Senadores do Pará divergem sobre PL do licenciamento ambiental


Por: Fabyo Cruz

20 de maio de 2025
Senadores do Pará divergem sobre PL do licenciamento ambiental
(Composição: Paulo Dutra/CENARIUM)

BELÉM (PA) – A Comissão de Meio Ambiente (CMA) do Senado aprovou, na manhã desta terça-feira, 20, o Projeto de Lei 2.159/2021, que institui uma nova Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Apelidado por entidades socioambientais de “PL da Devastação”, o texto flexibiliza as regras para a autorização de empreendimentos com potencial de impacto ambiental e pode dispensar o licenciamento em diversas situações. A proposta gerou reação de ambientalistas, que alertam para ameaças às comunidades tradicionais, e mostrou as divergências entre os senadores do Pará: enquanto Zequinha Marinho (Podemos) atua como defensor do projeto, Beto Faro (PT) foi um dos únicos parlamentares a votar contra.

O projeto foi aprovado de forma simbólica na CMA, com votos contrários apenas de três senadores: Beto Faro, Jaques Wagner (PT-BA) e Eliziane Gama (PSD-MA). Mais tarde, no mesmo dia, a proposta avançou também na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA), presidida por Zequinha Marinho. A expectativa é de que a votação no plenário ocorra na quarta-feira, 21.

Durante a reunião da CMA, Beto Faro reconheceu o esforço do relator Confúcio Moura (MDB-RO), mas criticou a tramitação acelerada e apontou inconstitucionalidades no texto. “Nós do PT não fizemos obstrução, temos tentado dialogar para melhorar. Mas é preciso verificar a constitucionalidade de algumas matérias. Sob pena de aprovarmos um projeto que depois será questionado no STF ou vetado pelo presidente da República”, afirmou. O senador paraense também demonstrou preocupação com o artigo que autoriza a Licença por Adesão e Compromisso (LAC) para projetos de médio impacto, o que, segundo ele, “criará conflitos entre estados e abrirá uma guerra federativa”.

O senador Beto Faro (PT-PA) (Alessandro Dantas/Flickr)

Do lado oposto, Zequinha Marinho se posicionou como um dos principais defensores do projeto. “O Brasil precisa andar. Há quanto tempo esse projeto está rolando? Mais de 20 anos. A legislação ambiental hoje atrapalha. É muita norma, muita burocracia. Precisamos de uma legislação que não emperre o país”, declarou. Zequinha também citou como exemplo o caso do Pedral do Lourenço, no rio Tocantins, cujo licenciamento está parado há mais de uma década. “Era para já estar funcionando há anos”, disse o senador, argumentando que a proposta pode destravar obras de infraestrutura e atrair investimentos.

O senador Zequinha Marinho (Reprodução/Agência Senado)
Crítica de ambientalistas

O Instituto Socioambiental (ISA) publicou, na véspera da votação, uma nota técnica com duras críticas ao texto. O documento afirma que o PL representa uma ameaça direta à integridade de mais de 3 mil áreas protegidas no Brasil — incluindo 259 Terras Indígenas e mais de 1,5 mil Territórios Quilombolas. Segundo o ISA, esses territórios “deixarão de existir” para fins de licenciamento, abrindo caminho para empreendimentos sem qualquer consulta às populações afetadas.

“Mexer no licenciamento ambiental é mexer na base de sustentação ecológica do País”, alerta o pesquisador Antonio Oviedo, do ISA. A entidade também aponta que o PL reduz a avaliação de impactos indiretos e enfraquece a exigência de compensações e condicionantes ambientais, abrindo brechas para o avanço do desmatamento ilegal, da grilagem e da violência no campo.

Um estudo de caso incluído na nota técnica revela que, das 277 áreas protegidas impactadas por 75 obras previstas no novo PAC para a Amazônia Legal, apenas 102 continuariam sob proteção com o novo modelo. A diferença representa cerca de 18 milhões de hectares de floresta, o equivalente ao território do estado do Paraná.

Além das consequências ambientais e sociais, o ISA também alerta para os riscos econômicos. A ausência de critérios claros e a exclusão de territórios em processo de regularização do processo de licenciamento podem elevar a judicialização e comprometer a segurança jurídica de projetos, gerando prejuízos bilionários no longo prazo.

Leia mais: Senado deve finalizar votação sobre novo marco do licenciamento ambiental
Editado por Adrisa De Góes

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