Senador condenado por enriquecimento ilícito deixará cargo para assumir vaga no TCE-RR
Por: Gabriel Abreu
22 de agosto de 2025
BOA VISTA (RR) – O senador Mecias de Jesus (Republicanos) deixará o cargo para assumir uma cadeira de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Roraima (TCE-RR) após ser eleito para a vaga na tarde dessa quinta-feira, 21, na Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR). Indicado pelo governador cassado Antonio Denarium (Progressistas), aliado político no Estado, Mecias foi condenado em 2022 pela Justiça Federal por enriquecimento ilícito no caso que ficou nacionalmente conhecido como o “Escândalo dos Gafanhotos“.
Nas redes sociais, ele comemorou a aprovação dizendo que assume a missão com seriedade e que gestores públicos precisam de responsabilidade no uso dos recursos públicos. Ele recebeu 22 votos dos 23 parlamentares presente na sessão. A indicação foi analisada por uma Comissão Especial formada composta pelos parlamentares Soldado Sampaio (Republicanos), Marcos Jorge (Republicanos), Jorge Everton (União), Renato Silva (Podemos) e Chico Mozart (Progressistas).
“Fui aprovado pela Assembleia Legislativa para assumir como conselheiro do TCE-RR. No Senado, trabalhei por energia, saúde, educação, segurança, agricultura e direitos sociais. Levarei essa experiência para fiscalizar cada recurso da União em um Estado marcado pela crise migratória“, publicou o parlamentar nas redes sociais.
Mecias de Jesus assumirá o cargo de conselheiro do TCE-RR com salário superior a R$ 39 mil mensais. O cargo é vitalício, com aposentadoria prevista apenas aos 75 anos. Nas redes sociais, o senador afirmou que continuará comprometido com a transparência e os resultados em Roraima. “Assim como lutei pelo Linhão de Tucuruí e por recursos que chegaram a hospitais, escolas e estradas”, escreveu.
Em 2018, ele foi eleito senador com 85.366, deixando o arquirrival Romero Jucá (MDB) em terceiro e sem mandato após 24 anos. Naquele pleito, declarou um patrimônio de R$ 644.637,71. Durante o mandato, se aliou ao então presidente Jair Bolsonaro (PL) e ajudou a emplacar o filho Jhonatan de Jesus como ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
O senador assume a vaga deixada pelo conselheiro Manoel Dantas, que se aposentou em junho deste ano. Quem deve assumir a vaga dele no Senado é a enfermeira e cirurgiã-dentista Roberta Leontina Xisto Acioly, de 46 anos.
Polêmicas
O novo conselheiro acumula polêmicas ao longo da carreira. Mantém relações conturbadas com comunidades indígenas, declara apoio ao garimpo em Roraima e sofre críticas de ambientalistas. Além disso, é opositor da demarcação de terras indígenas e autor de diversos projetos de lei controversos que impactam populações tradicionais.
Em fevereiro deste ano, o senador Mecias de Jesus apresentou o Projeto de Decreto Legislativo (PDL) 50/2025, com o objetivo de sustar os efeitos do Decreto 12.373, assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A medida regulamenta o exercício do poder de polícia da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), conferindo-lhe competências como a interdição de áreas, apreensão de bens e restrição de acesso a terras indígenas.
No ano passado, a Polícia Federal (PF) apreendeu R$ 50 mil dentro do carro do senador em Alto Alegre, município no interior de Roraima, onde teve foi realizada uma eleição suplementar. Ele prestou depoimento e foi liberado.

Escândalo dos gafanhotos
O escândalo dos gafanhotos tomou proporções nacionais em 2003 quando a PF deflagrou a Operação Praga do Egito em Roraima. Na ocasião, a PF investigou o desvio de mais R$ 230 milhões de recursos do governo do Estado através de funcionários fantasmas.
Naquela época, Mecias de Jesus atuava como deputado estadual. A esposa dele, Darbilene do Vale, também fez parte do processo. Outros envolvidos no processo eram o sogro de Mecias, Alfonso Rodrigues do Vale, bem como o cunhado Danilvon Rufino do Vale. O processo citou ainda o ex-governador de Roraima Neudo Campos, além de Diva da Silva Bríglia, Carlos Eduardo Levischi, Rosemary Rodrigues Bezerra e Vitor Miguel Soares Neto.
A decisão que condenou o senador determinou que ele foi o único responsável pelo enriquecimento ilícito, obrigando-o ao ressarcimento do dano. Foi estipulada multa civil equivalente ao valor atualizado do prejuízo (R$ 1.908.135,20) e determinada suspensão dos direitos políticos suspensos por cinco anos.

Processo de Escolha
De acordo com a Constituição do Estado de Roraima, o Tribunal de Contas é composto por sete conselheiros. A escolha dos integrantes é feita de forma mista entre os poderes Executivo e Legislativo.
Quatro das vagas são de indicação da Assembleia Legislativa, aprovadas pelo plenário da Casa. As outras três cabem ao governador, sendo que duas delas devem ser escolhidas entre auditores e membros do Ministério Público de Contas (MPC), enquanto a terceira é de livre indicação do chefe do Executivo.
Após a indicação, o nome é submetido à sabatina em comissão especial da Assembleia Legislativa, que emite um parecer. O relatório é, então, encaminhado ao plenário, que delibera sobre a aprovação ou rejeição do indicado. Uma vez aprovado, o novo conselheiro é nomeado e empossado para exercer a função de fiscalização e controle das contas públicas do Estado.
Perfil
Antonio Mecias Pereira de Jesus nasceu em 8 de fevereiro de 1962, em Graça Aranha (MA). Aos 12 anos, se mudou para Roraima, fixando residência em São João da Baliza, e foi em solo roraimense que serviu ao Exército em 1981.
Formado em Gestão Financeira, foi entre 1993 e 1994 vereador do município que o acolheu, além de deputado estadual por seis mandatos consecutivos (1995-2018). Mecias se elegeu senador da República em 2018 e assumiu o mandato em fevereiro de 2019, mas está na política há muitos anos, já que foi deputado estadual por mais de seis mandatos consecutivos.