Terceira via não deve ganhar espaço nas eleições de 2022, afirma cientista político

Casos de violência política causam apreensão em mesários (Reprodução/ Internet)

Déborah Arruda – Da Cenarium

MANAUS (AM) – As articulações políticas no Amazonas para as eleições de 2022 seguem a todo vapor. Nomes conhecidos do eleitorado amazonense tentam retornar ao cenário político, buscando acordos vantajosos, enquanto outros buscam o apoio popular para permanecer em seus cargos públicos. Neste cenário, a direita, fortalecida nas últimas eleições, não deve ter muita vantagem, com uma disputa por espaço acirrada entre os próprios candidatos.

“No Brasil é muito forte a política do personalismo, do caciquismo, em detrimento das ideologias políticas. Então, há muitos nomes se declarando partidários da ideologia de direita, mas todos interessados em seus projetos políticos individuais, pessoais, por isso que se tem tantos nomes. O presidente Bolsonaro não contribui em nada para uma unidade na base dos declarados de direita, porque o Bolsonaro já indica nome, já declara apoio a um nome e isso acaba dividindo a base, na medida em que o presidente, antes de qualquer união, diz qual sua preferência”, explicou o cientista político Carlos Santiago.

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No próximo pleito, a disputa eleitoral irá girar em torno dos cargos de presidente da República, governador, senador, deputados estadual e federal. Na disputa pela Presidência da República, a polarização deve se consolidar, conforme destacou o especialista, entre Luis Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (sem partido). Grande parte do eleitorado já não tem a mesma preferência que nas últimas eleições, onde buscava por candidatos novatos. Santiago explicou ainda que a grande discussão sobre uma possível terceira via não deve ir muito adiante.

“Primeiro porque a sociedade brasileira não está muito interessada em votar no escuro, em alguém que não conhece. Os dois nomes que estão liderando as pesquisas, Bolsonaro e Lula, são nomes conhecidos. Não há mais aquele sentimento da sociedade em votar no novo, em alguém fora da política. Este não vai ser o sentimento das eleições de 2022. Por isso que a polarização é tão intensa e os candidatos que se colocam no campo do centro, como a terceira via, têm dificuldades de crescimento eleitoral, político, porque são nomes que não governaram o País, outros são conhecidos apenas em seus estados. Isso dificulta e muito construir um nome, uma alternativa, para chamada terceira via”, afirmou o especialista.

Propostas do Amazonas

Entre os possíveis candidatos que já articulam seus acordos políticos, por uma das oito cadeiras na Câmara dos Deputados, está a ex-senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB) e o ex-deputado estadual Chico Preto, que projeta o pensamento político bolsonarista. O atual deputado federal José Ricardo (PT) expôs, nas últimas semanas, sua intenção em concorrer ao governo do Estado, mas em recente pesquisa de consumo interno pelo interior do Amazonas, o petista poderá ter uma força maior se tentar a reeleição.

“No Amazonas existe também não só uma divisão nos grupos chamados de direita, como também nos partidos de esquerda. Porque o PT tem um candidato à Presidência da República, mas do ponto de vista local não tem nenhum nome para disputar o governo do Estado. Há algumas eleições ele não indica um nome para disputar o governo. A possibilidade de eleição para a Câmara dos Deputados do José Ricardo e da Vanessa [Grazziotin] é real, desde que esses partidos tenham maturidade para entrar em um acordo, inclusive com os caciques da política local, uma composição política para vencer as eleições”, explicou.

Reforma eleitoral

A discussão sobre a reforma eleitoral tem sido intensa nas últimas semanas. A Câmara dos Deputados votou e aprovou, em primeiro turno, a volta das coligações partidárias para as eleições proporcionais (deputados e vereadores) e a contagem em dobro dos votos dados a candidatas e a negros para a Câmara dos Deputados, nas eleições de 2022 a 2030.

A aprovação do texto incluiu, ainda, o acesso aos recursos do Fundo Partidário e a propaganda no rádio e na televisão apenas aos partidos que tenham obtido um número mínimo de deputados federais ou uma percentagem mínima de votos válidos distribuídos em 1/3 dos estados. O “distritão”, no entanto, foi rejeitado. Conforme explicou o cientista político, as discussões, que ainda vão para o segundo turno para então seguirem ao Senado, têm o poder de influenciar no andamento das articulações políticas para as eleições.

“Há um debate na Câmara dos Deputados para a implantação do voto distritão, um debate também de propostas para o retorno das coligações proporcionais, que envolve, inclusive, financiamento eleitoral. O cenário só vai ficar mais claro depois das votações da Câmara e do Senado das propostas de reforma eleitoral. De antemão, posso afirmar que há uma tradição política do caciquismo, em detrimento de projetos coletivos, que influencia não só os partidos de esquerda como de direita no Amazonas”, afirmou.

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