Sem projeto para novas ciclovias, Manaus tem pior índice de malha cicloviária da Amazônia

Em Manaus a maioria das faixas para ciclistas não tem sinalização apropriada (Divulgação/Semcom)

Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Com o pior índice de malha cicloviária entre as capitais da região Norte, Manaus tem apenas 1% de ciclovias e ciclofaixas disponíveis para os ciclistas. Aos mais de 2 milhões de habitantes que residem na capital amazonense, somente 21 km desta infraestrutura é oferecida na cidade. A má qualidade da malha cicloviária impacta diretamente na vida dos cidadãos que precisam arriscar a vida no trânsito da capital amazonense.

No ranking da região Norte, Manaus – com 11.401,092 km² de extensão – fica em último lugar, atrás de cidades com menos extensão territorial como Belém (PA), com 114 km de malha cicloviária para 1.059,458 km² de extensão e 10% de índice, e Boa Vista (RR), que está em segundo lugar no classificação, com 38 km de ciclovias e ciclofaixas para 5.687.000 de extensão territorial. Os dados constam no CicloMapa.

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Dados sobre a malha viária da região norte (Arte: Guilherme Oliveira/Revista Cenarium)

Os dados englobam todas as capitais da região Norte, mas as informações da extensão da malha viária de Macapá (AP) não foram disponibilizadas no painel. Os principais problemas avaliados para os ciclistas nas capitais, além da carência de ciclovias e ciclofaixas, são a falta de sinalização pertinente, falta de segurança e falta de campanhas educativas.

O mapeamento mostra pontos onde se encontram as ciclovias e ciclofaixas em Manaus (Reprodução/Cliclomapa)

Riscos no trânsito

A utilização da bicicleta ultrapassou a barreira da prática voltada para saúde e hoje já é vista como meio de transporte de uso diário. Por ser usado frequente no cotidiano de algumas pessoas, os riscos enfrentados pela falta de infraestrutura e negligência de motoristas também estão inclusas na rotina, como conta o técnico em manutenção Julio Calazanz, que utiliza este meio de transporte há dois anos.

“A gente ainda sofre muitos riscos, principalmente em ruas e avenidas que não tem uma estrutura boa. O que mais os ciclistas reclamam é que os motoristas passam muito perto [dos ciclistas], o famoso “tirar o fino”. Então isso é algo recorrente. Não tem respeito por parte dos motoristas, principalmente motorista de ônibus”, diz o ciclista, que faz parte do grupo Piracema Cicloviete que reúne cerca de 40 pessoas que se mobilizam para pedalar e reivindicar mais consciência no trânsito.

Grupo Piracema Cicloviete se reúne para reivindicar direitos como infraestrutura cicloviária e respeito no trânsito (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Julio ainda lembrou da morte recente do idoso Sandoval Gonçalves dos Santos, de 65 anos, em 29 de abril. Ele pedalava na Avenida das Torres, em Manaus, quando foi atropelado por um veículo. Para o técnico em manutenção, esse tipo de fatalidade causa revolta e acontece quando não há infraestrutura apropriada para a prática da atividade, assim como falta de responsabilidade dos motoristas.

“A gente se sente revoltado. Esse último senhor que morreu, visivelmente era um cara que trabalhava, que usa a bicicleta como meio de transporte e não merecia ter sua vida tirada por conta de andar de bicicleta. Então o sentimento que a gente tem é de revolta. Por isso que a gente realiza um evento chamado ghost bike, que a gente bota uma bike toda pintada de branco no lugar que o ciclista morreu e faz um ato, falando coisas para chamar a atenção do poder público e da mídia”, conta ainda.

Faltam projetos

Após 100 dias de governo do prefeito David Almeida (Avante) – apesar de projetos apresentados ainda no Plano de Governo das eleições em 2020 – não foram entregues mais infraestrutura cicloviária, além dos atuais 21 km na capital amazonense.

Em nota, o Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU) disse que já tem projetos – juntamente com a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seminf) – que estão em fase de aplicação. Informou ainda que está “construindo mais 3.400 metros de ciclovia na avenida das Torres e mais 9.000 metros de ciclovias estão em revisão na avenida coronel Teixeira”.

Mortes

Um levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet) feito em 2020, analisou o número de internações por acidentes de cliclistas nos últimos dez anos. O estudo concluiu que o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta até R$ 15 milhões por ano para tratar traumas da colisão de bicicletas com carros, motos, ônibus, caminhões e outros tipos de transporte.

Segundo os dados coletados do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) e do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), ambos do Ministério da Saúde, 60% das 13.718 mortes de ciclista aconteceram por causa de atropelamento no período de dez anos.

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