Início » Cultura » Saudade e esperança marcam sentimentos do segundo ano sem Festival de Parintins no Amazonas
Saudade e esperança marcam sentimentos do segundo ano sem Festival de Parintins no Amazonas
O "Bumbódromo", palco do Festival Folclórico de Parintins (Reprodução/Fapeam)
Compartilhe:
26 de junho de 2021
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS – Nesta sexta-feira, 25, seria o início da celebração de uma das maiores manifestações culturais do Brasil e do mundo. O Festival Folclórico de Parintins (distante cerca de 369 quilômetros da capital amazonense), que ocorre tradicionalmente no último final de semana de junho, não vai receber, pelo segundo ano consecutivo, o calor e a paixão da galera vermelha e branca e nem mesmo a energia da nação azulada. No entanto, mesmo com o adiamento do evento, a cidade está movimenta de turistas.
Neste ano, não vai ter novamente a vibração nas arquibancadas do bumbódromo durante as apresentações disputadas de Garantido e Caprichoso na arena. Mas o prefeito da cidade, Bi Garcia, afirmou que a procura por hotéis e pousadas no município teve um saldo positivo. Os hotéis estão com quase 100% de ocupação e as pousadas, 70%. “Mesmo sem festa, as pessoas estão vindo para passear e passar férias”, disse Garcia.
PUBLICIDADE
Mesmo com a tímida retomada de visitantes, é certo de que as ruas de Parintins não terão uma multidão de turistas empolgados matando a saudade da ilha, com a clássica garrafinha de água mineral, um enfeite bonito na cabeça e, no corpo, uma camisa ostentando com orgulho as cores do boi-bumbá preferido. Também não terão filas quilométricas ao redor do bumbódromo para garantir o melhor lugar durante o espetáculo.
A movimentação no Mercado Municipal, para um café da manhã com tapioca e tucumã, será um pouco mais tímida e a pausa para almoçar um peixe assado em frente ao imponente rio Amazonas será mais tranquila, sem a disputa pelas melhores mesas nos bares mais conhecidos da cidade, o Coroas e o Comunas – aqueles que ficam nas calçadas onde você ver o povo passar conversando coisas aleatórias e ouvindo toadas, enquanto pega um vento bom no rosto na sombra das velhas árvores.
Esperança
Apesar de toda a saudade e mudança brusca imposta pela pandemia que vitimou, inclusive, nomes consagrados do Festival como o artista Júnior de Souza, Paulinho Faria e tantos outros que contribuíram para o festejo, o parintinense carrega, além da saudade dos que se foram, uma característica que nem mesmo a pandemia conseguiu levar e não é a famosa “pavulagem”, mas a esperança.
“O parintinense acompanha tudo com olhos de esperança. Não é um clima de tristeza e nem de euforia, mas de esperança”, comenta o parintinense, compositor e jornalista Mencius Melo, que está na Ilha Tupinabarana e observa de perto a tentativa dos moradores de retomar aos poucos a rotina, seguindo as normas restritivas estabelecidas em função da pandemia.
O povo sonhador, aguerrido e que dá formas e cores às lendas e rituais admirados pelo mundo todo não sucumbe e mantém de pé a esperança de “bons ventos”. Neste ano, a crença por dias melhores abre espaço no sentimento de tristeza que assolou os brincantes e artistas.
“Aqui o povo tem por costume obedecer os códigos sociais como, por exemplo, o toque de recolher onde os moradores já estão em casa e não têm mais movimentação nas ruas a partir das 22 horas. Obviamente os que arriscaram vir à ilha nesta época do ano estranharam em não ver a Parintins que se vê como no anos anteriores, mas sabemos que é temporário e para nosso bem”, comenta Mencius.
Saudade
Se a saudade bate forte para aqueles que vão à ilha todos os anos, para Daniele Monteverde, nascida e criada na Baixa do São José, reduto tradicionalmente vermelho e branco, berço do Boi Garantido, a saudade triplica. A neta de Lindolfo Monteverde, criador do boi de coração na testa, hoje já não mora mais em Parintins e se une aos amigos, familiares e torcedores que moram em Manaus, quando o assunto é despertar boas lembranças de tempos sem crise.
“Sempre tive liberdade de ir e vir para minha ilha, minha casa, e nos últimos dois anos não têm sido assim. Neste momento em que vivemos cabe a nós respeitarmos a fase que estamos passando. Mas quando paro para pensar que em outra circunstância estaria chegando na ilha e, já de longe vendo a cidade enfeitada, dá um aperto no peito, sei que a cidade aos poucos está retomando a rotina, mas que bom era ver a galera ensaiando de perto, nos palcos, nos currais, isso é insubstituível”, relembra Monteverde.
Ferramenta de fuga
Atualmente, para enganar a saudade e manter a conexão com os amigos e familiares da ilha, Daniele Monterverde, que já foi da Companhia de Dança Folclórica Garantido Show, grava vídeos relembrando coreografias de toadas do boi.
“Por hora, para amenizar a saudade e me sentir mais perto, gravo vídeos e postos nas redes sociais relembrando meus tempos na dança, isso deixa meu coração mais alegre e me relembra momentos felizes. Também recorro às lives. Aqui em casa vestimos nossas camisas encarnadas e torcemos esperando por dias melhores e um bumbódromo novamente lotado, gente feliz, alegre, cantando e com saúde”, ressalta.
Lives
Em tempos de pandemia, as lives foram uma das principais ferramentas para “encurtar” a distância e o longo período sem a realização dos eventos oficiais bovinos. Na noite deste sábado, 26, não será diferente. Uma live será realizada para transmitir o Festival Folclórico de Parintins 2021.
Além de uma forma de matar a saudade, as lives também servem como auxílio-financeiro para artistas locais, uns dos que mais sentiram e sentem as consequências em relação ao trabalho durante a pandemia.
A não presença do público no local de evento por conta da pandemia da Covid-19 não impediu que trabalhadores de ambos os bois se empenhassem na confecção dos módulos alegóricos, fantasias, adereços e coreografias para uma grande apresentação no Bumbódromo. Assim está sendo para a torcedora e jornalista Geisiane Nunes. Torcedora assídua do Boi Caprichoso, ela acompanha de perto o movimentação na ilha e as alegorias alojadas quase em frente à casa onde mora em Parintins.
“Mesmo que seja só uma live, esses eventos reforçam esperança de que aos poucos vamos retomando o controle da situação. É bom ver os artistas na ativa ganhando um dinheiro extra, mais motivados. É óbvio que a cidade não tem ainda o mesmo fluxo de pessoas e de amigos queridos que sempre vem à ilha. Todos ficamos profundamente tristes com o período que vivemos, mas somos conscientes de que é necessário neste momento sermos mais comedidos. E creio que ano que vem será um lindo festival, com todos brincando, cantando e matando a saudade dessa linda tradição que é nosso festival”, finaliza a torcedora.
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.
Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.
Cookies Estritamente Necessários
O cookie estritamente necessário deve estar ativado o tempo todo para que possamos salvar suas preferências de configuração de cookies.
Se você desativar este cookie, não poderemos salvar suas preferências. Isso significa que toda vez que você visitar este site, precisará habilitar ou desabilitar os cookies novamente.