‘Também é lugar de mulher’, diz coordenadora do Festival de Grafite Feminino Indígena

O grafite chegou ao Brasil no final da década de 70 e ainda é marginalizado por muitos (Reprodução/Instagram)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS –  “As pessoas têm que entender que o grafite não é um movimento que tem só homens. Sempre teve a presença feminina atuante nessa arte. Vale lembrar que a primeira pessoa a fazer uma assinatura em Nova York, na Estátua da Liberdade, que é um dos maiores pontos turísticos daquele lugar, foi uma mulher”, a afirmação é da coordenadora-geral do Festival Internacional de Grafite Feminino Yapai Waina, Chermie Ferreira.

O festival, cujo nome tem origem da etnia do povo indígena Kokama que significa ‘levanta mulher’, vem sendo realizado no município de Presidente Figueiredo (distante 133 quilômetros de Manaus) desde o último dia 13 de abril, encerrou a programação nesse sábado, 15. Na próxima segunda, 17, deve finalizar oficialmente a programação em Manaus com uma oficina de grafismo e grafite com a Associação de Mulheres Indígenas Sateré Mauwé.

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Ao todo, 20 mulheres artistas deixaram sua marca registrada na terra das cachoeiras. Além de talentosas figuras femininas do Amazonas, o mural também ganhou formas e cores de mulheres de Fortaleza, Acre, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. De acordo com Chermie Ferreira, a iniciativa surgiu da necessidade de realizar um evento que valorizasse as mulheres em formato nacional ou internacional em Manaus, uma vez que o último evento com formato similar foi realizado em 2008.

Festival Internacional de Grafite Feminino Yapai Waina (Reprodução/Instagram)

Valorizando grafiteiras

O grafite chegou ao Brasil no final da década de 70 e ainda é marginalizado por muitos. Quando executado por mulheres, geralmente, o preconceito vem acompanhado por pensamento e postura machistas. Porém, eventos como esse vêm se tornando espaço de empoderamento e debates para assuntos relevantes como racismo, políticas públicas, maternidade, preconceito, sexualidade e várias outras temáticas que podem ser expressadas por meio da arte.

Para Charmie, a sociedade tem o hábito de sempre invisibilizar e apagar a história das mulheres em qualquer área. Por isso, há necessidade de ter com mais frequência eventos como esse. “Movimentos culturais assim são extremamente importantes para fortalecer, incentivar e até mesmo revelar talentos, dando espaço, voz e vez a nossas irmãs. E aqui no Amazonas e até mesmo em outras regiões do País as mulheres indígenas também têm muito a expressar”, ressalta.

Thaís Kokama desenvolve o grafismo corporal desde os 18 anos de idade (Reprodução/Instagram)

Grafismo Corporal

Para a indígena do povo Kokama, Thais Kokama, a oportunidade de participar do evento trouxe também a oportunidade de divulgar o trabalho desempenhado por ela com o grafismo corporal. Thaís desenvolve a pintura desde os 18 anos de idade e conta que se aperfeiçoou na aldeia Inhaã be, onde morou durante um período.

“Participar de um evento internacional como este e com mulheres é maravilhoso, principalmente pelo fato do nome do festival estar na minha língua materna. Isso leva o nome da nossa etnia, abriga outras mulheres, mostra que resistimos, temos cultura, entre perdas e ganhos já lutamos bastante, mas estamos aqui adquirindo nosso espaço com a arte”, comemora Thaís.

“Não desistam”

Charmie Ferreira aproveita e deixa um recado para aquelas que se identificam com o grafite e pretendem ingressar nesse mundo de cores e traços. “Pela sociedade em que vivemos, que coloca muita responsabilidade e muita culpa sobre nós, acabamos desistindo, por vezes, das nossas metas, sonhos. Mas peço que não desistam, sigam em frente, estudem, pensem na sororidade, acolham umas as outras, pesquisem e comecem”, finaliza.

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