Trazendo de volta a pauta indígena para a Sapucaí, Unidos da Tijuca vai cantar a lenda do guaraná

Com informações de O Globo

RIO — A Unidos da Tijuca leva para o carnaval o enredo “Waranã – A reexistência vermelha”, que falará sobre ciclos, descendências e resistência. Desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, conhecido por abordar temáticas políticas na Sapucaí, o Pavão vai mostrar a importância da luta dos povos indígenas.

Segundo o artista, o enredo foi inspirado na obra “Sehaypóri: o livro sagrado do povo Sateré-mawé“, do autor Yaguarê Yamã, escritor originário do povo Sateré-mawé. E conta que o fruto que vem da Amazônia é, originalmente, os olhos de um menino indígena que foi mordido por uma serpente quando estava pegando frutos na floresta. Desde 2016 sem participar do Desfile das Campeãs, a escola do Borel trouxe o novo carnavalesco buscando uma estética diferente, com menos alegorias humanas e muitas cores vibrantes.

— Tenho um estilo e uma estética diferente do que a escola está acostumada a desfilar. Estou trazendo uma estética do desfile em formato de conto, de ilustração. Meu projeto é mais artesanal, menos coreografado e sem muita alegoria humana. Estamos trabalhando desde agosto e nenhuma peça é igual à outra. As folhas, por exemplo, são todas feitas manualmente, uma a uma, não queria algo que fosse padronizado — disse o carnavalesco.

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Jack conta que o livro utilizado na pesquisa, que também é ilustrado por Yaguarê, trouxe a inspiração para a elaboração dos projetos de carros e fantasias em um estilo mais popular e autodidata, permitindo que a escola fique mais livre, mais solta e bem menos coreografada.

— Esse enredo tem uma leitura super fácil, como um gibi. Ele é todo desenhado, com uma pegada mais infantil, mais ingênua. Acho que isso vai chamar muita atenção. E o fato também de a Tijuca estar com a proposta de fazer um desfile mais solto. Em termos de harmonia, isso vai chamar bastante atenção — revela.

Famoso por elaborar enredos críticos, Jack conta que mesmo o enredo tendo um estilo mais lúdico, não poderia deixar de abordar questões relevantes para a sociedade e levantar uma reflexão sobre a cultura indígena.

Confira o samba-enredo da Tijuca

“Waranã – a reexistência vermelha”

Autores: Anderson Benson, Eduardo Medrado e Kleber Rodrigues

Intérpretes: Wantuir e Wictoria Tavares

Alto céu
De Tupana e Yurupari
Duas forças que vão fluir
A energia de Monã
Que equilibra o bem e o mal
Um lugar onde as pedras podiam falar
Onde irmãos desfrutavam
A beleza singular
Anhyã, bela e habilidosa
Mas a cobra ardilosa usa a flor pra lhe tocar

E nasce Kahu’ê, o curumim
De olhos alegres… sempre assim
Presença tão breve
A ingenuidade sucumbe à maldade

Renasce Kahu’ê, o curimim

Seus olhos alegres não têm fim
Pois o bem é maior, vai reexistir

Vida ligeira, passageira
Plantada no solo da pura emoção
De pele vermelha, os frutos de uma nação
Vida inocente, vira semente
E ao som de uma ave a cantar
Floresce imponente o povo do guaraná
E se a cobiça e o fogo chegarem na aldeia
Deixa a força Mawé ressurgir
E sorrir quando o sol reluzir
Nesse dia eles vão temer
E o amor vai vencer

Erê, essa mata é sua… É sua
Erê, vem provar doce mel… Doce mel
Waranã da Tijuca
Vem brincar no Borel

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