‘Tentam nos silenciar o tempo todo’, diz babalorixá após ter terreiro incendiado em Pernambuco

Terreiro de umbanda vandalizado em episódio de intolerância religiosa (Reprodução/Arquivo Pessoal)

Priscilla Peixoto – Da Revista Cenrium

MANAUS/RECIFE — “É um sentimento de desolamento e impotência, regido pelo medo, em tentar exercer minha religiosidade”. O lamento é do babalorixá Lívio Martins, 30, após o Terreiro das Salinas, de tradição Jeje-nagô, localizado no município de São José da Coroa Grande, no Litoral Sul do Estado de Pernambuco, ser incendiado no último sábado, 1º. Para o fundador do terreiro, o ataque cometido no primeiro dia do ano deixou registrado mais um ato de racismo e intolerância religiosa.

Lívio conta que ficou sabendo do ataque por um vizinho que também frequenta o terreiro. De acordo com o líder, após a realização de rituais religiosos durante a passagem do ano, os frequentadores deixaram o local e, pela manhã, foi surpreendido ao ver que o fogo destruiu as estruturas feitas de palha e madeira.

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“Quando fui avisado, chegamos lá no máximo em cinco minutos depois do aviso, mas já não restava mais nada”, conta o babalorixá.

Os utensílios foram destruídos durante o ataque (Reprodução/ @terreirodassalinas)

Ele destaca a tentativa de apagamento de alguns movimentos religiosos em relação às religiões de matrizes africanas, afro-brasileira e afro-indígena, segundo o babalorixá, estas manifestações de fé são alvos de violências constantes seja de forma declarada ou velada.

“O terreiro nunca sofreu um ataque de forma direta, mas a gente sente a resistência e a tentativa de apagamento e silenciamento de algumas pessoas e movimentos religiosos”, lembra.

Ações sociais

O Terreiro das Salinas foi fundado há três anos pelo babalorixá Lívio Martins, no local são desenvolvidos várias atividades sociais, dentre elas reforço escolar gratuito para crianças da comunidade, a distribuição semanal de sopa, projeto de limpeza do manguezal, orientação espiritual e entrega de cestas básicas da Campanha ‘Tem Gente Com Fome’, da Coalizão Negra por Direitos.

Por conta das atividades e trabalhos sociais envolvendo crianças, Lívio se diz preocupado com futuros ataques tendo como alvos até mesmo os pequenos que participam de algumas ações no local. “Temo pelas crianças que frequentam o terreiro e que os ataques cheguem até elas” lamenta o babalorixá.

O incêndio ocorreu na manhã do dia 1º de janeiro de 2022 (Reprodução/@terreirodassalinas)

Apoio

Nas redes sociais, instituições, amigos e frequentadores do Terreiro se solidarizaram com Lívio e lamentaram o ocorrido. Em nota postada na rede social Instagram, a Articulação Negra Pernambuco exigiu aparato institucional para apurar com rigor o caso de racismo religioso e identificação dos responsáveis pelo incêndio para punição.

“O racismo religioso violenta todos os dias o povo negro e de terreiro neste País, tentando demonizar nossos deuses e a nossa cultura” diz um trecho da nota.

O caso foi registrado na Delegacia de São José da Coroa Grande e, segundo Lívio, também foi dada entrada em um pedido de investigação ao Ministério Público de Pernambuco. Além disso, o Projeto Oxé — atendimento presta apoio jurídico e psicossocial contra o racismo.

Nota de repúdio da Articulação Negra Pernambuco (Reprodução/ @articulacaonegrape)

Saiba como ajudar

Quem desejar contribuir para a reestruturação do local, pode ajudar por meio de doação financeira via pix. O terreiro alerta para fraudes e explica que as doações devem ser feitas apenas pelo pix abaixo, não havendo outro meio.

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