Ser mulher no Brasil equivale a viver em uma zona de guerra

Ser mulher no Brasil é um terror sem fim. Sempre afirmo isso nos artigos que escrevo. O feminismo ainda luta por direitos civis básicos. Ainda fazemos barulho e gritamos para que nossos direitos sejam garantidos e respeitados. Brigamos pelo mínimo. Ainda lutamos para sermos vistas além do sexo, além de um objeto. Ainda brigamos para que sejamos tratadas como seres humanos. Não queremos ser divindades, não queremos ser algo sagrado ou venerado, só queremos ser reconhecidas como cidadãs constituídas de direitos, apenas isso.

Quando eu digo que o Brasil é um dos piores países para ser menina e se criar uma menina eu tenho dados assustadores que comprovam isso. Não são falácias, são estatísticas.

O Brasil é o pior país da América do Sul para ser menina.

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É o pior país da América Latina para se criar uma menina.

É o quarto país no mundo em casos de casamento infantil.

O Brasil está entre os piores países do mundo para ser menina, segundo a ONG Save The Children. Nosso país aparece até mesmo atrás de nações como o Sudão, Iraque, Índia e Síria.

O Brasil é o segundo pior país para mulheres visitarem sozinhas.

Nosso país é o quinto país que mais mata mulheres de forma violenta no mundo, é o quinto em taxa de feminicídio, e olha que somos um Estado Laico.

A cada hora no Brasil mais de 500 mulheres são agredidas. A cada 7 hora é registrado um caso de feminicídio. Uma mulher aqui tem mais chances de morrer por agressão do que por câncer, que é uma das principais causas de óbitos femininos no Brasil.

Mulher é oprimida com base no seu sexo e essa opressão é estrutural, todas as mulheres do mundo estão englobadas nessa análise. Todas.

Eu sei que as vezes posso até me tornar repetitiva, mas não há como não o ser. Já perdi as contas das vezes que escrevi sobre feminicídio e nunca vou me cansar de falar sobre algo tão macabro e cruel, não vou jamais deixar que normalizem o assassinato de uma mulher, nunca. Mulheres morrem só pelo seu gênero, só por serem mulheres, e até tipificaram o crime, deram até um nome para algo que tanto ocorre em nosso país, feminicídio.

Durante a pandemia da Covid-19 os casos de feminicídios triplicaram pelo país, foi assustador e ainda está sendo.

Durante a crise sanitária o país teve um aumento de 22 por cento nos casos de feminícidio.

A cada sete horas uma mulher foi assassinada durante a pandemia no Brasil em 2020.

Em São Paulo, os assassinatos de mulheres aumentou 41 por cento, em alguns estados ultrapassou a marca surreal de 300 por cento como é o caso do Acre, no Pará aumentou 40 por cento.

O Acre tem a maior taxa de feminicídio do país, é um dos estados brasileiros mais violentos para as mulheres.

A Lei Maria da Penha, existente no Brasil desde 2006, é reconhecida pela ONU como uma das mais avançadas legislações do mundo para enfrentar a violência doméstica, mas infelizmente a Lei não tem a eficácia que deveria e isso atrapalha muito.

A Lei esbarra na falta de celeridade para as vítimas conseguirem medidas protetivas e para a conclusão do inquérito. Muitas delegacias especializadas não funcionam na madrugada e nem nos finais de semana, surreal.

Em 2015, outro passo importante foi dado com a Lei do Feminicídio, que o qualificou como crime hediondo.

O órgão do ministério da mulher vem sofrendo desmonte desde 2015, foi reduzido de 119 milhões para 5,3 milhões.

Sem contar que temos à frente de nossa pasta uma mulher totalmente despreparada, sem a menor capacidade técnica para comandar o ministério da mulher. A ministra Damares já teve a loucura de realizar uma live  fazendo um bolo para tratar da violência contra a mulher. Parece loucura, mas isso ocorreu sim em nosso país. Ela também já chegou a dizer, quando foi questionada sobre se possuía graduação na área, que tinha sim, pois Deus havia lhe dado.

Isso não é um filme de terror e nem um pesadelo que você pode acordar a qualquer momento, esse é o país de Bolsonaro para uma mulher viver.

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(*)Regiane Pimentel é bacharel em direito, ativista social e feminista amazônida.

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