Torcedores do Garantido lamentam perda de uma de suas personalidades históricas

Padrinho do boi, batuqueiro encarnado e ex-presidente do Garantido, Badú Faria foi um dos maiores incentivadores da brincadeira de terreiro que mais tarde se transformou no maior festival folclórico do Brasil. (Reprodução/Internet)

Mencius Melo – Da Revista Cenarium

MANAUS – A semana começa com tons cinzas nos redutos vermelhos e brancos. Torcedores do Garantido receberam com pesar a morte de Emanoel Faria, ex-presidente do Garantido, amigo de Lindolfo Monte Verde, criador do boi e um dos arquitetos da história de um ícone da cultura popular.

‘Badú’, como era conhecido, morreu subitamente aos 86 anos, em Parintins deixando um legado. “Meu tio avó foi o primeiro membro da família Faria, nos idos anos de 1950, a ir brincar de boi na ‘Baixa da Xanda’, como era conhecida vila de pescadores onde nasceu o Garantido”, contou João Paulo Faria, torcedor e atual Pai Francisco do boi.

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Apesar de ser da nova geração da família Faria, que emprestou ao boi nada menos que o apresentador Paulinho Faria – que por 26 anos celebrou dezenas de conquistas para o ‘boi do povão’ – João também é filho de Zezinho Faria, fundador da Associação Folclórica Boi Bumbá Garantido (AFBBG), presidente de honra e articulador do pentacampeonato nos anos 1980.

“Minha família tem uma história entrelaçada com o Garantido e o tio Badú foi o responsável por nos levar para lá, sua amizade com Lindolfo e Dona Antônia (esposa de Lindolfo), foi fundamental para reescrever a história dos Faria”, constatou João.

“Pelas mãos do tio Badú, os Faria foram brincar boi na Baixa da Xanda (apelido de D. Alexandrina, mãe de Lindolfo), quando nem existia o Festival Folclórico de Parintins (o festival só seria criado em 1965)”, recordou.

Emanoel Faria, o ‘Badú’, ao lado de Lindolfo Monte Verde e Cilene Martins, com as suas filhas no registro histórico da década de 1960. (Reprodução/Internet)

Um otimista

O compositor Tadeu Garcia, recorda com carinho, a figura humana do ex-dirigente. “O Badú era um otimista por natureza, mesmo quando estávamos com problemas, ele vinha e dizia que ia dar certo, muitas soluções que adotamos nos primeiros anos de disputa, vieram dele”, recorda o célebre compositor.

“Naquele jeito caboclo dele, ele se fazia ouvir, discreto, falava para alguém que a solução era tal ideia e essa pessoa levava a informação a quem ele queria fazer chegar”, lembrou Tadeu, que foi vice-presidente do Garantido no ano de 1991.

O compositor elenca outra qualidade de Badú Faria. “Era um guardião dos valores do boi, com aquela camisa encarnada e a tradicional calça branca…Badú como ‘padrinho do boi’, foi mais fiel que muito presidente que já passou por esse Garantido”, alfinetou Tadeu.

‘Partiu pra ficar…’

Conhecido como um dos presidentes que mais valorizou as tradições do Garantido, o ex-presidente Antônio Andrade lamentou a partida de Badú. “A imagem que vou guardar dele, é aquela no curral do boi, com o xeque-xeque na mão, junto da batucada encarnada”, relembrou Andrade.

O ex-dirigente recordou de uma passagem política. “Lembro que em um pleito, eu ia me candidatar e chamei o Badú para ser meu vice, porque além de ser uma legenda do boi, o Badú era meu parceiro e amigo de todo mundo”, contou Antônio.

“Badú entra para a galeria de grandes nomes como Maria Ângela Faria, Ambrósio, Vavazinho, Porrotó, Pichita Cohen. Ele agora é ‘gente que partiu pra ficar’(trecho de uma toada antológica do Garantido)”, enalteceu Antônio Andrade.

Zezinho Faria, sobrinho de Badú, também acrescentou. “O tio Badú foi o primeiro elo de nossa família com o boi, pelo jeito festivo e alegre, ele nos levou para a Baixa”, relembrou Zezinho.

Ainda segundo ele, a contribuição do baluarte, não para por aí. “Foi o Badú quem levou o Jair Mendes, à época um jovem iniciante na arte, para finalizar os traços do Garantido”, segredou.

“Com isso Badú firmou um esteio na história do festival de Parintins, ele simplesmente iniciou o artista que revolucionou a festa”, finalizou Zezinho.

Os ancestrais Badú Faria e Porrotó, em um registro para ficar na história do Garantido e do Festival Folclórico de Parintins. (Reprodução/Internet)

Nota oficial

Em nota, a atual gestão do Garantido, comandada por Fábio Cardoso e Messias Albuquerque, lamentou a perda.

“A Associação Folclórica Boi-Bumbá Garantido vem publicamente lamentar o falecimento do sócio e ex-presidente, Emanoel Faria, o ‘Badú’, neste domingo,21, em Parintins. Badú foi também um ilustre e histórico batuqueiro, que com seu rocar contagiava a nação encarnada, além de ter sido amigo do nosso fundador Lindolfo Monte Verde, padrinho e torcedor apaixonado pelo boi da Baixa do São José.

A diretoria do Boi Garantido e toda nação vermelha e branca se solidarizam com os familiares e amigos neste momento de perda”, finalizou o texto.

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