Três em cada quatro mulheres de 16 a 24 anos sofreram algum tipo de assédio sexual nos últimos 12 meses

Jovens são maioria entre as vítimas de assédio (Divulgação)

Com informações do Infoglobo

RIO DE JANEIRO – Mulheres jovens e negras foram as principais vítimas de assédio e importunação sexual no Brasil ao longo do último ano. De um universo de 26,5 milhões de brasileiras que relataram ter ouvido cantadas ou comentários desrespeitosos nas ruas e no trabalho no último ano, 73% têm idade entre 16 e 24 anos, ou seja, três em cada quatro mulheres dessa faixa etária.

Os dados sobre o perfil da mulher vítima de assédio no País integram uma pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada em junho passado. Como descreve o estudo, feito sob encomenda do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, “a vitimização por assédio está intimamente relacionada à idade: quanto mais jovens, maior a prevalência”. Na faixa etária entre 25 a 34 anos, o percentual de vítimas é de 46,8%. Entre as mulheres de 35 a 44 anos, o índice é de 36,5% e, na faixa de 45 a 59 anos, 22,5%.

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“É importante ressaltar que não são só os números, mas nossa própria vivência também mostra que toda mulher, em algum momento de sua vida, foi vítima de algum tipo de assédio”, pondera Hildete Pereira de Melo, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), economista e especialista em questões de gênero. “Que mulher nunca sofreu assédio? Estou no movimento feminista desde os anos 1970, e sabemos que o corpo da mulher é objetificado em qualquer idade.

Quanto ao perfil racial, segundo o estudo do Instituto Datafolha, 52,2% das mulheres negras relataram ter sofrido assédio nos últimos 12 meses. Entre as brancas, o índice cai para 30%, “trazendo para o centro do debate o racismo, o machismo e a objetificação do corpo das mulheres negras como variáveis centrais”, como conclui o próprio relatório da pesquisa.

“Esse número reflete uma questão de renda. As mulheres brancas são melhor posicionadas na sociedade, usam menos o transporte público, por exemplo. Os ônibus andam lotados pela população pobre, que é majoritariamente a população parda e preta”, destaca a professora da UFF. 

Para ela, a educação está na raiz desse problema. Homens, ela afirma, foram “historicamente educados de forma a entender que os corpos das mulheres são submissos aos desejos deles”. As mulheres, por outro lado, foram ao longo de décadas ensinadas a “não reagir, como se a reação fosse vista como escândalo, um tipo de mau comportamento”.

“Hoje isso mudou. Você sabe que, se der um grito, outras mulheres te apoiarão. Antes, a submissão era muito mais sufocante do que ela se exprime no momento, mas ainda há muito a avançar”, defende a especialista.

Na opinião dela, o trabalho de transformação pela educação precisa começar já nas creches, com as crianças com idade de 2 ou 3 anos, “no sentido de ensiná-las a serem cuidadosas umas com as outras”.

“As socializações ainda são feitas de formas distintas para homens ou mulheres, ou seja, damos bebês de brinquedo para as meninas, e para os meninos, carrinhos. E quando você dá uma boneca para a menina, está dizendo a ela que tem que cuidar de um ser. Para o menino, não. Isso precisa mudar”, destacou.

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