MANAUS (AM) – A saturação do solo e a seca rápida do Rio Solimões em Manacapuru, a 68 quilômetros de Manaus (AM), foram identificadas como fatores decisivos para o deslizamento do porto da cidade, no último dia 7 de outubro. O nível do rio desceu cerca de 15,60 metros neste período de estiagem, segundo o Serviço Geológico do Brasil (SGB).
Técnicos da empresa pública divulgaram relatório pós-desastre referente ao deslizamento nessa quinta-feira, 31. A análise da tragédia, que deixou dois mortos, revelou uma área afetada de cerca de 15 mil metros quadrados, com profundidade de até 20 metros e mobilização de, aproximadamente, 300 mil metros cúbicos de material.
Na região amazônica, devido à subida e descida dos rios, é comum ocorrer, nas margens dos rios, o fenômeno das “terras caídas”, que significa o desbarrancamento da terra. Já a saturação do solo é um termo utilizado na agronomia e na ciência do solo para descrever a quantidade de água presente no solo em relação a sua capacidade de retenção de água.
A localização do deslizamento, a presença de minas d’água na base do talude — um plano de terreno inclinado que limita um aterro — e aterros inadequados que sobrecarregaram o solo foram destacados como elementos decisivos para a ocorrência do desastre.
“A rápida descida do nível das águas, de 17,68 metros na cheia, para 2,08 metros na vazante, uma amplitude maior que a média de 10 metros no Rio Solimões, comprometeu a estabilidade do solo, provocando o deslizamento”, destacou o relatório.
Os rios
A redução de 15,6 metros no nível do Rio Solimões nos últimos quatro meses, considerada extrema, foi uma das responsáveis pelo deslizamento na área do porto. “Essa queda acentuada, associada à sobrecarga do solo durante o período de seca, levou a uma situação de alto risco”, explicou a geocientista do SGB, Alice Castillo.
Com um nível de precipitação 600 milímetros abaixo do registrado no ano anterior, o Amazonas enfrenta seu quinto ano consecutivo de chuvas abaixo da média histórica, situação que afeta diretamente os aquíferos e os fluxos dos rios Solimões e Madeira.
Os dados das estações de monitoramento também são alarmantes. Em Tabatinga, o nível do rio atingiu -254 centímetros, enquanto em Porto Velho o nível ficou 90 centímetros abaixo do mínimo registrado no ano passado. Essa redução acentuada compromete a navegabilidade e coloca em risco as comunidades ribeirinhas.
Diante do cenário de instabilidade, Castillo enfatizou a importância de afastar embarcações e flutuantes das margens de alto risco, especialmente durante a estiagem. O SGB sugere ainda a realização de estudos hidrológicos e geotécnicos detalhados para identificar fatores de risco e evitar aterros sem adequação técnica nas áreas de várzea, área situada à margem de um rio que inunda durante as cheias.
A partir de dezembro, espera-se um aumento gradual na precipitação, mas Castillo destacou, ainda, que o impacto da seca prolongada na Amazônia exige que as autoridades adotem medidas de monitoramento e precaução.
Recomendações
Os especialistas sugerem estudos hidrológicos e geotécnicos mais aprofundados para entender os fatores desencadeantes e propor medidas preventivas em Manacapuru. Vistorias e monitoramento das áreas de risco, especialmente no Terminal Hidroviário da cidade, foram recomendados, já que foram identificadas “trincas no piso do estacionamento” e “degraus abatidos” nas proximidades.
Ainda segundo o relatório, as fundações do terminal e do terminal flutuante devem ser avaliadas por engenheiros especializados para garantir a segurança da estrutura.
O Serviço Geológico do Brasil (SGB) também recomendou a adoção de técnicas de fundação com estacas profundas até a rocha para assegurar a estabilidade nas margens dos rios amazônicos e evitar aterros inadequados que possam agravar a instabilidade.