Sem remuneração, técnicos de Saúde enviados por Bolsonaro ao AM relatam descaso federal

Thiago Fernando – Da Revista Cenarium

MANAUS – “Estamos há dois meses longe dos nossos familiares, lares e não somos reconhecidos pelo nosso presidente”, desabafa enfermeira Ana Maria*. A indignação da profissional feita exclusivamente à REVISTA CENARIUM, revela o descaso com profissionais da saúde enviados pelo Governo Federal ao Amazonas, que desde abril atuam no combate a Covid-19 no Estado.

O sistema amazonense de Saúde recebeu o reforço de 267 profissionais da saúde, entre médicos, enfermeiros, técnicos em enfermagem, fisioterapeutas, farmacêuticos e biomédicos cadastrados no programa do Ministério da Saúde (MS), “Brasil Conta Comigo”. Com a primeira “onda” de voluntários desembarcada quando o Estado registrava 1.719 casos confirmado pela Covid-19 em 16 de abril.

Maria afirma que os médicos e enfermeiros foram recrutados para evitar sobrecarga dos profissionais locais. Mas que agora, por conta da distância dos familiares e ausência das iniciativas federais a desmotivação faz parte do cotidiano. “Apesar de tudo não vamos abandonar a nossa missão”, afirmou a profissional.

Segundo o último relatório divulgado pelo MS no dia 15 de junho, apenas 159 contratados pelo programa seguem atuando nos hospitais de referência em Manaus. Boa parte destes estão hospedados com diárias, hospedagem e alimentação pagas pelo Governo Federal em um hotel localizado no bairro Distrito Industrial, Zona Sul de Manaus.

Durante o período em que os profissionais estão no Amazonas a taxa de ocupação dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI), despencou de 96% para 67%. Para a enfermeira alguns companheiros já foram comunicados ainda no próximo mês, podem ser relocados para outros estados onde casos de Covid-19 estariam aumentando.

“Nos voluntariamos para ajudar nessa pandemia, porque sabemos que o sistema de saúde de todos os estados brasileiros é precário. Felizmente, o Amazonas vem mostrando uma melhoria no quadro de infectados. Mas outras capitais ainda estão sofrendo. O Ministério da Saúde já informou que pode nos transferir, porém, queremos saber se vamos continuar sem receber”, concluiu.

A REVISTA CENARIUM entrou em contato com o Ministério da Saúde para solicitar posicionamento oficial sobre as denúncias, mas até o momento não obteve respostas.

*(nome fictício para preservar a identidade da profissional e evitar possíveis represária).