Transparência de dados da Covid-19 no Pará ameaçados após mudança técnica em procedimento de saúde

Agente de saúde realiza ação de desinfecção de ambiente em residência do bairro Cremação em Belém (João Paulo Guimarães/ Revista Cenarium)

João Paulo Guimarães – Da Revista Cenarium

BELÉM, PA – Em Belém, no Pará, a falta de números reais da pandemia já não causa mais comoção entre a população que esqueceu completamente os meses de pico do novo coronavírus. Nos meses de maio e abril, imagens do Instituto Médico Legal de Belém abarrotado de corpos, caminhões frigoríficos e carros funerários parados na porta assustaram a população paraense que entendeu a necessidade de ficar em casa.

Essas cenas geraram uma série de mudanças que o Governo do Estado elaborou para mascarar essa realidade de acordo com uma fonte do IML pela REVISTA CENARIUM nessa segunda-feira, 28. Foram modificações de normas técnicas que, na verdade, tratam os números com descaso proposital.

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“O óbito por Covid-19 é considerado uma morte natural ou biológica. De causa orgânica. O IML é voltado para a verificação de causas externas e não naturais, ou seja, causas violentas. A responsabilidade pelos óbitos por Covid-19 seria do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), da Sespa (Secretaria de Saúde do Estado do Pará), que por falta de estrutura física funcionava no mesmo prédio do IML. IML e SVO recebiam de forma concomitante corpos de todas as naturezas de óbitos”, diz a fonte.

No entanto, o servidor do IML explica ainda que nenhum corpo com suspeita de Covid-19 vai para o IML. No Pará, o IML não faz necropsia de mortes naturais, por exemplo. “Homem faleceu na UPA X de pneumonia não especificada, então a declaração de óbito precisa ser emitida com essa causa lá nessa UPA. De lá da UPA, o corpo já sai para procedimento funerário. Esse corpo não vai passar mais pelo IML”, explica.

Outro exemplo citado é quando uma vítima morre com sintomas gripais com febre e falta de ar, por exemplo, poderia ser Covid-19, mas, se a vítima faleceu em domicílio, o óbito será atestado na residência, por equipe do SVO móvel. Não haverá teste confirmatório ou necropsia. Apenas a liberação do corpo para sepultamento.

A fonte explica que o diagnóstico muitas vezes é impreciso por não haver teste confirmatório e nem necropsia dos corpos. “Os dados enviados para a Sespa se baseiam somente em casos diagnosticados nos estabelecimentos de saúde ou nos testes sorológicos realizados esporadicamente em alguma ação itinerante. Óbitos suspeitos sem testes diagnósticos são enterrados sem diagnóstico”, completou.

“Além disto, ainda há os inúmeros casos com quadros leves, sem internação, que não evoluem a óbito, que se recuperam, voltam às atividades e não realizam nenhum teste diagnóstico. Esses sequer entram nas estatísticas do Estado”, finalizou.

A reportagem ainda procurou a assessoria de imprensa da Sespa para comentar sobre o procedimento de identificação de casos de óbitos por Covid-19 e aguarda um posicionamento.

Governo abre novos leitos

Em comunicado oficial, na manhã de sábado, 26, o governador Helder Barbalho informou o incremento de mais 55 leitos de UTI e dez leitos clínicos na rede de saúde estadual. Além de atualizar o cenário epidemiológico da Covid-19 no Estado também anunciou a publicação de medidas preventivas, especialmente, sobre a aglomeração de pessoas nas festas de fim de ano.

Dados

O cenário atual do novo coronavírus no Pará é de 291.907 casos confirmados, 272.998 recuperados e 7.149 óbitos confirmados pela doença até essa segunda-feira, 28.

O Estado apresenta, atualmente, a ocupação de 41% de leitos clínicos e 66% de UTI. Entretanto, com a identificação do aumento do número de solicitações de internações em UTI nos últimos dias, são necessárias novas medidas de precaução. Em agosto, a Sespa recebeu 438 pedidos; em setembro, 321; em outubro, foram 308; novembro, 323. No mês de dezembro, até o dia 26, foram 356 solicitações.

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