Três Ligas Carnavalescas ingressam ação contra Prefeitura de Belém
Por: Mayra Leal
11 de fevereiro de 2025
BELÉM (PA) – Três Ligas Carnavalescas de Belém (PA) ingressaram com uma ação no Ministério Público do Pará (MPPA) pedindo a revogação do edital de chamamento público das agremiações carnavalescas para a realização dos desfiles e concursos oficiais do Carnaval 2025. O documento foi protocolado no MPPA na terça-feira, 11. A informação foi confirmada pela Cenarium
Além disso, o documento também pede a paralisação geral do carnaval oficial de Belém, até que haja uma solução para a falta de recursos para os dias do evento neste ano. As Ligas que ingressaram com a ação no órgão foram dos distritos de Outeiro, Mosqueiro e da Ilha de Cotijuba. Veja o documento:
As ligas pedem uma resposta das autoridades sobre a falta de recursos para blocos de rua e para os desfiles tradicionais da capital. O edital de chamamento público do município foi lançado na última segunda-feira, 10. O documento, no entanto, contempla apenas as escolas de samba de Belém e Icoaraci, um dos distritos que formam a capital do Estado, deixando de fora as escolas de outros três distritos: Mosqueiro, Outeiro e Ilha de Cotijuba

Em entrevista à CENARIUM, o coordenador das agremiações de enredo e blocos alternativos do carnaval de Outeiro, Luís Henrique, informou que foi surpreendido com a falta de financiamento aos grupos. Segundo o coordenador, as ligas estavam na expectativa de receber os investimentos. Elas intensificaram o trabalho após reunião realizada pela Fundação Cultural do Município de Belém (Fumbel), no dia 16 de janeiro.
“Na ocasião, a nova coordenação da Fumbel fez uma explanação geral do que seria o carnaval 2025, pedindo inclusive para que as agremiações de Outeiro intensificassem os trabalhos nos barracões e agilizassem as documentações inerentes ao edital. Em momento algum, os diretores da Fumbel mencionaram qualquer assunto relativo a mudanças no carnaval de Outeiro”, contou Luís.
De acordo com o coordenador em Outeiro, o trabalho de demarcação da pista de desfile das agremiações também já havia começado e além disso, as escolas já tinham comprado material para confeccionar fantasias, carros alegóricos e algumas fizeram dívidas, contando com os recursos da Prefeitura, e temem ficar no prejuízo.
“Isso fez com que acelerássemos nosso trabalho, nos atolamos em dívidas com fornecedores, artesãos, soldadores e colaboradores e quando sai o edital somos excluídos sem um motivo que justificasse, já que o Distrito de Icoaraci que é da mesma categoria foi contemplado. Estamos indignados e perplexos, por isso procuramos o Ministério Público”, concluiu. Em Outeiro, o desfile é realizado desde 1994, com recursos municipais.
Questionada pela CENARIUM, a Prefeitura de Belém informou, por meio de nota, que “as ações festivas relacionadas ao Carnaval 2025 ainda estão sendo avaliadas para oferecer à população um carnaval diverso e sustentável”.

A vereadora de Belém, Marinor Brito (Psol), também acionou o Ministério Público pedindo que o órgão se manifeste sobre o assunto.
“Pedi ao Ministério Público porque tem previsão no plano plurianual na lei de diretrizes orçamentárias e também na lei orçamentária aprovada em 2024 para 2025. Então não se justifica esse corte. É um grande prejuízo pras escolas de samba que já começaram a investir ficar sem dinheiro e sem a possibilidade de participar desse momento que é um momento de síntese, de apoteose e de brilho e de alegria das comunidades que amam o Carnaval de Belém, especialmente nessas regiões que estão descobertas do apoio do poder público municipal”, explicou a parlamentar à CENARIUM.
A reportagem aguarda posicionamento do Ministério Público do Pará.
Prestes a completar setenta anos, escola de Mosqueiro ficou sem recursos

Outra agremiação excluída do edital é a Escola Peles Vermelha de Mosqueiro, que, desde 1956, faz carnaval na ilha. Há pouco menos de um mês do dia oficial do desfile da escola, previsto para o domingo de carnaval, 2 de março, a escola foi informada que receberá apenas um suporte para a realização do desfile dentro da programação municipal.
“Até agora não disseram qual vai ser esse suporte, se vai ser carro de som, iluminação. Só sabemos que não teremos como sair do jeito que a gente imaginou e desejou, porque é preciso vários profissionais para colocar a escola na rua, como costureiras, artesãos, ferreiros, e a escola não terá recurso para gratificar”, informou a presidente da Escola de Samba, Maria Inês, à CENARIUM.
Sem o investimento, o desfile será realizado sem alegorias e fantasias. Segundo Maria Inês, a agremiação mandará fazer apenas camisas personalizadas para os componentes. “A gente já tinha investido em samba, bateria e vamos fazer o desfile porque o povo mosqueirense merece. Pois muita gente não tem dinheiro pra viajar para outros locais onde o carnaval acontece, então vamos tentar fazer com que a nossa comunidade não fique sem carnaval”, explicou a presidente da escola.
As Ligas demonstraram insatisfação com a condução de recursos feita pela Prefeitura, mas também teceram críticas ao Governo do Pará O corte de recursos ocorre no mesmo ano em que o Governo do Estado realizou o maior patrocínio da história do carnaval para a escola de samba Grande Rio, no carnaval do Rio de Janeiro.
A agremiação que homenageará o estado recebeu o investimento de R$ 15 milhões para realização do desfile. “É muito triste tudo isso que a gente tá vivendo, a gente sabe que existe verba específica, essa verba foi orçada ano passado. Por causa da COP, querem fazer propaganda fora e pisando na gente, 15 milhões pra uma Grande Rio que já tem um cofre imenso e não quer dar 30 mil pra uma escola que é de Belém”, lamenta a presidente da Peles Vermelha.
Desfiles dos blocos devem acontecer, mesmo sem recursos
A informação de que o carnaval nos distritos seria suspenso fez com que blocos dos distritos precisassem reforçar que irão desfilar normalmente. O bloco Recordar Mosqueiro informou à CENARIUM que a polêmica não atinge a programação prevista.
“Com essa controvérsia, as pessoas entram em contato comigo perguntando se está mantido ou não e eu estou garantindo que sim. Temos a nossa concentração própria, o nosso trio elétrico próprio, as duas bandas que vão tocar, ou seja, a nossa programação está mantida, assim como a dos outros blocos de Mosqueiro”, explicou o coordenador Victor Tavares. O bloco sairá na segunda-feira, 3 de março.
Em Icoaraci, um dos blocos mais tradicionais do carnaval paraense, o Rabo do Peru, que completa 30 anos em 2025, também fez questão de destacar que desfilará normalmente. “Neste ano, nós vamos abrir a festa em Icoaraci e vamos fazer o nosso melhor como fazemos todos os anos. Enquanto eu tiver vida, o Rabo do Peru vai sair”, disse o fundador do bloco Marquinho Moraes.

O Rabo do Peru sairá na quarta-feira de cinzas, 5, como é de tradição e começará a vender os abadás no próximo domingo, 16. Neste ano, o bloco terá como tema os 30 anos de Rabo de Peru e a COP 30.