Senador Omar Aziz foi monitorado pela ‘Abin Paralela’, aponta PF


Por: Ana Cláudia Leocádio

17 de junho de 2025
Senador Omar Aziz foi monitorado pela ‘Abin Paralela’, aponta PF
O senador Omar Aziz (Reprodução/Flickr/Omar Aziz)

BRASÍLIA (DF) – O senador Omar Aziz (PSD-AM) foi um dos parlamentares monitorados pela chamada “Abin Paralela”, durante sua atuação na presidência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19, que funcionou de abril a outubro de 2021, no Senado. As informações constam no relatório da Polícia Federal (PF), um dos documentos que tiveram o sigilo levantado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, nos autos do processo que investiga o uso do sistema de inteligência First Mile, pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para vigiar ilegalmente autoridades, jornalistas e adversários políticos. O ex-deputado Marcelo Ramos (PT-AM) também foi cogitado para ser espionado.

Além de Omar, os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Randolfe Rodrigues (PT-AP), que tiveram forte participação na CPI da Covid, também foram monitorados, assim como o senador Alessandro Vieira (MDB-SE). Conforme a PF, a espionagem dos parlamentares de oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PL), à época, tinha como objetivo descobrir alguma informação que pudesse comprometê-los, embasar notícias falsas e compartilhá-las nas redes sociais.

Contra Omar, a única informação que a “Abin Paralela” conseguiu levantar foi a contratação da empresa Caravelas Consultoria e Comunicação Ltda., do jornalista Otávio Cabral, para o serviço de assessoria e marketing do senador, pelos quais recebeu R$ 30 mil. Cabral é casado com a jornalista Vera Magalhães, outra pessoa que foi monitorada pelo grupo.

Relatório cita ataques de Eduardo Bolsonaro contra Omar Aziz (Reprodução/PF)

A PF cita, por exemplo, uma publicação feita pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) sobre a informação relacionada a Omar e Cabral, que foi republicada por um perfil “amigo” do grupo nas redes sociais chamado @VeritasBureauBR. “O resultado das ações clandestinas produzidas pelo núcleo da estrutura paralela que se apropriou da Abin era devidamente aproveitado por pessoas relacionadas ao núcleo político”, conclui a investigação da PF.

O grupo também sugeriu investigar o então deputado federal Marcelo Ramos (PT-AM), que à época era vice-presidente da Câmara dos Deputados, mas, no relatório, não constam informações sobre a efetividade do propósito.

Conversas entre envolvidos na Abin Paralela citam ex-deputado federal Marcelo Ramos (Reprodução/PF)

“A ação clandestina, desta forma, realizada com a intenção de embaraçar os trabalhos da CPI da Covid foi propagada por meio dos vetores (perfis falsos e perfis cooptados), que por sua vez foi utilizada pelos beneficiários da desinformação relacionados ao núcleo político”, informa um trecho do relatório da PF.

O ataque ao senador Alessandro Vieira também foi orquestrado pelo grupo que utilizavam a estrutura da Abin, uma vez que o senador por Sergipe chegou a pedir a quebra de sigilo e convocação do vereador Carlos Bolsonaro à CPI da Covid do Senado. Ao final, o filho do ex-presidente não chegou a ser convocado.

Conversas inseridas no relatório mostram ataques ao senador Alessandro Vieira (Reprodução/PF)
Alvos no Judiciário e Legislativo

No Poder Judiciário, foram monitorados ilegalmente os ministros do STF, Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luiz Fux e Luís Roberto Barroso. No Legislativo, além dos quatro senadores da CPI da Covid, os arapongas espionaram os deputados federais Kim Kataguiri (União-SP), Rodrigo Maia (PSDB-RJ) e o ex-presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL).

Entre os jornalistas, foram monitorados Vera Magalhães, Mônica Bergamo, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista, assim como os responsáveis pelas agências de verificação “Lupa” e “Aos Fatos”.

Decisão do ministro Alexandre de Moraes levou os agentes da PF a cumprirem, na quinta-feira da semana passada, 11, quatro mandados de prisão e sete de busca e apreensão nas cidades de Brasília (DF), Curitiba (PR), Juiz de Fora (MG), Salvador (BA) e São Paulo (SP).

Os mandados envolvem servidores públicos investigados pelo uso ilegal da estrutura da Abin, como computadores, telefones e infraestrutura de telecomunicações para monitorar autoridades, civis e agentes públicos. Foram decretadas as prisões dos servidores Mateus de Carvalho Sposito, Richards Dyer Pozzer, Rogério Beraldo de Almeida (foragido), Marcelo Araújo Bormebet e Giancarlo Gomes Rodrigues.

PF indicia Bolsonaro, filho e deputado

Após concluir o inquérito da Abin Paralela, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, o filho, vereador Carlos Bolsonaro, e o ex-presidente da agência, Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Além do trio, o relatório da PF aponta outros 27 indiciados. Na lista estão nomes que ocupam cargos atuais na Abin, como o diretor-geral da Abin Luiz Fernando Corrêa, o chefe de gabinete Luiz Carlos Nóbrega e o corregedor-geral José Fernando Chuy. Todos são delegados de carreira da Polícia Federal e foram nomeados ao cargo no governo Lula.

De acordo com a PF, a estrutura da Abin Paralela produziu o dossiê de forma ilegal e atuou para disseminar notícias falsas sobre pessoas da cúpula do Judiciário e do Legislativo. Além disso, milhares de pessoas também foram monitoradas de forma clandestina, assim como autoridades da cúpula dos três Poderes, e, por meio de dados coletados de aparelhos celulares, era possível identificar o último local frequentado pela pessoa monitorada.

Leia o relatório da PF:
Leia mais: Governo federal demite servidores da Abin presos por espionagem ilegal
Editado por Adrisa De Góes

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