Torturada grávida na ditadura, jornalista Míriam Leitão agradece apoio após Eduardo Bolsonaro ironizar crime

A jornalista Míriam Leitão e Eduardo Bolsonaro. (Arte: Thiago Alencar)

Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium

MANAUS — A jornalista Míriam Leitão agradeceu, na manhã desta segunda-feira, 4, as manifestações de apoio que teve após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ironizar a tortura sofrida por ela durante a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). Nas redes sociais, a colunista disse que “foi envolvida por uma onda forte, boa e carinhosa desde domingo”, quando o parlamentar publicou a ironia no Twitter.

A jornalista foi presa e torturada pelo governo militar durante a ditadura, enquanto estava grávida. Em uma das sessões, ela foi deixada nua em uma sala escura com uma cobra.

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“Fui envolvida por uma onda forte, boa e carinhosa desde domingo. Eu agradeço a todas as pessoas que se manifestaram aqui e por outros caminhos. As mensagens me fortalecem e me ajudam a ter esperança no Brasil e no futuro da democracia, que nos custou tão caro”, escreveu a jornalista também no Twitter.

Veja também: Eduardo Bolsonaro ironiza tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão

A jornalista agradeceu o apoio que teve após Eduardo Bolsonaro ironizar a tortura que ela sofreu durante a Ditadura Militar (Reprodução)

Os comentários do deputado foram feitos na plataforma no domingo, 3, quando o “filho 03” do presidente Bolsonaro compartilhou uma imagem da última coluna da jornalista Míriam Leitão no jornal O Globo. Na publicação, Eduardo Bolsonaro escreveu “ainda com pena da [emoji de cobra]”. O político é conhecido pelo costume da defender a ditadura e já prestou homenagens a Carlos Brilhante Ustra.

No Twitter, profissionais da comunicação, políticos e artistas manifestaram solidariedade a Míriam Leitão. Um deles foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Minha solidariedade à jornalista Míriam Leitão, vítima de ataques daqueles que defendem o indefensável: as torturas e os assassinatos praticados pela ditadura. Seres humanos não precisam concordar entre si, mas comemorar o sofrimento alheio é perder de vez a humanidade”, lamentou o ex-presidente Lula, no Twitter.

O ex-presidente Lula prestou solidariedade à jornalista Míriam Leitão (Reprodução)

Indigno

A apresentadora do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, jornalista Vera Magalhães, criticou a postura do deputado federal de São Paulo e chamou o comentário dele de nojento e indigno. “A infâmia está tão normalizada que faz o que faz e não sofre nenhuma punição do conselho de ética. Pessoa baixa”, declarou a jornalista.

“A menção nojenta à cobra é porque a tortura à Míriam, grávida, se deu com o uso de uma jiboia. Se você referenda esse tipo de vagabundagem de um deputado filho de um presidente, você morreu por dentro”, desabafou Vera Magalhães.

Vera Magalhães chamou Eduardo Bolsonaro de nojento, indigno e baixo (Reprodução)

O ex-governador do Ceará e pré-candidato a presidente da República Ciro Gomes (PDT-CE) também criticou Eduardo Bolsonaro. Nas redes sociais, o presidenciável afirmou que é “difícil saber quem é o pior dos torturadores”.

“Difícil saber quem é o pior dos torturadores. O que fere primeiro ou o que reacende a chaga da memória sempre aberta de um torturado. Ao debochar de Míriam Leitão (@miriamleitao), o verme Eduardo Bolsonaro nos provoca esta sombria reflexão”, publicou Ciro Gomes.

Ciro Gomes criticou Eduardo Bolsonaro e o chamou de “verme” (Reprodução)

O ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM) delegado Alexandre Saraiva lembrou que a postura independente da jornalista Míriam Leitão já foi alvo de ataques abjetos da “esquerda e direita”. No Twitter, Saraiva também prestou solidariedade à colunista.

“Nossa solidariedade a @miriamleitao, uma mulher de coragem por quem tenho profunda admiração. Sua postura independente já a tornou alvo de ataques abjetos da esquerda e direita. Tempos sombrios onde os mais princípios de humanidade são ignorados por covardes como Eduardo Bolsonaro”, declarou o delegado, no Twitter.

Políticos de diferentes partidos também cobram punição a Eduardo Bolsonaro. A deputada Natália Bonavides (PT-RN) afirmou que a Câmara dos Deputados não pode aceitar o comentário do “filho 03” do presidente da República e vai denunciar o parlamentar ao Conselho de Ética da Câmara.

Veja também: ‘Misógino’, ‘nojento’ e ‘covarde’: parlamentares reagem ataque a de Eduardo Bolsonaro a Míriam Leitão

Cassação de mandato

Na tarde desta segunda-feira, 4, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) se manifestou e pediu a cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro. A associação exigiu que a “sórdida” manifestação seja levada imediatamente ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.

“O comentário do parlamentar faz apologia à tortura, claramente tipificada como crime no ordenamento jurídico (inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal e art. 287 do Código Penal)”, manifestou a ABI.

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