‘Teleguiados’ por Amazonino e Braga, deputados correm para tomar o poder no Amazonas

Chegado a Amazonino, Wilker Barreto, e mais próximo de Eduardo Braga, Josué Neto, são os principais articuladores do impedimento do governador (ALE/AM)

Paula Litaiff – Da Revista Cenarium

Deputados da base revelaram e os da oposição admitiram à REVISTA CENARIUM que o ex-governador Amazonino Mendes (Podemos) e o senador Eduardo Braga (MDB) estão comandando à distância as ações do presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE/AM), deputado Josué Neto (PRTB), e dos colegas dele de Parlamento, como Wilker Barreto (Podemos), Dermilson Chagas (Podemos) e Delegado Péricles (PSL) para acelerar o processo de impeachment do governador do Estado, Wilson Lima (PSC), e impor a instalação de Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) da Saúde e Educação para influenciar o Judiciário.

Aliados e teleguiados (Jack Cartoon)

Wilson Lima é investigado na operação Sangria, da Polícia Federal (PF), que apura a suspeita de sobrepreço em respiradores no valor de R$ 2,9 milhões, durante a pandemia do Covid-19 em abril deste ano. Os deputados que querer destituir o chefe do Executivo e pressionam por investigar o governo do Estado possuíam função pública em 2017 e 2018, quando Amazonino, na última administração gestão do Amazonas, foi acusado de ilegalidades que envolveram valores bilionários. O processo de impeachment, também, o vice-governador Carlos Almeida (PTB), mas fica fragilizado dada à falta de respaldo jurídico constitucional.

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Na última administração de Amazonino, o então secretário de Saúde (Susam) e amigo pessoal do ex-governador, Francisco Deodato, dispensou 55 processos de licitação na pasta, totalizando o valor de 27 milhões – a maioria oriunda de verba federal – para empresas suspeitas de “apadrinhamento” por serem ligadas a parlamentares. No mesmo período, Amazonino não prestou contas da utilização de R$ 1 bilhão do  Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) na Secretaria de Educação (Seduc). Não há informações de que a PF investigou os casos.

Agora, na oposição ao governo, e sob o comando de “velhos caciques”, Josué, Wilker, Dermilson e Péricles defendem o combate à corrupção. Entre 2017 e 2018, Barreto presidia a Câmara Municipal de Manaus (CMM) e não há no site da CMM discursos sobre as suspeitas de desvio bilionário na gestão de Amazonino. Josué era deputado estadual; Péricles estava na função de delegado e recebeu de Amazonino, um tratamento diferenciado, com cirurgias fora do Estado após ser atingido em uma operação policial.

Orientação superior

Antes de ocorrer a operação Sangria, o senador Eduardo Braga já possuía a informação obtida junto a servidores da Procuradoria Geral da República (PGR) em Brasília, informou um deputado. A notícia foi disseminada na ALE/AM em junho deste ano e no dia 30 do mesmo mês,  foram deflagrados os mandados de busca e apreensão na casa de Wilson Lima.

Nessa pré-fase da operação, Braga, segundo deputados, orientou Josué sobre a insistência da CPI da Saúde e movimentos Pró-Impeachment com aliados de Amazonino. Militantes ligados ao presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) e aliado do presidente da ALE/AM foram contratados e pagos com dinheiro público para disseminar a ideia de deposição do governador.

Fora da presidência

Com dez dias dados pela Comissão de Impeachment para Wilson Lima apresentar  defesa, a contar do dia 14 de julho, Josué Neto sabe que tem menos de cinco meses para afastar o governador do Amazonas sob o risco de no final de 2020 perder a presidência da ALE/AM, quando ocorrem as eleições para o cargo e, historicamente, o vencedor conta com o aval do chefe do Executivo.

Segundo os deputados, sob a orientação de Braga e interlocutores de Amazonino, Josué retomou uma consultoria externa para dar celeridade ao processo de deposição de Wilson Lima, mesmo tendo em seu quadro funcional, procuradores (advogados) aptos ao procedimento. Não se sabe se os especialistas jurídicos da ALE/AM se negaram a ficar com processo de destituição, alvo de embargo no Tribunal de Justiça do Amazonas (Tjam) por não seguir a principal legislação que rege o caso, a Lei do Impeachment (Lei 1079/50).

Consultoria paga

Com medo de perder a batalha contra o governo, o presidente da ALE/AM fará o contribuinte pagar R$ 195 mil, sem licitação, para o escritório do advogado André Ramos Tavares, conhecido nacionalmente por elaborar o parecer contra o processo de impeachment da ex-presidente da República Dilma Rousseff (PT) em 2016.

Presidente da ALE/AM, deputado Josué Neto, e o advogado André Ramos Tavares: interesse público ou político? (Reprodução/Internet)

O contrato do escritório de Ramos, com sede em São Paulo, foi publicado no Diário Oficial da ALE/AM desta 28 de junho, anulado após uma enxurrada de críticas, e republicado no último dia 8 de julho no Diário Eletrônico da ALE/AM.

A reportagem entrou em contato com assessores de Eduardo Braga, Amazonino e Josué Neto. Nenhum dos três quis responder ou mesmo comentar as perguntas feitas pela REVISTA CENARIUM sobre a matéria, conforme abaixo:

Para Amazonino e Braga:

É verdade que os senhores comandam à distância o processo de impeachment do governador Wilson Lima?

Para Josué Neto:

O senhor tem seguido orientações do senador Eduardo Braga e do ex-governador Amazonino Mendes no processo de destituição de Wilson Lima?

Em nota a assessoria de Eduardo Braga disse que o senador não responde a “informações de bastidores” envolvendo o nome do parlamentar. “Boatos e falsas informações não merecem atenção ou mesmo respostas”, finalizou a nota da assessoria.

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