Seca: Rio Negro fica abaixo dos 20 metros e atinge nível crítico em Manaus

Por Gabriel Abreu

1 de setembro de 2024
Tomada de drone da seca do Rio Negro no Porto do Cacau Pirera, no município de Iranduba, no Estado do Amazonas (Ricardo Oliveira)
Tomada de drone da seca do Rio Negro no Porto do Cacau Pirera, no município de Iranduba, no Estado do Amazonas (Ricardo Oliveira)

Gabriel Abreu – Da Cenarium*

MANAUS (AM)- O nível do Rio Negro em Manaus atingiu neste domingo, 1º de setembro, a marca de 19 metros e 77 centímetros, segundo a Defesa Civil do Amazonas. Com isso, o Negro está a 8 metros de atingir a marca da vazante do ano passado de 12 metros e 70 centímetros, quando atingiu a pior seca dos últimos 120 anos. A descida das águas do rio é considerada pela autoridades públicas do Amazonas como crítica.

No mês passado, segundo o monitoramento feito pela Defesa Civil Estadual, o Rio Negro começou o mês medindo 25,09 metros e no sábado, 31, as águas mediam 20,02 metros. Entre o último dia de agosto e o primeiro dia de setembro, o rio desceu mais 24 centímetros, marcando 19,77 metros.

O Governo do Amazonas decretou situação de emergência nos 62 municípios do Estado por conta dos efeitos da estiagem que atinge o estado. Os níveis dos rios Solimões, Juruá, Purus, Amazonas, Madeira e Negro estão bem abaixo da marca registrada no mesmo período do ano passado.

Leia mais: Municípios em situação de emergência por causa da seca no Amazonas chegam a 60

Imagem mostra o rio Negro em Manaus durante a seca de 2023 (Divulgação/Agência Brasil)

De acordo com projeções do Serviço Geológico do Brasil (SGB), há 65% de probabilidade do Rio Solimões chegar à menor cota já observada em Tabatinga, abaixo da marca de -86 cm, de 2010. O Rio Negro, em Manaus, tem 16% de probabilidade de ficar abaixo da mínima histórica. 

“O que irá definir a magnitude real dessa vazante é por quanto tempo as descidas devem se prolongar e o quanto o período chuvoso estará atrasado. A climatologia indica que os prognósticos de chuva não são favoráveis. Portanto, consideramos o avanço das descidas até outubro para calcular a probabilidade”, explica o pesquisador em geociências Andre Martinelli,  gerente de Hidrologia e Gestão Territorial da Superintendência Regional de Manaus (SUREG-MA). 

O cálculo foi realizado com base na série histórica de dados e na mediana das descidas. Martinelli ressalta que foram calculadas as probabilidades para as mínimas históricas. “Mesmo as regiões que não têm altas probabilidades de atingir as mínimas históricas (o que seria o pior cenário), enfrentam uma grande seca, que afeta toda a população”. 

Pesquisadora Jussara Cury durante o Alerta de Vazante (Foto: SGB/Divulgação)

Cotas históricas

Tabatinga chegou a registrar a cota de 2 cm no início da semana, nos dias 18 e 19 de agosto, conforme dados do Sistema de Alerta Hidrológico da Bacia do Rio Amazonas. Essa já é a 3ª menor marca da série histórica – atrás apenas das cotas de -75 cm (2023) e -86 cm (2010).

“Já temos uma seca extrema estabelecida nessa região do Alto Solimões. No Médio Solimões até Manaus, ainda não foram alcançadas as cotas que trazem transtorno, mas a tendência é que isso ocorra”, disse Martinelli.

Nesta semana, já começaram a ser observadas descidas mais intensificadas, da ordem de 20 cm por dia, no Rio Negro, em Manaus, efeito do que ocorre em Tabatinga. O pesquisador enfatiza que as secas extremas refletem uma mudança no padrão dos regimes hidrológicos observados nos últimos 20 anos: “A gente tem vivenciado, cada vez de forma mais frequente, esses eventos hidrológicos extremos, tanto de cheia quanto de vazante. Isso tem muita relação com as mudanças climáticas”.

Políticas públicas 

O 1º Alerta de Vazante da Bacia do Rio Amazonas tem o objetivo chamar a atenção para a intensificação da seca na região e apoiar políticas públicas que visem mitigar e prevenir seus efeitos.

“É só por meio da informação que podemos planejar e investir em ações de enfrentamento a eventos extremos. Esse trabalho está alinhado à missão do SGB de gerar e disseminar conhecimento geocientífico, contribuindo para a qualidade de vida da população e desenvolvimento sustentável do país”, destaca Martinelli.

(*) Com informações do SGB

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