Tráfico internacional aumenta risco de extinção do Acari-zebra, espécie que só é encontrada no Pará
14 de outubro de 2021
Acari-zebra, espécie ameaçada de extinção, só é encontrada no rio Xingu, na região Sudoeste do Pará (Wikipédia)
Rômulo D’Castro – Da Cenarium
PARÁ – O Acari-zebra, também chamado de Cascudo-zebra, é ameaçado de extinção e corre sério risco de desaparecer do único lugar onde pode ser encontrado na natureza: rio Xingu, no Sudoeste do Pará. Ele mede menos de 15 centímetros, mas, pela aparência exótica e por ser extremamente raro, pode custar dois mil dólares (cerca de R$10 mil).
O alerta é de ambientalistas que há anos pesquisam o comportamento da espécie, como o professor de Biologia responsável pelo Laboratório de Aquicultura de Peixes Ornamentais do Xingu (Laquax) Leandro Sousa. Em artigo publicado na revista Global Ecology and Conservation, o professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e mais três pesquisadores apontam que “por vários critérios, a espécie se enquadra como criticamente ameaçada de extinção e, por consequência, é proibida sua captura e comercialização”.
O estudo disponível verificou que o Acari-zebra é uma espécie peculiar dessa parte do Pará e se concentra em uma área restrita, principalmente na Volta Grande do Xingu, afetada com a construção de Belo Monte, maior usina hidrelétrica do País.
Mapa da Volta Grande do Xingu, onde espécie é encontrada em maior concentração. (Reprodução)
Xingu na rota do tráfico internacional
Para o biólogo Rodolfo Salm, “além de ter causado impactos ambientais, Belo Monte despertou a atenção de traficantes que voltaram os olhares para uma fauna rica e vulnerável, com espécies únicas, assim como o Acari-zebra”. E alerta ainda. “Quando você tem o tráfico internacional, que é uma nova pressão sobre a população desses peixes, você tem uma nova ameaça em cima daquela criada por Belo Monte”, finaliza o professor.
Os números refletem a preocupação de pesquisadores. Segundo a Polícia Federal do Pará, apenas no mês de agosto, em duas operações foram apreendidas 734 exemplares de Acari-zebra. Duas mulheres e um homem foram presos com os peixes em sacos plásticos escondidos em malas de viagem. Os exemplares sairiam de Altamira, no Pará, e teriam como primeira escala Manaus, capital do Amazonas. De lá, de acordo com a Polícia Federal, os animais teriam como destino outros Estados brasileiros e até países da Europa, além da China, onde o Acari-zebra é tido como luxuoso artigo de decoração.
Após captura ilegal, peixes são armazenados em sacos plásticos e escondidos em malas. (Reprodução/Polícia Federal)
No início de 2021, policiais federais realizaram outra grande apreensão em Altamira, em uma casa que funcionava como aquário e centro de distribuição. Segundo a PF, “mais de dez pessoas dividiam atividades de captura, armazenamento, venda nacional, além de exportação para outros países”. O bando era responsável, ainda, por comandar a rede de comercialização direta para outros Estados brasileiros, que levava a espécie para países da Ásia.
No mapeamento feito pela Polícia Federal foi possível desenhar como os criminosos agiam. Primeiro eles faziam contato com ribeirinhos da Volta Grande do Xingu, que ficavam responsáveis pela captura. Os próprios ribeirinhos se encarregavam de entregar a “encomenda” na casa onde os animais eram armazenados. Por fim, o contato com traficantes de outros Estados brasileiros permitia acesso a compradores fora do Brasil.
Operação da Polícia Federal descobriu que ribeirinhos eram pagos para capturar ilegalmente o peixe. (Polícia Federal)
Crime milionário e lei frágil
Não há como precisar o tamanho do impacto com a comercialização ilegal de Acari-zebra, mas a Polícia Federal acredita que apenas no período de dezembro de 2020 a agosto deste ano, o tráfico internacional movimentou mais de R$ 2 milhões de dólares (mais de R$ 10 milhões). Com as operações foi possível observar ainda que, por causa do armazenamento inadequado, muitos acabaram morrendo antes mesmo de chegar ao aeroporto de Altamira, por onde criminosos tentavam embarcar.
Punições
Tráfico de animais silvestres ou ameaçados de extinção, como o Acari-zebra, é crime punido com multa estipulada pela Justiça, além de prisão, mas a lei é branda e facilita a ação de traficantes, como explica o advogado Joaquim Neto. “Atualmente, a pena vai de seis meses a um ano de detenção, o que significa que se trata de um crime de menor potencial ofensivo e que, na prática, não há prisão” .
Um projeto de autoria do deputado federal Alberto Neto (Republicanos-AM) pretende aumentar o tempo de prisão para três a oito anos. O documento tornaria mais duras as punições para autores de crimes ambientais, alterando a lei atual e possibilitando, por exemplo, prisão em flagrante.
Posicionamento da empresa
Em nota, a Norte Energia, empresa responsável por Belo Monte, informou que “realiza ações para monitoramento e conservação de peixes ornamentais, dentre os quais o Acari-zebra, espécie historicamente pressionada pela exploração e o comércio ilegal.”
A empresa destaca que “tais ações são executadas por meio de um convênio com a Universidade Federal do Pará (UFPA)”, e garante, ainda, que financiou um projeto de reprodução de Acari-zebra em cativeiro.
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