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Torturada grávida na ditadura, jornalista Míriam Leitão agradece apoio após Eduardo Bolsonaro ironizar crime
A jornalista Míriam Leitão e Eduardo Bolsonaro. (Arte: Thiago Alencar)
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04 de abril de 2022
Bruno Pacheco – Da Revista Cenarium
MANAUS — A jornalista Míriam Leitão agradeceu, na manhã desta segunda-feira, 4, as manifestações de apoio que teve após o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) ironizar a tortura sofrida por ela durante a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985). Nas redes sociais, a colunista disse que “foi envolvida por uma onda forte, boa e carinhosa desde domingo”, quando o parlamentar publicou a ironia no Twitter.
A jornalista foi presa e torturada pelo governo militar durante a ditadura, enquanto estava grávida. Em uma das sessões, ela foi deixada nua em uma sala escura com uma cobra.
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“Fui envolvida por uma onda forte, boa e carinhosa desde domingo. Eu agradeço a todas as pessoas que se manifestaram aqui e por outros caminhos. As mensagens me fortalecem e me ajudam a ter esperança no Brasil e no futuro da democracia, que nos custou tão caro”, escreveu a jornalista também no Twitter.
Os comentários do deputado foram feitos na plataforma no domingo, 3, quando o “filho 03” do presidente Bolsonaro compartilhou uma imagem da última coluna da jornalista Míriam Leitão no jornal O Globo. Na publicação, Eduardo Bolsonaro escreveu “ainda com pena da [emoji de cobra]”. O político é conhecido pelo costume da defender a ditadura e já prestou homenagens a Carlos Brilhante Ustra.
No Twitter, profissionais da comunicação, políticos e artistas manifestaram solidariedade a Míriam Leitão. Um deles foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Minha solidariedade à jornalista Míriam Leitão, vítima de ataques daqueles que defendem o indefensável: as torturas e os assassinatos praticados pela ditadura. Seres humanos não precisam concordar entre si, mas comemorar o sofrimento alheio é perder de vez a humanidade”, lamentou o ex-presidente Lula, no Twitter.
Indigno
A apresentadora do programa “Roda Viva”, da TV Cultura, jornalista Vera Magalhães, criticou a postura do deputado federal de São Paulo e chamou o comentário dele de nojento e indigno. “A infâmia está tão normalizada que faz o que faz e não sofre nenhuma punição do conselho de ética. Pessoa baixa”, declarou a jornalista.
“A menção nojenta à cobra é porque a tortura à Míriam, grávida, se deu com o uso de uma jiboia. Se você referenda esse tipo de vagabundagem de um deputado filho de um presidente, você morreu por dentro”, desabafou Vera Magalhães.
O ex-governador do Ceará e pré-candidato a presidente da República Ciro Gomes (PDT-CE) também criticou Eduardo Bolsonaro. Nas redes sociais, o presidenciável afirmou que é “difícil saber quem é o pior dos torturadores”.
“Difícil saber quem é o pior dos torturadores. O que fere primeiro ou o que reacende a chaga da memória sempre aberta de um torturado. Ao debochar de Míriam Leitão (@miriamleitao), o verme Eduardo Bolsonaro nos provoca esta sombria reflexão”, publicou Ciro Gomes.
O ex-superintendente da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM) delegado Alexandre Saraiva lembrou que a postura independente da jornalista Míriam Leitão já foi alvo de ataques abjetos da “esquerda e direita”. No Twitter, Saraiva também prestou solidariedade à colunista.
“Nossa solidariedade a @miriamleitao, uma mulher de coragem por quem tenho profunda admiração. Sua postura independente já a tornou alvo de ataques abjetos da esquerda e direita. Tempos sombrios onde os mais princípios de humanidade são ignorados por covardes como Eduardo Bolsonaro”, declarou o delegado, no Twitter.
Políticos de diferentes partidos também cobram punição a Eduardo Bolsonaro. A deputada Natália Bonavides (PT-RN) afirmou que a Câmara dos Deputados não pode aceitar o comentário do “filho 03” do presidente da República e vai denunciar o parlamentar ao Conselho de Ética da Câmara.
Na tarde desta segunda-feira, 4, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) se manifestou e pediu a cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro. A associação exigiu que a “sórdida” manifestação seja levada imediatamente ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados.
“O comentário do parlamentar faz apologia à tortura, claramente tipificada como crime no ordenamento jurídico (inciso XLIII do art. 5º da Constituição Federal e art. 287 do Código Penal)”, manifestou a ABI.
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