de dentro do governo “de repente viraram estrela” e que não teria medo de usar a caneta contra elas.

Novo ministro da Saúde

Em reunião no Palácio do Planalto nesta manhã, Nelson Teich endossou a escolha de Bolsonaro, afirmando que é um “equívoco” separar economia da saúde e que “economia não vive sem saúde”, segundo participantes da reunião. Ele foi convidado a administrar a pasta logo após a audiência que teve, em que recebeu o apoio do presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Lincoln Lopes Ferreira.

Além do suporte que o chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), Fabio Wajngarten, deu à Teich, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também se mostrou favorável. Na reunião, inclusive, Teich aproveitou para contar que se formou em economia com especialização em Harvard (EUA). Ao todo, oito ministros participaram da reunião que findou com um almoço.

Apoio à Mandetta

Uma série de manifestações partindo de parlamentares federais a favor do ex-ministro surgiram na rede após o anúncio da exoneração. Do Amazonas, o senador Eduardo Braga (MDB) agradeceu à Mandetta por todo o trabalho desenvolvido por ele à frente da pasta da Saúde, especialmente nas ações de combate ao novo coronavírus. Também desejou êxito ao novo ocupante do cargo, o médico oncologista Nelson Teich.

“Ao médico oncologista Nelson Teich, desejamos total êxito na missão de defender a vida de todos nós, brasileiros, diante do avanço da Covid-19. Esperamos encontrar no senhor também a disposição de unir o Brasil num só objetivo – a preservação da vida”, publicou.

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), observou que Mandetta deixa “legado” para o Brasil na crise do coronavírus. Deputados da oposição, inclusive, também elogiaram a condução do ex-ministro durante a pandemia.

“Minha homenagem ao ministro Mandetta. Pela sua dedicação, competência, capacidade de compreensão do problema, de construir as soluções, pelo diálogo com o parlamento. Tenho certeza que, com a confirmação (da demissão) no diário oficial, o ministro deixa um legado e estrutura para que o Brasil possa, em conjunto com o governo federal, estados e municípios, atender da melhor forma possível a sociedade brasileira. Principalmente os brasileiros que precisam do sistema SUS”, destacou durante sessão plenária.

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