Suicídio indígena: dolorosa realidade nas aldeias da Amazônia

Indígena com o rio no fundo da imagem. (Ricardo Oliveira/ Cenarium)

Náferson Cruz – Revista Cenarium

MANAUS – Dados parciais de suicídio e mortalidade na infância indígena obtidos por meio do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil, recentemente, publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), apontam o registro de 133 suicídios em todo o País em 2019; 32 a mais que os casos registrados em 2018. Os Estados do Amazonas e Mato Grosso do Sul registraram as maiores quantidades de ocorrências, 59 e 34 respectivamente.

O documento também denuncia que, em 2019, foram registrados 256 casos de invasões possessórias, exploração ilegal de recursos naturais e danos diversos ao patrimônio, em pelo menos 151 terras indígenas, de 143 diferentes povos. Esse total é mais do que o dobro do número registrado em 2018, quando tivemos um total de 111 casos.

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No ranking dos Estados com maior número de incidência de invasões de terras indígenas, o Amazonas ocupa a primeira posição com 56 registros. O Maranhão vem em seguida com 42 registros. Pará com 36 e os Estados de Mato Grosso e Rondônia, ambos com 21 casos.

A Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja) chegou a encaminhar denúncia ao coordenador técnico da Fundação Nacional do Índio (Funai) sobre o avanço da atividade garimpeira no rio Jutaí, sudoeste do Amazonas. A região, conhecida como Jutaizinho, fica próxima à Aldeia Jarinal, onde vivem os Tsohom Dyapa, famílias Kanamari, além de haver o registro de que indígenas isolados vivem naquelas redondezas.

O documento que reitera o retrato de uma realidade extremamente perversa e preocupante do Brasil indígena chama atenção de representantes indígenas. Eliésio Marúbo, advogado e representante da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), critica o governo federal pelo o que está acontecendo com os povos indígenas.

“O governo federal incentiva o pessoal do agronegócio a queimar e a ocupar área irregularmente. Pouco tempo atrás, o presidente Bolsonaro disse que iria regularizar toda pessoa que tivesse dentro de terra demarcada em área de proteção ambiental, portanto, o governo federal está patrocinando essas atrocidades, estamos vendo animais mortos, pessoas perdendo casas e aldeias sendo queimadas, tudo isso por conta da política criada e gerenciada pelo próprio presidente”, disse o indígena.

Os recorrentes problemas sociais indígena também foram lamentados pelo ativista e vice-coordenador da Coordenação das Organizações dos Povos Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Mário Nicácio Wapichana. Em conversa com a REVISTA CENARIUM, em agosto deste ano, o representante diz que os povos indígenas sofrem constantes violações referente a seus direitos. “Praticamente estamos em luto, pois todas essas máculas tiram a história do nosso território, temos que refletir sobre a nossa luta e resistência para garantir nossa própria vida e da geração futura”, comenta Wapichana.

Conflitos territoriais

O Cime em seu relatório também aponta para o aumento de registros de casos de conflitos relativos a “direitos territoriais”, foram 35 casos, sendo eles nos Estados do Acre (3), Alagoas (1), Amazonas (5), Espírito Santo (1), Maranhão (2), Mato Grosso (1), Mato Grosso do Sul (10), Pará (2), Paraná (1), Pernambuco (1), Rio Grande do Sul (2), Roraima (3), Santa Catarina (2) e São Paulo (1). Em 2018, haviam sido registrados 11 casos de conflitos, três vezes a menos que o total de 2019.

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