‘Se baseia na violência e na tortura’, diz especialista sobre linchamento
Pessoas atacam um alvo de linchamento (Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)
Ana Pastana – Da Cenarium
MANAUS (AM) – O empresário Jonas Mota Lopes, de 54 anos, foi mais uma vítima de linchamento em via pública na capital do Amazonas. Ele foi espancado até a morte por um grupo de motociclistas na noite de terça-feira, 27, no bairro Tancredo Neves, Zona Leste de Manaus. Esse tipo de crime tem crescido no Brasil nos últimos anos e Manaus não apresenta bons indicadores sobre o assunto.
Uma pesquisa científica sobre linchamento, realizada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com dados de 2011 a 2020 e apresentada no final de 2022, aponta que a capital amazonense registrou 345 casos de linchamento, tendo como principal motivação os crimes contra o patrimônio (70%), seguido por acusação de crimes contra a pessoa e dignidade sexual, com 15%.
À CENARIUM, o professor da Ufam e coordenador do coletivo da pesquisa e extensão “Ilhargas – Cidades Políticas e Violências”, Fábio Candotti, afirmou que os linchamentos estão condicionados à forma como a segurança está sendo produzida nas ruas de uma cidade grande como a capital amazonense.
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“Temos que entender que dois em cada três linchamentos são justificados em razão da acusação de um crime contra propriedade e isso é uma característica nova dos linchamentos da última década para cá. Não se trata de um problema de confiança na polícia, o que há é uma ação que colabora com a atuação policial e, inclusive, se assemelha à atuação desse agente, que também se baseia na violência, na tortura e na ausência de direito à defesa”, explicou.
Dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), de janeiro a junho de 2024, mostram que Manaus registrou 15 lesões corporais seguidas por morte, sendo 93,33% de homens e 6,67%, mas o gráfico não especifica quantas dessas mortes foram causadas por linchamento. “O estudo mostra que o alvo principal dos linchamentos são os mesmos atingidos pela violência policial: jovens e adolescentes, de classe trabalhadora e não brancos”, frisou o professor.
Candotti relatou ainda que grande parte dos linchamentos são cometidos por homens, que de certa forma querem mostrar masculinidade por meio de agressões, um reflexo também da forma como os agentes públicos de segurança agem com o cidadão.
“Um dado importante é que, geralmente, são homens que lincham e entre as pessoas que tentam impedir há sempre uma quantidade importante de mulheres. Mas há também casos em que acontece ao contrário, porém, o linchamento parece ser uma punição masculina, que afirma uma certa masculinidade, assim como a punição estatal e a punição que o próprio tráfico dar aos seus desafetos”, explicou Candotti.
O caso de Jonas, segundo o professor, é uma exceção e se encaixa nos termos de motivação imediata como uma justificativa de algo. O empresário deixa três filhos: um de 39 anos e dois adolescentes, uma menina de 15 anos e um menino de 12 anos de idade, além de quatro netos. A verdadeira motivação para o crime está em investigação na Delegacia Especializada em Homicídios e Sequestros (DEHS).
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