Sobrevivente da Ditadura, líder indígena denuncia racismo em restaurante no RJ


Por: Fabyo Cruz*

02 de julho de 2025
Sobrevivente da Ditadura, líder indígena denuncia racismo em restaurante no RJ
Timei Awaete Assurini do Xingu vive no Pará e estava de passagem pelo Rio de Janeiro (Reprodução/Redes Sociais)

BELÉM (PA) – O indígena Timei Awaete Assurini do Xingu, presidente do Instituto Janeraka, no Pará, denunciou ter sido vítima de racismo no restaurante Frontera, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, no dia 26 de junho. Segundo o relato, ele foi ofendido por um funcionário do estabelecimento, que se referiu a ele com termos pejorativos como “índio do pica-pau” e de “madeira”, enquanto almoçava com sua companheira, Carla Romano.

Timei foi ao Rio para receber o Prêmio Cunhambebe Tupinambá, concedido pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e pelo Ministério da Cultura (Minc), por sua atuação na luta pela decolonização dos acervos do seu povo e pela reconstrução do Museu Nacional. Ele é originário da aldeia Assurini, em Altamira (PA), e é considerado um indígena de contato recente, sobrevivente da violência contra povos originários durante a ditadura militar.

O episódio aconteceu enquanto o casal se servia no buffet. Ao ouvir a ofensa, Carla questionou o funcionário, que teria respondido com grosseria. “Racismo é crime e ele deveria ter outra postura, principalmente no local de trabalho”, disse ela, segundo o relato de Timei. O churrasqueiro ainda teria alegado ter ascendência indígena, o que gerou mais indignação. Carla teria respondido: “Por isso mesmo deveria ter mais respeito à ancestralidade”.

Timei Awaete Assurini do Xingu é presidente do Instituto Janeraka (Reprodução/Redes Sociais)

De acordo com a denúncia, uma funcionária inicialmente apresentada como gerente tentou contornar a situação, oferecendo isenção da refeição e sobremesa como forma de reparação. No entanto, o casal relatou comportamento contraditório da equipe. O funcionário que aplicou a suspensão ao churrasqueiro se apresentou posteriormente como gerente-geral e disse que os dados dos envolvidos seriam repassados após a chegada dos advogados da empresa, o que, segundo o casal, não ocorreu.

Carla relatou ainda que mensagens, documentos e conversas enviadas via WhatsApp foram apagadas pelos gerentes. “Agiram de má fé após o contato com os advogados”, afirmou. Parte das mensagens, no entanto, foi salva.

Impossibilitados de comparecer à delegacia no dia da ocorrência, Timei e Carla tentaram registrar a denúncia pelo Disque 100, mas as ligações não foram completadas. Também não conseguiram contato pelo número da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

A denúncia só pôde ser formalizada por meio do canal 1746 da Prefeitura do Rio. O caso foi registrado com os protocolos RIO-30907192-0 (1746) e N962-00299/2025 (Decradi). Até o momento, o restaurante envolvido não se manifestou publicamente sobre o caso.

Leia mais: ‘Racismo ambiental’, diz liderança de favela sobre projetos da COP30

(*) Com informações do Projeto Partitude

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