Sexta-feira Santa: saiba como fazer pratos tradicionais com peixes da região amazônica
07 de abril de 2023
É possível substituir opções como bacalhau, atum e salmão por pratos “mais em conta”, tão saborosos quanto e com um gostinho amazônico. (Reprodução/ Pobre Juan - Rodrigo Azevedo)
Iury Lima – Da Revista Cenarium
VILHENA (RO) – A tradição da Sexta-Feira Santa, celebrada hoje, 7, orienta a comer peixes no lugar de carne vermelha. O problema é que muitas pessoas querem economizar, sem abrir mão de uma mesa tradicional. Mas é possível substituir opções como bacalhau, atum e salmão por pratos “mais em conta”, tão saborosos quanto e com um gostinho amazônico.
Nesta Sexta-feira da Paixão, a REVISTA CENARIUM explica o significado por trás da celebração, o porquê é tão tradicional comer peixe no lugar de carnes vermelhas e traz dicas de como aproveitar e valorizar a culinária da região amazônica.
Pirarucu e tambaqui são ótimas alternativas para a mesa da Sexta-Feira Santa, indica chef de cozinha (Foto: Reprodução)
Evitar o consumo de todo o tipo de carne vermelha entre a Quaresma e a Semana Santa, período que antecede a Páscoa, é uma tradição milenar dos católicos e cristãos. Na prática, é uma espécie de “abstinência” em respeito ao sangue de Jesus Cristo, derramado durante o sacrifício em favor da humanidade, como descreve a igreja.
O padre da Paróquia Santa Teresa, localizada em Tefé, no interior do Amazonas, Helio Rafael Benedetti, explica que o ideal abrir é mão até mesmo do peixe, mas que a tradição não proíbe o consumo, que é considerado, nesta data, como um símbolo que remete à vida.
“Na Sexta-feira Santa ou Sexta-feira da Paixão, a igreja recorda o dia em que Jesus morreu. É a morte de Jesus que salvou a humanidade, por isso, a igreja pede que os fiéis façam jejum de carne vermelha”, detalha o líder religioso.
“O jejum mostra que podemos viver sem alguma determinada coisa, que podemos viver equilibradamente sem carne vermelha, sem outro tipo de alimento ou situação. É a virtude da temperança. Ou seja, posso viver sem tal coisa, só não posso viver sem Deus”, acrescentou Benedetti, afirmando, ainda, que há todo um contexto que leva a entender a importância desse momento, já que além do Jejum, vem a oração e a caridade como complementos.
Pe. Helio Benedetti lembra que a Semana Santa é um período de devoção, reflexão, renúncia e agradecimento (Reprodução/Acervo Pessoal)
“Se vamos economizar com a carne, podemos ajudar os mais pobres, as pessoas que, de repente, não têm carne o ano inteiro, o dinheiro para comprar peixe ou, ainda, para o básico. Não devemos só deixar de comer, mas também devemos ajudar ao próximo e rezar para celebrar esse dia tão importante em que o grande amor de Deus nos salvou”, declarou o padre.
Apaixonado pelos ingredientes produzidos e cultivados no maior bioma brasileiro, o chef de cozinha Pedro Bagattoli defende que os peixes amazônicos são tão deliciosos e apreciados quanto as carnes nobres de bacalhau, atum e salmão, por exemplo, espécies comumente consumidas nesta época do ano.
A dica do chef é substituí-los por pirarucu e tambaqui. “A carne dos peixes utilizados para o processo do bacalhau tem uma característica muito parecida com a do Pirarucu, por ser uma carne fibrosa, que se solta em lascas”, aponta Bagattoli.
Chef Pedro Bagattoli se descreve um “representante da Culinária Amazônia” (Reprodução/Acervo Pessoal)
“Quando se fala em algo que compare peixe amazônico com bacalhau, o pirarucu é muito considerado por dois motivos. O primeiro é a textura do peixe e, o segundo, quando é preparado seco, salgado para ser armazenado. A carne vai amarelando, ficando com cheiro e um sabor muito similares ao do bacalhau”, explicou à reportagem. “Com a dessalga do pirarucu, todo o líquido do peixe é retirado, o que intensifica esse sabor. Por isso, ele é muito comparado com o bacalhau”, acrescentou.
Para Bagattoli, a substituição de atum e salmão, espécies de carne mole e “que muita gente gosta”, pelo tambaqui é uma boa pedida. “É uma carne bem leve, mais mole, então se assemelha”.
Confira a receita pirarucu para a Sexta-Feira Santa
Veja como preparar um belo prato com pirarucu nesta Sexta-Feira da Paixão (Pedro Bagattoli/ Reprodução)
Culinária regional
Pedro Bagattoli acrescenta também que, para ele, o que diferencia a Amazônia do resto do mundo é o “sabor exótico” da Culinária Amazônica.
“O que me deixa cada vez mais motivado, é que quando se fala em Amazônia, as pessoas param para te ouvir. E, a culinária, os sabores que vêm do bioma são únicos, você só os encontra presentes naqueles ingredientes. Não há nenhum insumo que eu me lembre que se pareça com os que temos aqui. Essa particularidade é o que mais me encanta e me faz enxergar com bons olhos essa utilização de ingredientes”, contou.
O chef se descreve como um representante da culinária da região. “Também tem o fato, lógico, de ser nascido e criado aqui e esse é o mínimo que eu devo fazer como uma pessoa nativa dessa terra e que dela tira seu ganha-pão”, destacou, por fim.
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