Secretário de Justiça tentou retardar extradição de Allan dos Santos, mas delegada foi mais rápida


12 de novembro de 2021
Secretário de Justiça tentou retardar extradição de Allan dos Santos, mas delegada foi mais rápida
Eduardo Bolsonaro almoça com o ideólogo Olavo de Carvalho e o blogueiro Allan dos Santos nos EUA | Reprodução/Twitter

Com informações do Infoglobo

BRASÍLIA – O secretário Nacional de Justiça, Vicente Santini, tentou retardar o processo de extradição do blogueiro Allan dos Santos antes de exonerar a chefe do departamento responsável pelos trâmites entre o Brasil e os Estados Unidos, a delegada da Polícia Federal (PF) Silvia Amélia Fonseca de Oliveira.

Mas, quando pediu os papéis à delegada para tentar produzir um parecer contrário, foi informado de que a ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes para que Allan fosse extraditado para o Brasil já havia sido enviada para os Estados Unidos.

Foi essa a razão da demissão de Silvia do cargo de diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI) do Ministério da Justiça, que cuida de extradições, transferências e da repatriação de ativos.

O DRCI é um dos setores mais sensíveis e estratégicos para investigações de crimes transnacionais, como tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e corrupção. Foi o departamento que cuidou, por exemplo, da repatriação dos recursos desviados pelo Petrolão para outros países. A exoneração de Silvia Amélia foi publicada na quarta-feira (10).

O blogueiro Allan dos Santos é aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro e especialmente próximo do filho 03 do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

Ele é alvo de dois inquéritos no Supremo. O primeiro apura a divulgação de fake news e ataques a integrantes da Corte, e um segundo investiga a atuação de uma milícia digital que trabalha contra a democracia e as instituições.

Na decisão tomada a pedido da PF, Alexandre de Moraes afirmou que o blogueiro continua a divulgar conteúdo criminoso por meio de redes sociais, para arrecadar recursos. A Procuradoria-Geral da República (PGR) opinou no processo contra a prisão do aliado de Bolsonaro, que está nos Estados Unidos desde agosto de 2020.

A ordem de prisão preventiva e de extradição foi expedida no início de outubro. O procedimento padrão, nesses casos, é encaminhar automaticamente o pedido ao país onde está a pessoa procurada. Foi isso o que fez o DRCI, ao despachar a ordem para os EUA logo que ela chegou ao Ministério da Justiça.

Mas, no final do mês,  em uma entrevista que deu à Jovem Pan ao lado de Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça Anderson Torres disse que sua pasta ainda iria analisar o pedido.  “Assim que a ordem judicial chegar, nós vamos fazer uma análise disso”, disse Torres. “É um assunto que vai ser tratado de uma forma técnica, observando os critérios legais, o que pode ser feito e o que não pode ser feito.”

Torres, certamente, contava que o caso seria manejado pelo secretário Santini – outro amigo próximo da família Bolsonaro –, que dois dias antes da entrevista tinha enviado um memorando ao DRCI. Segundo o site Brazilian Report, o documento informava que, a partir daquele momento, todos os pedidos de extradição seriam despachados por ele.

Foi só aí que Santini descobriu que o pedido de extradição do blogueiro bolsonarista àquela altura já estava em algum escaninho do governo americano. 

Pelo jeito, o secretário achou que devia uma satisfação a Jair Bolsonaro, por não ter conseguido evitar o envio do aliado para a prisão. Exonerou Silvia Amélia do cargo, sem nem mesmo se dar ao trabalho de nomear um substituto. O departamento continua funcionando, mas, agora, sob as ordens do prestativo Santini.

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