Supercomputador do Inpe usado em monitoramento da Amazônia será desligado

Computadores iguais ao Tupã têm uma vida útil relativamente curta, de quatro a seis anos (Divulgação/Inpe)
Wesley Diego – Da Cenarium

SÃO PAULO (SP) – O supercomputador Tupã, responsável pelo monitoramento do clima, previsão de estiagens e monitoramento de desmatamento na Amazônia no Brasil, será desligado em agosto. O anúncio foi feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), responsável pela manutenção do aparelho.

A máquina funciona como um “megaprocessador” de dados que são fornecidos para centrais estaduais de meteorologia, além de diversos órgãos como a Agência Nacional de Águas (ANA), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), além do Ministério do Meio Ambiente (MMA). 

Muita energia

Computadores iguais ao Tupã têm uma vida útil relativamente curta, de quatro a seis anos. O alto poder de processamento consome grande quantidade de energia elétrica para o funcionamento e resfriamento do sistema, o que eleva os custos de operação. Segundo o Inpe, entre manutenção e conta de luz, a fatura anual do Tupã chega a R$ 6 milhões.

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Comprado em 2010 por R$ 23 milhões, o supercomputador vem funcionando de forma emergencial nos últimos dois anos. Foi a maneira encontrada pelos técnicos do Inpe para estender a operação da máquina, já que o Ministério da Ciência e Tecnologia negou a aquisição de um novo computador em 2017 pelo alto custo: R$ 150 milhões. 

Satélites do Inpe fornecem dados para os programas de monitoramento do desmatamento e devastação florestal (Reprodução/ Internet)

Gambiarra’ do Tupã

Para garantir o funcionamento do Tupã, foi investido quase R$ 10 milhões em uma máquina que opera anexada ao supercomputador. Parte dele foi desligada, cerca de 43%, com intuito de economizar energia e para preservar componentes que se tornaram peças de reposição.

O trabalho foi dividido entre o que sobrou do Tupã e o novo equipamento. O novo ficou com a função de elaborar a previsão do tempo (realizada duas vezes por dia) e previsão das mudanças climáticas para os três meses seguintes.

O Tupã assumiu a previsão de cenários futuros de longo prazo além de armazenar os dados coletados diariamente pelo conjunto de máquinas. Com a “gambiarra” o Inpe tenta ganhar tempo até a chegada de um novo supercomputador.

Supercomputador

Um novo computador foi comprado em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O diretor do Inpe, Clézio di Nardin, disse em vídeo publicado nas redes sociais que o novo computador é mais moderno e eficiente.

“O novo computador é equivalente ao Tupã. A compra foi realizada no dia 3 de julho de 2021 e será entregue entre 50 e 60 dias”. O aparelho custou U$$ 729 mil, ou seja, R$ 3,7 milhões. Porém, a comunidade da Física tem dúvidas sobre a capacidade de processamento da nova aquisição, é o que diz o doutor em Física Paulo Artaxo. 

“Nós estamos trocando uma Ferrari por um Fusquinha. Os dois andam, mas, na verdade, o novo computador deixa muito a desejar nas previsões meteorológicas que são estratégicas para o País”, disse Artaxo em entrevista à TV Cultura. 

Orçamento do Inpe

O Inpe recebeu o menor orçamento de sua história em 2021: R$ 76 milhões. Mas até agora só recebeu R$ 44,7 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia, o restante foi contingenciado. A queda foi de 18%, em relação a 2020. 

Leia também: Brasil tem segundo pior ano de desmate na Amazônia da história recente, aponta Inpe

Este ano o instituto teve que adotar medidas para continuar operando. Reduziu custos com internet e telefonia, corte em serviços de limpeza e manutenção do prédio, suspendeu verbas para publicações de pesquisa e cancelou bolsas de pesquisadores. 

A suspensão de mais de 100 bolsas de pesquisadores influenciou no atraso do lançamento do “Amazônia 1”, o primeiro satélite brasileiro que coleta dados da maior floresta tropical do mundo. 

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