‘Tendem a ser mais negligenciados’, diz psicóloga sobre transtornos mentais de adolescentes na pandemia

Entre os entrevistados na pesquisa, 56% disseram que algum adolescente da casa apresentou um ou mais sintomas (Reprodução/CNBB)
Marcela Leiros – Da Revista Cenarium

MANAUS – Transtornos mentais de adolescentes na pandemia tendem a ser mais negligenciados por conta do isolamento social, é o que diz a psicanalista Samiza Soares, que reforçou nesta terça-feira, 6, a necessidade de não negligenciar as preocupações destes jovens. Segundo pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a maioria deles passou a apresentar um ou mais sintomas relacionados à saúde mental, por conta do isolamento social, uma das principais orientações para impedir a propagação da Covid-19.

A pesquisa “Impactos primários e secundários da Covid-19 em Crianças e Adolescentes”, perguntou a adultos como a pandemia está impactando os adolescentes que vivem em nos domicílios. Entre os entrevistados, 56% disseram que algum adolescente da casa apresentou um ou mais sintomas. Os sintomas mais sentidos foram mudanças repentinas de humor e irritabilidade (29%); alteração no sono como insônia ou excesso de sono (28%); diminuição do interesse em atividades rotineiras (28%); e preocupações exageradas com o futuro (26%).

(Catarine Hak/Revista Cenarium)

Um desses adolescentes é a estudante Maria Clara Medeiros. Com 17 anos e prestes a concluir o Ensino Médio, a jovem relatou sentir a metade dos sintomas pontuados na pesquisa e o principal motivo seria as preocupações com o futuro, que se potencializaram na pandemia.

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“Tive alteração no sono não conseguindo dormir cedo e acabando dormindo demais, mudanças de humor frequentes, ansiedade, diminuição de interesse em atividades rotineiras, querendo ficar em casa o dia todo. E preocupação frequente relacionada à morte da família. Acho que por eu estar quase me formando e ano que vem ser tudo diferente, ainda tem vestibular e faculdade”, lembrou ela.

Gatilhos

Momentos de crise como a pandemia podem ser um gatilho para transtornos mentais, de acordo com a psicanalista Samiza Soares. Como as crianças e adolescentes são menos infectados, muitas vezes o sofrimento passa despercebido e tende a ser mais negligenciado.

“Muitos deles [os transtornos mentais] se iniciam na adolescência e a metade antes dos 14 anos. É importante reconhecer a ansiedade e os medos. Tais danos psicológicos devem ser monitorados e controlados, sobretudo em adolescentes, que tiveram de se afastar compulsoriamente de sua rede socioafetiva: amigos, colegas de escola, pessoa amada e familiares”, pontuou a especialista.

A psicanalista Samiza Soares explica os impactos do isolamento na rotina dos jovens (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Entre os impactos na vida destes jovens ainda está a mudança da rotina, como o estudo remoto e distanciamento físico. Essas mudanças geram queixas e angústia, que são manifestações comuns e precoces após eventos traumáticos. “Mudanças no humor, no comportamento, no sono, aumento da agressividade, sintomas de ansiedade, dificuldades grandes e abruptas na cognição devem ser consideradas. Fechar os olhos pode ser pior”, afirma ainda Samiza.

A especialista ainda reforça um alerta e uma orientação. “Olhe com empatia para os adolescentes, sintomas como irritabilidade, mudanças de humor, insônia, dificuldade de concentração podem ser fáceis de se identificar em adultos, mas apresentam diversas nuances quando se trata de crianças e adolescentes. O caminho é encontrar o prazer nos hábitos do cotidiano, conversar e compartilhar assuntos de interesse, explicou ela.

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