Terra Indígena Karipuna tem mais de mil hectares desmatados em área de influência da BR-319, em 2021

Invasores no interior da TI Karipuna, flagrados em fevereiro de 2019 (Chico Batata/Greenpeace)

Bruno Pacheco e Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – Em meio à falta de ações de fiscalização ambiental e ao aumento de invasões ilegais, a Terra Indígena Karipuna, em Rondônia, está entre as mais desmatadas da Amazônia Legal, conforme revelou o informativo mensal do Observatório BR-319, publicado nesta semana. Segundo os dados do estudo, a região perdeu mais de mil hectares (ha) de floresta, somente em 2021, e é a mais pressionada da área de influência da BR-319, rodovia federal que liga Manaus a Porto Velho.

De acordo com o levantamento, Karipuna liderou o ranking de desmatamento em outubro, entre as 69 terras indígenas monitoradas pelo observatório, e bateu o recorde da série histórica para o mês, com perda de 145,53 hectares. Além disso, por causa das invasões que ameaçam o local, a segurança alimentar dos Karipuna está cada vez mais comprometida. Os rios Jaci-Paraná e os igarapés Fortaleza, Formoso e Trindade sofrem com a falta de peixes.

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Mapa mostra as invasões da Terra Indígena Karipuna, em outubro de 2021 (Fonte: Observatório BR-319)

“Todo ano, a gente prepara o terreno para plantar, mas durante a pandemia, por causa das invasões, não pudemos fazer isso. No entanto, os invasores puderam entrar. Encontramos invasões a poucos quilômetros das comunidades e até barreiras em ramais. O meu povo não está tendo sossego e vive psicologicamente abalado. Ninguém dorme direito, come direito ou vive em paz. Nos ameaçam de morte, dizem que vão nos matar em emboscadas. Nós vivemos preocupados uns com os outros”, declarou a liderança indígena, Adriano Karipuna. O depoimento dele colaborou com o estudo.

Para o indígena, a “porteira está aberta”, principalmente, com o discurso antiambiental do presidente Bolsonaro (PL). “Temos enfrentado queimadas, grilagem, invasões de madeireiros e até loteamento de terras. O governo brasileiro tem sido extremamente ineficaz em resguardar os nossos direitos e em proteger as nossas vidas”, afirmou Adriano Karipuna.

Relação

À REVISTA CENARIUM, o ambientalista e mestre em Ecologia, Carlos Durigan, explicou nesta sexta-feira, 10, que o desmatamento e as queimadas em grande escala estão, historicamente, associados à abertura de estradas, que acabam funcionando como vetores da expansão do uso de terras em toda a região.

“O que tem acontecido por décadas é justamente a intensificação dessa expansão, que se dá sobre terras públicas. Esse cenário tem se tornado mais negativo, nos últimos anos, e este processo de apropriação ilegal e desordenada de territórios tem, inclusive, se dado sobre terras públicas já destinadas, como são os casos das Terras Indígenas, Territórios Quilombolas e Unidades de Conservação”, explicou Durigan.

A população Karipuna, de Rondônia, é remanescente de quatro outras populações sobreviventes identificadas na década de 1970. Segundo o estudo, mesmo com o território homologado, as pessoas que vivem na terra indígena continuam ameaçadas pelas invasões, grilagem, extração de madeira, garimpo e pela crescente violência na região.

“Daí a importância de se fortalecer as políticas públicas voltadas à proteção das TIs, dos TQs e das UCs, e fortalecer uma agenda positiva de desenvolvimento regional baseada na conservação e manejo destes territórios e seus recursos naturais”, reforçou o ambientalista.

Monitoramento

Segundo os dados do Observatório BR-319, a Amazônia Legal apresentou uma redução de 36% no número de focos de calor, se comparados ao mesmo período do ano de 2020. O Estado de Rondônia também apresentou uma redução de 27%. Em contrapartida, no Amazonas e nos 13 municípios da BR-319, houve um aumento nos números de focos de calor se comparados ao mês de outubro de 2020. Com percentuais de 40% e 23% respectivamente.

Monitoramento do Observatório BR-319 mostra comportamento dos focos de calor nos 13 municípios sob influência da BR-319 (Fonte: Observatório BR-319)

No mês de novembro, de acordo com a pesquisa, o Amazonas apresentou 1.773 focos de calor, Rondônia 1.764 focos, seguidos dos munícipios por onde passa a BR-319, com 129 focos de calor. Destes municípios, onze tiveram um amento de focos de calor, se comparados ao mês de outubro do ano passado.

Dentre os municípios da região, Borba foi o lugar que apresentou o maior percentual no mês de outubro, em relação aos focos de calor, com 522%. Na contramão, Porto Velho foi o único a demonstrar uma queda no número de focos de calor, de 21%, mas ainda assim, foi o segundo município a apresentar um maior número de focos de calor entre todos da Amazônia Legal. Vale ressaltar que Lábrea ocupa o quinto lugar na lista.

Desmatamento

O documento informa que a Amazônia Legal teve queda de 9% no desmatamento, se comparado também ao mês de outubro de 2020. Na BR-319, Rondônia apresentou redução de 26%, com um registro de 7.794 hectares desmatados. Em relação ao Amazonas, o informativo mostrou um aumento de 39% com 10.575 hectares desmatados, ocupando o pódio de maior área desmatada entre todos o estados da Amazônia Legal.

Com menor índice de variação, os municípios da rodovia apresentaram um aumento de 1% e 8.039 de perda florestal. O monitoramento aponta dados preocupantes na qual o Amazonas e os municípios da BR-319 tiveram valores de desmatamento, em outubro de 2021, mais altos da série histórica (2010 -2021).

Confira, na íntegra, o informativo mensal do Observatório BR-319:

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