Transplantes de órgãos no Brasil ganham fôlego e se tornam mais eficazes com novas técnicas
02 de janeiro de 2022

Com informações do Infoglobo
BRASÍLIA e SÃO PAULO — Depois de apenas um mês à espera de um transplante de fígado, a pensionista Viviam Lima de Araújo foi para topo da fila.
“Recebi essa notícia maravilhosa, mas eu sabia que não iria aguentar muito mais tempo”, conta.
Aos 61 anos, Vivian, que mora em Itaboraí, a 45 km do Rio, precisava ser internada frequentemente por complicações da doença que a acometia, uma cirrose severa. Em 15 de novembro, quando seu telefone tocou com a notícia de que chegara a sua vez, ela foi comunicada que ainda não era a primeira da fila. Esse lugar era do pequeno Davi Moraes, de apenas 6 anos de idade. Mesmo assim, ela receberia um novo fígado — ou parte dele. Ambos foram beneficiados graças a uma decisão da equipe do cirurgião Lúcio Pacheco, coordenador do transplante de fígado dos Hospitais da Rede D’Or, que optou por dividir o órgão doado e salvar duas vidas, em vez de uma.
“Nasci de novo, agora é vida nova”, comemora Vivian.
Pacheco explica que o nome técnico do procedimento é split liver, algo como ‘fígado dividido’, em tradução livre.
“Esse método dá mais trabalho, mas, quando conseguimos fazer isso com excelência técnica, é possível ajudar duas pessoas na fila do transplante a partir de um único fígado”, explica o cirurgião.
Esse tipo de cirurgia é raro no Brasil devido a sua complexidade. Graças aos avanços da tecnologia e os conhecimentos científicos, deverá ocorrer mais vezes. São necessárias três equipes, uma para captar e dividir o órgão, e as outras duas prontas para realizar o transplante. Nesse caso específico, os dois pacientes eram de Pacheco. O feito envolveu dois hospitais da Rede D’Or e mais de 24 profissionais, dos quais cinco cirurgiões. Um foi responsável por preparar o órgão e dois estavam presentes em cada transplante realizado.
Para o cirurgião de transplantes Ben-Hur Ferraz Neto, livre-docente pela Universidade de São Paulo e uma das maiores referências na área, a ausência de um protocolo para determinar os parâmetros desse tipo de procedimento no País também contribui para que ele não aconteça de forma frequente.