Super-ricos emitem em um dia carbono que metade da humanidade gera em um ano


Por: Fred Santana

29 de outubro de 2025
Super-ricos emitem em um dia carbono que metade da humanidade gera em um ano
Análise revela que o bilionário médio gera 1,9 milhão de toneladas de CO₂ por ano apenas por meio de seus investimentos ( Ralf Vetterle/Pixabay)

MANAUS (AM) – Às vésperas da COP30, que será realizada em Belém (PA), a Oxfam Internacional divulgou um relatório sobre a desigualdade climática global. O estudo, intitulado Saque Climático: como poucos poderosos estão levando o planeta ao colapso, aponta que uma pessoa pertencente ao 0,1% mais rico do planeta emite, em apenas um dia, mais carbono do que a metade mais pobre da população mundial em um ano inteiro.

Segundo a organização, se todos emitissem como esse grupo ultrarrico, o orçamento global de carbono – limite de emissões que ainda permite evitar um colapso climático – seria esgotado em menos de três semanas.

“Os indivíduos mais ricos do planeta financiam e lucram com a destruição do clima, enquanto a maioria da população mundial paga o preço das consequências fatais do seu poder sem controle”, afirmou Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.

A análise revela que o bilionário médio gera 1,9 milhão de toneladas de CO₂ por ano apenas por meio de seus investimentos, o equivalente a dar quase 10 mil voltas ao redor do mundo em um jato particular. “É um absurdo que tamanho poder e riqueza estejam concentrados nas mãos de poucos – e que eles usem isso para manter sua influência e nos empurrar rumo à destruição planetária”, acrescentou Behar.

60% dos investimentos dos bilionários estão aplicados em setores de alto impacto climático (FreeP!k)

De acordo com o relatório, 60% dos investimentos dos bilionários estão aplicados em setores de alto impacto climático, como petróleo, gás e mineração, cujas carteiras de investimento emitem duas vezes e meia mais carbono que o investimento médio global. “Esses super-ricos e as corporações que comandam têm um histórico mortal de financiar lobistas, espalhar desinformação e processar ONGs e governos que tentam detê-los”, destacou o dirigente.

Lobby e influência política dos grandes emissores

A Oxfam denuncia que o poder econômico e político concentrado nas mãos de poucos tem distorcido políticas públicas e enfraquecido negociações climáticas em todo o mundo. Durante a COP29, por exemplo, foram concedidas 1.773 credenciais a lobistas dos setores de carvão, petróleo e gás, mais do que o total de representantes dos dez países mais vulneráveis ao clima.

“Os super-ricos utilizam sua fortuna para garantir influência desproporcional sobre governos e instituições. É essa dinâmica que bloqueia a transição justa e mantém a humanidade dependente dos combustíveis fósseis”, reforça o documento.

A Oxfam também aponta que países ricos e grandes emissores, como Estados Unidos, Reino Unido, França e Alemanha, afrouxaram suas leis climáticas após receberem grandes doações de grupos contrários à ação ambiental.

Desigualdade climática no Brasil

No contexto brasileiro, a diretora-executiva da Oxfam Brasil, Viviana Santiago, alerta que as desigualdades do País refletem o quadro global. “A crise climática é também uma crise de desigualdade profundamente enraizada no Brasil. Os mais ricos, muitos ligados a setores poluentes como o agronegócio e a extração de recursos, emitem centenas de vezes mais do que a maioria da população”, disse.

Ela ressalta que comunidades periféricas, indígenas, quilombolas e lideradas por mulheres negras sofrem as piores consequências. “São elas que enfrentam enchentes, calor extremo e falta de serviços básicos, num claro exemplo de racismo ambiental”, pontuou Santiago.

A Oxfam calcula que as emissões do 1% mais rico do mundo devem causar 1,3 milhão de mortes relacionadas ao calor até o fim do século, além de gerar US$ 44 trilhões em danos econômicos a países de baixa e média renda até 2050.

Comunidades periféricas, indígenas, quilombolas e lideradas por mulheres negras sofrem as piores consequências (Paulo Pinto/Agencia Brasil)

‘Precisamos quebrar o controle dos super-ricos’

Com a COP30 marcando dez anos do Acordo de Paris, a Oxfam pede ações urgentes para conter o poder dos grandes poluidores e reverter o desequilíbrio climático. “Precisamos quebrar o controle dos super-ricos sobre a política climática: taxar suas fortunas, proibir seu lobby e colocar as populações mais afetadas no centro das decisões”, defendeu Behar.

A entidade propõe medidas como taxar grandes fortunas e lucros excessivos, limitar a influência política das corporações de combustíveis fósseis, fortalecer a participação de comunidades indígenas nas negociações e construir um sistema econômico que coloque as pessoas e o planeta em primeiro lugar. “Se quisermos evitar um colapso climático total, os mais ricos precisam ser os primeiros a reduzir suas emissões – e mais depressa”, conclui o relatório.

Leia mais: Taxação de super-ricos e mudanças climáticas são temas de reunião do G20
Editado por Jadson Lima

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