‘Tenho que continuar’, diz cacique Raoni sobre luta pelo direito dos povos indígenas
08 de janeiro de 2023
Cacique Raoni da tribo Caiapó (26/06/2016 - Evaristo Sá/AFP/VEJA)
Da Revista Cenarium*
BRASÍLIA – O cacique Raoni Metkerie, uma das mais importantes lideranças indígenas do mundo, deseja descansar. Diz, no entanto, que sente o dever de seguir sua luta enquanto não encontrar outro nome capaz de ocupar o seu espaço.
Não se sabe a data exata em que o pajé caiapó nasceu, apenas que foi no início da década de 1930, em Kapot, Mato Grosso, na região do Xingu –ele tem, portanto, cerca de 90 anos.
Desde o contato com o homem não indígena, na década de 1950, ele passou a ser uma figura reconhecida mundialmente como defensor do meio ambiente e dos direitos dos povos originários.
Cacique Raoni, liderança caiapó e defensor do meio ambiente – Pedro Ladeira – 30.dez.2022/Folhapress
Ganhou notoriedade nas décadas de 1980 e 1990, na luta pela construção do Parque do Xingu e contra a construção da usina de Belo Monte, no Pará, que acabou se concretizando no governo de Dilma Rousseff (PT).
Em sua trajetória, ele conheceu autoridades como reis, presidentes e papas, foi tema de documentários e livros e esteve entre os nomes cotados para receber o Nobel da Paz.
No primeiro dia de 2023, foi uma das oito pessoas que subiram a rampa do Palácio do Planalto e entregaram a faixa presidencial ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Eu estava lá representando a coletividade, o bem viver. Pedi para Lula priorizar a demarcação de terras e a retirada dos invasores, e peço que nossos parentes continuem firmes [na resistência]“, disse Raoni à Folha, em conversa traduzida do caiapó por seu neto Patxon.
A presença na cerimônia e a reunião com Lula dias antes aconteceram por intermédio da deputada Joenia Wapichana (Rede-RR), que será a próxima presidente da Funai, marcam o contraste da relação que o pajé tinha com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em sua primeira vez na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Bolsonaro atacou o cacique e afirmou que ele era “peça de manobra” de líderes de outros países.
Raoni, por sua vez, denunciou o ex-presidente ao tribunal de Haia por crimes ambientais, em 2021.
Durante a pandemia, o cacique viu sua esposa, Bekywiká Metukitire, morrer após sofrer um infarto e, dias depois, contraiu Covid.
Os caiapós não gostam de falar sobre a morte —quando um parente os deixa, fazem um ritual de luto que tem duração indeterminada, acaba quando os anciões da aldeia decidirem que é a hora certa. Retiram as as pinturas do corpo e os adornos, cortam os cabelos e ficam totalmente reclusos, sem falar com ninguém.
Após o período isolado, o encontro com Lula marca a retomada, aos poucos, da agenda ativista do cacique, que, mesmo com seus cerca de 90 anos, ainda pretende voltar a viajar para outros países —antes, diz, precisa cuidar de sua saúde, que ainda não está totalmente recuperada da Covid.
Apesar dos planos, Raoni admite estar cansado.
“Desejo descansar, mas sempre acontecem ataques e ameaças contra os indígenas e por isso não posso parar de trabalhar e me encontrar com autoridades. Queria que alguém fizesse esse trabalho, mas não há, tenho que continuar“, diz.
Seu filho e sucessor natural morreu em 2004, vítima de um acidente de carro. Por isso, Raoni pensa em como passar o bastão do seu legado. Ele tenta preparar para a função sua filha, Kokona. No entanto, a escolha esbarra na tradição de seu povo segundo a qual a sucessão de liderança deveria ir para um filho homem.
Raoni Metuktire
O pajé caiapó (tribo que habita entre o norte de Mato Grosso e o sul do Pará) nasceu na década de 1930 —não se sabe ao certo o ano— e vive na Terra Indígena Capoto Jarina, às margens do rio Xingu. Atualmente, é uma das lideranças mais importantes do mundo na defesa do meio ambiente e dos povos indígenas e chegou a ter o nome cotado para o Nobel da Paz.
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