Segundo avião com 111 brasileiros deportados dos EUA chega ao Brasil


Por: Cenarium*

08 de fevereiro de 2025
Segundo avião com deportados dos EUA chegou a Fortaleza nesta sexta-feira, 8 (Foto: Reprodução/Twitter)
Segundo avião com deportados dos EUA chegou a Fortaleza nesta sexta-feira, 8 (Foto: Reprodução/Twitter)

MANAUS (AM) – Os deportados que chegaram ao Brasil nesta sexta-feira, 7, no segundo voo do novo governo Donald Trump relataram alívio de voltar ao País depois de período detidos pelas autoridades dos Estados Unidos e agradeceram o governo brasileiro pela acolhida recebida uma vez em território nacional.

O voo com 111 brasileiros pousou primeiro em Fortaleza (CE), onde 16 desembarcaram. Outros 95 seguiram para o destino final, o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins (MG). Esse último trecho foi realizado pela Força Aérea Brasileira (FAB).

Cesar Diego, 39, de Caldas Novas (GO), ajoelhou-se e beijou o chão quando chegou ao Brasil. Ele afirmou que os deportados receberam água e comida durante o voo, e que as algemas foram retiradas ainda dentro do avião após a chegada em Fortaleza. “A nossa riqueza tá no Brasil, isso eu digo por experiência própria. O governo [brasileiro] nos deu 100% de ajuda e agradeço”, disse Diego. “Agora quero reencontrar a esposa, os dois filhos. Não vejo há seis meses.”

Outro repatriado, João Vitor Batista Alves, 26, afirmou após desembarcar que a recepção no Brasil foi boa, com todo o apoio necessário e tratamento digno. Motoboy, ele disse que “lá fora, por mais que seja financeiramente melhor, o calor humano, o acolhimento, isso só o Brasil tem”, ressaltando que poucos brasileiros migram para os EUA em comparação com outros países.

Questionado pelo jornal Folha de São Paulo sobre que mudanças no tratamento das autoridades americanas com os migrantes detidos houve após a posse do novo governo em janeiro, João Vitor disse que “um dia depois que Trump assumiu, já mudou tudo”. “Não ficávamos dois dias em um lugar só, não tinha direitos básicos, não conseguíamos mais conversar com os agentes. A gente era mais acolhido no governo anterior.”

Rafael Marciano, carpinteiro de 27 anos que viveu dez anos nos EUA, disse que o voo de deportação “foi só sofrimento”, com comida podre e algemas apertadas até mesmo ao usar o banheiro. Segundo Rafael, um dos migrantes desmaiou durante o voo depois que os agentes de imigração americanos se recusaram a buscar remédios de que precisava.

Ele descreve também o centro de detenção onde ficou preso antes de ser deportado: “era como um chiqueiro, muito sujo, e não nos davam itens básicos de higiene. Nos trataram muito mal”. “Nunca mais fale comigo de Estados Unidos, senão vai arranjar briga”, concluiu.

O relato do migrante desmaiado foi corroborado por outro deportado, Gilmar Mesquita. “Além disso, a comida era horrível, salame podre, água quente”. Segundo Gilmar, o governo Trump “está massacrando os imigrantes”.

“Estávamos numa ala [do centro de detenção] onde cabiam 24 pessoas, mas éramos 60. Dormimos três noites no chão, com o ar-condicionado desligado de dia e só ligado à noite. Desumano, muita covardia”, acrescentou.

Além do traslado de Fortaleza a Confins, o plano brasileiro também incluiu um diplomata destacado para acompanhar o embarque dos brasileiros na cidade americana de Alexandria, no estado da Louisiana. O governo Lula (PT) destacou equipes do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania para receber os repatriados tanto no Ceará quanto em Minas Gerais, por meio de postos de acolhimentos nos dois aeroportos.

Dados da pasta dos Direitos Humanos mostram que 64% dos migrantes no voo eram homens desacompanhados, enquanto 25% eram famílias e 10%, mulheres desacompanhadas. No total, 76% dos deportados eram homens e 23%, mulheres.

A ministra Macaé Evaristo disse à imprensa que o voo dessa sexta foi “mais tranquilo” que o anterior, quando houve acusações de agressões por parte dos agentes de imigração americanos.

“Conseguimos diminuir o tempo [do voo de deportação]. Na outra ocasião, fomos pegos um pouco de surpresa com o que aconteceu, com os problemas técnicos na aeronave e com [os migrantes] tendo que ficar um tempo longo em Manaus.” Segundo ela, dessa vez tudo foi feito “com mais agilidade e rapidez”.

De acordo com a secretária de Direitos Humanos do Ceará, Socorro França, os repatriados vieram acorrentados e “quase sem alimentos”.

“Recebemos com muita emoção, porque eles estavam acorrentados, com algemas. Quando desceram do avião já vieram totalmente livres, mas muito machucados emocionalmente. Pelos relatos, eles sofreram muito, ficaram presos, quase sem alimentos, e aqui o governo do estado deu alimento, água, kit de higiene, um tratamento humanizado. Todos foram atendidos por psicólogos e assistentes sociais”, afirmou a secretária.

Da cidade americana de Alexandria, na Louisiana, a aeronave, civil, fez uma parada em Porto Rico antes de seguir viagem para a capital cearense. A previsão inicial era de que o voo aterrissasse às 15h (horário de Brasília), mas houve pouco mais de uma hora de atraso.

A medida relativa ao transporte anunciada pelo governo federal, após discussões em um grupo de trabalho com os americanos, tem objetivo de reduzir o tempo de viagem e, consequentemente, o período em que os brasileiros terão de usar algemas.

O uso das algemas, embora condenado pelo governo brasileiro, foi autorizado como parte de acordo de 2021 entre Brasília e Washington, e a decisão sobre sua utilização continua sendo do governo americano. Não há expectativa de que tal prática seja alterada.

Trump tem cumprido mesmo as promessas mais radicais sobre migração feitas durante sua campanha para voltar à Casa Branca. O republicano declarou emergência nacional na fronteira com o México, o que possibilitou o uso de pessoal e estrutura das Forças Armadas para lidar com a migração, acelerou detenções para deportação e ampliou estrutura da base de Guantánamo, na ilha de Cuba, para enviar ao local cerca de 30 mil migrantes em situação irregular no País.

Leia mais: Brasileiros deportados dos EUA estavam algemados e acorrentados

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