Símbolos sagrados do povo amazônico Sateré-Mawé são retratados por mural em Parintins, no AM
23 de março de 2021
Mural em alto-relevo produzido pelos artistas de Parintins retrata o mundo, os mitos, os ritos e a cosmologia do universo Sateré-Mawé (Reprodução/Sther Alexia)
Mencius Melo – Da Revista Cenarium
MANAUS – O povo Sateré-Mawé, predominante do Baixo Amazonas, está sendo retratado em seus mais sagrados símbolos no mural da escola pública Tomazinho Meirelles no município de Parintins (distante de 369 quilômetros de Manaus). O trabalho artístico foi produzido pelo Coletivo Buriti. O projeto demorou duas semanas para ficar pronto e é resultado da Lei Aldir Blanc.
O projeto “Mural Grafismo” foi contemplado pelo Prêmio Encontro das Artes, que faz parte das ações emergenciais da Lei nº 14.017/2020, conhecida como Lei Aldir Blanc. O edital foi coordenado e conduzido no Estado pelo Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa (SEC).
A Equipe do Coletivo Buriti dialogou com o universo Sateré-Mawé para retratar sua cultura a partir da simplicidade e do bom gosto do grafismo em alto-relevo (Reprodução/Sther Alexia)
O mural foi construído em alto-relevo e leva a assinatura dos artistas Denildo Teixeira e Adval Bitencourt. No trabalho dos artistas estão contidos esteios culturais do mundo Sateré entre eles o “Ritual da Tucandeira”, rito de passagem dos ‘curumins’ Sateré-Mawé para a fase adulta; O “Sagrado Porantim”, totem em forma de remo que abriga tradições culturais dos Mawé.
Guaraná
Além dos dois, o mural contempla ainda “A Lenda do Guaraná”. Um dos mais conhecidos mitos amazônicos. O guaraná, bebida refrigerante muito popular no Brasil, tem origem na narrativa Sateré-Mawé sobre a criação de um fruto a partir dos ‘olhos de uma criança’ que fora mordida por uma serpente.
De acordo com a produtora Rafaela Pimentel, que divide o projeto com Idevan Souza e Levi Gama, a ideia é esmiuçar o sentido e os significados do grafismo. “Queremos inserir na sociedade a mesma importância que os indígenas dão aos grafismos. A perspectiva é que as pessoas possam entender sobre a sua própria cultura”, adiantou.
“Porque o que as sabem é que existem etnias e aldeias, mas desconhecem o que, de fato, fazem parte de nós”, contextualiza Rafaela Pimentel. “No mural, explicamos cada simbolismo em um círculo, que traz o grafismo na borda e o que o significado no centro”, detalhou a produtora.
O Clã da Lagarta
Como retratar o universo cultural de um povo exige responsabilidade, cuidado e principalmente respeito, o Coletivo Buriti contou com a consultoria do líder Josias Sateré, da Associação dos Kapi e das Lideranças Tradicionais do Povo Sateré-Mawé. Josias é do Clã da Lagarta da aldeia Ponta Alegre, da Terra Andirá-Marau.
“Ele esteve à frente no núcleo de pesquisa, nos auxiliou e orientou na organização, porque não somos Sateré. A participação da liderança foi muito importante, porque nos deu a liberdade para entender e executar esse projeto”, destacou Rafaela Pimentel. “Tivemos retorno por meio da sociedade, foi impactante. É especial para nós, pequenos artistas”, observou.
O muro da escola pública estadual Tomazinho Meirelles recebeu o projeto contemplado pela Lei Aldir Blanc em Parintins, interior do Amazonas (Reprodução/Sther Alexia)
O consultor Josias Sateré avaliou que a técnica do grafismo é necessária para se entender o mundo, hábitos e comportamentos dos indígenas em um formato simples de maneira comunicativa e fácil de compreender. “Para mim, participar do grafismo é muito bom, por poder contar a história do meu povo”, finalizou o líder Mawé.
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