Surto de Covid-19 no Oeste do Pará deixa especialistas do Amazonas em alerta

Para infectologistas e epidemiologistas, o que vem acontecendo no Oeste paraense é um exemplo claro de que a pandemia ainda não acabou (Pilar Olivares/Reuters)

Bruno Pacheco – Da Cenarium

MANAUS – A pesquisa do Laboratório de Biologia Molecular (Labimol) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), que mostrou a existência de um surto de Covid-19 em Santarém e Alenquer, região próxima à divisa com o Amazonas, deixou autoridades amazonenses em alerta. Para infectologistas e epidemiologistas, o que vem acontecendo no Oeste paraense é um exemplo claro de que a pandemia ainda não acabou e que é preciso manter as medidas preventivas contra o vírus.

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“O exemplo do Oeste do Pará deixa claro que a pandemia não acabou e que ela está dando sinais de recrudescimento, ainda que discreto e a confirmar em outras grandes cidades do Brasil (Aracaju, Maceió, Belo Horizonte, Cuiabá, por exemplo), muitas das quais ainda não conseguiram reduzir dramaticamente a incidência de casos de Covid-19”, destacou à CENARIUM o epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Amazônia), Jesem Orellana.

O epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Amazônia), Jesem Orellana (Arquivo/Reprodução)

Segundo a pesquisa, nos primeiros 19 dias de outubro, houve um aumento do registro de amostras analisadas e 21,5% positivaram para Covid-19. Na segunda semana do mês, 53 policiais militares que estavam fazendo um curso em Santarém haviam testado positivo para a doença. A suspeita é que a transmissão do vírus tenha acontecido por conta da variante Delta, que tem forte poder de propagação.

À CENARIUM, o pesquisador e coordenador do Labimol, Marcos Prado, destacou que foi possível identificar uma quantidade estável de casos de Covid-19 nos meses de julho, agosto e setembro. No entanto, no final do terceiro mês, os pesquisadores passaram a registrar um aumento de contaminações pelo vírus e, a partir de outubro, os números ficaram ainda mais evidentes.

“Nós tivemos e estamos tendo, inclusive, explosão de casos de Covid-19 na região Oeste do Estado do Pará, principalmente em dois municípios: Santarém, a terceira maior cidade do Pará, e em Alenquer. Em Santarém, por exemplo, tivemos, do dia 1º a 19 de outubro, 215 casos de Covid [de 999 amostras analisadas], ou seja, muito mais do que os números registrados nos meses de julho, agosto e setembro em apenas 19 dias. Estamos vivendo um surto de Covid-19 na região”, declarou Marcos Prado.

Pesquisador e coordenador do Labimol, Marcos Prado (Arquivo/Ufopa)


No mesmo período, Alenquer teve 23 casos positivos de Covid-19, de 43 amostras analisadas pelo laboratório. Segundo o pesquisador, os cientistas trabalham com a possibilidade de que a variante Delta tenha originado o surto de Covid-19 em Santarém e Alenquer, isso porque a maioria das pessoas infectadas são aquelas já vacinadas contra o vírus, evidenciando o poder de transmissão da cepa. Os dados que vão identificar a origem do vírus serão obtidos após sequenciamento genético que está sendo feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro.

“A maioria dessas pessoas que estão sendo infectadas são pessoas vacinadas com as duas doses da vacina. Em alguns casos, até mesmo com as três doses, nós já identificamos casos positivos. Isso está sendo estudado pelo laboratório e acompanhado pela Secretaria Estadual de Saúde Pública do Pará, e nós enviamos amostras para o Rio de Janeiro, com o objetivo de realizar o sequenciamento genético para saber se é a variante Delta que está ocasionado esse surto ou se é uma nova variante”, explicou.

Marcos Prado informou ainda que a maioria dos casos identificados em Santarém e Alenquer são de média e baixa complexidade, mas há pacientes intubados. “Vamos aguardar a conclusão do mês de outubro para olhar novamente os dados e tentar verificar o que está acontecendo na nossa região”, concluiu.

Relaxamento

Uma das medidas que pode ter contribuído para o aumento de casos de Covid-19 no Oeste do Pará, segundo especialistas, foi o relaxamento de medidas de prevenção e a crença das pessoas de que a vacina é “milagrosa”. Para o médico infectologista Nelson Barbosa, de Manaus, estar vacinado não significa proteção total.

Infectologista Nelson Barbosa (Arquivo Pessoal/Reprodução)


“Estar vacinado não significa que você está 100% protegido, quando nós temos outras variantes, como a Delta, que é oito vezes mais transmissível do que a P.1 [variante Gama]. A vacina serve apenas para que as pessoas não tenham a forma grave da doença, não sejam intubadas, internadas em UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. Mesmo vacinado, as medidas de prevenção devem ser rigorosamente cumpridas, como o uso de máscaras, álcool em gel ou lavar as mãos com água e sabão”, salientou Barbosa.

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O pesquisador Jesem Orellana reforça ainda que, embora o Amazonas e a capital Manaus, em particular, estejam testemunhando quedas drásticas na incidência da doença, internações e mortes, sabe-se que ainda há uma grande quantidade de gente sem vacina ou com o esquema incompleto.

“Também temos as pessoas que, mesmo com duas doses, seguem sendo infectadas por acreditarem, equivocadamente, que vacina faz milagre. Por estes motivos, precisamos ser cautelosos, mantendo o uso de máscaras e evitando aglomerações, pois estamos sendo testados por um inimigo imprevisível, o novo coronavírus”, reforçou.

O cientista criticou, ainda, a realização do “Boi Manaus”, evento da prefeitura da capital amazonense, cuja edição de 2021 foi confirmada para o dia 24 de outubro, em comemoração ao aniversário de 352 anos da cidade, com a presença de mais de 40 artistas locais. “Tudo que não precisa”, lamenta Jesem Orellana.

O laboratório

O Laboratório de Biologia Molecular (Labimol), da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), fica localizado no município de Santarém e realiza a testagem para o novo coronavírus em 20 municípios da região Oeste do Estado, com recursos oriundos da instituição e da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), do Governo do Pará.

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