Semana Nacional do Quadrinho: conheça artistas da Amazônia que ilustram cultura da região

Além de abordar cultura da Amazônia, artistas falam da luta dos povos indígenas e levantam pautas contra o desmatamento. (Arquivo Pessoal/ Reprodução)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS – Um segmento cada vez mais em ascensão e dominado pelas editoras norte-americanas DC Comics e Marvel Comics, as histórias em quadrinhos — ou HQs — têm conquistado uma legião de fãs e ganhado adeptos por todo o mundo. No cenário brasileiro, artistas da Amazônia se destacam na área com ilustrações sobre a cultura da região, abordando ainda temáticas voltadas para luta dos povos indígenas e em favor do meio ambiente.

Nesta Semana Nacional do Quadrinho, data criada para comemorar o Dia Nacional do Quadrinho (30 de janeiro), conheça autores que dão vida a desenhos que simbolizam força e resistência e que foram construídos com base na história mitológica de antepassados.

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Paulo Teles Yonami

Natural de Manaus, capital do Amazonas, o cartunista Paulo Teles, de 36 anos, conhecido como Yonami, é desenhista de quadrinhos há cerca de 18 anos. Em 2020, o artista foi anunciado oficialmente como um dos desenhistas colaboradores da Marvel, que é detentora do direito de imagens de personagens icônicos como Homem-Aranha, Capitão América e Homem de Ferro.

Paulo Teles Yonami em evento com cosplayers. (Arquivo Pessoal/ Reprodução)

“Sempre trabalhei com HQs de forma independente. Comecei fazendo ilustrações em matérias de jornais, depois comecei a trabalhar com publicidade, época que fui para os quadrinhos de uma vez. Estudei na Quanta Academia de Artes, trabalhei em editoras como a Marvel, DC, TidalMate e hoje estou trabalhando na TidalWave”, contou Yonami à REVISTA CENARIUM.

Veja também: Desenhista amazonense participa de projeto da Marvel, nos EUA

O cartunista é autor das séries “The Midnith Witch (A Bruxa da Meia-Noite, na tradução para o português)”, que faz referência a mitos, contos e diversas culturas pelo mundo em uma graphic novel, que é um tipo de banda desenhada publicada no formato de livro. Além dela, Yonami é autor de “Amazônidas – Guardiões das Florestas”, que transforma figuras mitológicas indígenas em personagens de histórias em quadrinhos.

The Night Witch (A Bruxa da Meia-Noite) – (Paulo Teles Yonami)

De 2012 até 2019, Yonami agenciou desenhistas como Ronilson Freire, Carlos Furuzono e trabalhou com Mike Deodato Jr, Will Conrad, Luke Roise, Fábio Laguna, junto a editoras como a Marvel e DC Comics. Recentemente, o artista também trabalhou com ilustrações publicitárias para times de basketboll da NBA, principal liga americana de basquete, como o do Boston Celtics.

Atualmente, Paulo Teles Yonami tem focado o trabalho para produções de capas e ilustrações, além da coordenação da equipe dele no estúdio House 137, com produção de quadrinhos para editoras como a Graphic India e Tidal Wave Productions.

Leon Sarmento

Leon Sarmento, de 27 anos, é um cartunista, quadrinhista e designer amazonense. Co-autor da história em quadrinho Super Vovô, o artista é fã do mundo Geek e apaixonado por personagens como Batman, Superman, Elektra, Demolidor e Homem de Ferro.

Leon Sarmento é cartunista e desenhista. (Arquivo pessoal/ Reprodução)

O cartunista conta que começou a desenhar ainda na infância, quando assistia a animações japonesas como o anime Dragon Ball Z. Com as produções, Leon ganhava dinheiro, isso porque vendia os desenhos para comprar lanches. Atualmente, o artista é colaborador da equipe Geek One, em Manaus.

Inspirado no dia a dia da população nas ruas de Manaus, Leon Samento, junto com o artista Guto Nery Medeiros, criou o personagem Super Vovô, cuja história retrata um homem idoso que age como um justiceiro na capital amazonense e vende picolé pela cidade nas horas vagas.

Super Vovô. (Arte: Leon Sarmento)

Além do Super Vovô, Leon Samento também é autor do jogo de RPG “Ubiratã”, que faz uma homenagem à cultura amazônica, à mitologia indígena e ao folclore brasileiro. O game mostra o conto de Guaraci, o deus Sol que, mesmo casado com a deusa da Lua, Jaci, vive um romance escondido com Êêma, uma indígena de beleza encantadora do povo Sateré-Mawé.

Veja também: Ubiratã: jogo baseado na mitologia indígena destaca personagens do folclore brasileiro

Segundo a lenda, Guaraci e Êêma têm uma filha chamada Baômi, que cresce como uma criança prodígio e descobre na juventude os poderes semideuses. O jogo é acompanhado de um livro, resultado de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Design Gráfico do ilustrador Leon Sarmento, feito em parceria com mais três pessoas.

Emerson Medina e Romahs Mascarenhas

O roteirista e jornalista Emerson Medina e o desenhista Romahs Mascarenhas são os autores do quadrinho amazonense “A Última Flecha”, que retrata uma história de vingança originada a partir do extermínio de um povo indígena. A graphic novel foi selecionada como uma das 100 maiores obras da década ao entrar para o Catálogo HQ Brasil da Bienal de Curitiba, compilando os trabalhos mais relevantes produzidas no Brasil entre 2010 e 2019.

Quadrinho é de autoria do desenhista Romahs Mascarenhas (esq.) e do roteirista Emerson Medina (dir.) (Arquivo/ Divulgação)

Em entrevista à REVISTA CENARIUM, Medina contou sobre os trabalhos produzidos por ele. “Eu já fiz fanzines nos anos 1990 e fui do Clube de Quadrinheiros de Manaus (CQM). Em 2019, lancei, com o Romahs Mascarenhas “A Última Flecha”, graphic novel sobre vingança ambientada em Manaus. Ela foi indicada em 2020 ao Prêmio Aberst e ao HQMIX 2020. Este é o maior prêmio nacional de quadrinhos. Ela também entrou no Guia Brasil de Quadrinhos, com as 100 HQs brasileiras de destaque da década. É um material bilíngue – francês e inglês – distribuído para as embaixadas brasileiras no exterior”, reforçou.

Emerson Medina destaca que tem buscado espaço no cenário de histórias em quadrinhos no Amazonas e no Brasil. Para o cartunista, mesmo com o quadrinho nacional sendo um nicho dominado por mangás, Marcel e DC, as HQs têm crescido a cada ano.

“Estamos em busca desse espaço. Temos uma cena de produção no Amazonas. Queremos chegar aos leitores de Norte a Sul. Os profissionais vão conseguindo espaços em outros mercados. Romahs e a filha Beatriz Mascarenhas são roteiristas da MSP (Maurício de Souza Produções – Turma da Mônica). Ademar Vieira foi para São Paulo trabalhar com roteiros. A Sâmela Hidalgo é editora de quadrinhos de uma grande editora em SP e por aí vai”, frisou.

Romahs Mascarenhas (à esq.) em foto com Maurício de Souza, criador de A Turma da Mônica. (Arquivo/ Reprodução)
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