Trump na presidência pode cancelar US$ 500 milhões para Amazônia
Por: Carol Veras
06 de novembro de 2024
MANAUS (AM) – Analistas indicam que o retorno de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos em 2025 impactará diretamente a economia brasileira. A reeleição também poderá afetar os investimentos direcionados à Amazônia, pressionando a valorização do dólar e reduzindo as exportações para o segundo maior parceiro comercial do Brasil. O presidente Joe Biden anunciou, em abril do ano passado, um compromisso de US$ 500 milhões para o Fundo Amazônia, distribuídos ao longo de cinco anos. Com a volta do republicano ao poder, o restante do valor poderá ser cancelado.
A diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou, em agosto deste ano, o contrato para a nova doação dos Estados Unidos ao Fundo Amazônia, no valor de US$ 47 milhões (cerca de R$ 270 milhões). Esse aporte complementa a entrega inicial de US$ 50 milhões, aproximadamente R$ 285 milhões, e faz parte do compromisso de US$ 500 milhões assumido pelo presidente Joe Biden em abril de 2023.

De acordo com a embaixada americana, Biden continuaria trabalhando com o Congresso dos EUA para garantir o financiamento restante ao fundo, que deve ser liberado até 2028. Desde a retomada das atividades, o Fundo já soma R$ 1,4 bilhão em novos contratos de doação, além de promessas de doações que totalizam cerca de R$ 3,1 bilhões, considerando o câmbio atual.
No campo ambiental, a preocupação se intensifica. Trump já prometeu abandonar o Acordo de Paris no primeiro dia de mandato, caso seja reeleito, o que sinaliza desinteresse em metas climáticas globais. Além disso, o republicano planeja incentivar o uso de combustíveis fósseis, incluindo novos projetos de extração, que, embora possam reduzir o preço do barril de petróleo, aumentam a emissão de poluentes. Em uma possível mudança de postura, Trump poderia retroceder em avanços promovidos por Joe Biden no G20, enfraquecendo o compromisso conjunto de crescimento sustentável, uma pauta celebrada pelo Brasil.

O Fundo Amazônia, criado em 2008, apoia ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, além de promover a conservação e o uso sustentável da Amazônia Legal. Até 20% dos recursos podem ser investidos em sistemas de monitoramento e controle do desmatamento em outros biomas brasileiros e países tropicais. Atualmente, o fundo conta com sete doadores, dos quais seis são governos estrangeiros.
Até agora, o fundo já apoiou 114 projetos, que totalizam R$ 2,5 bilhões em investimentos, beneficiando cerca de 239 mil pessoas com atividades produtivas sustentáveis e gerando R$ 317 milhões em receitas. Além disso, 101 terras indígenas e 196 unidades de conservação, somando mais de 74 milhões de hectares, receberam apoio para o fortalecimento de sua gestão e proteção.
Outros impactos
Entre as medidas que causam apreensão aos economistas está o plano de impor uma tarifa de 10% sobre produtos importados, afetando exportadores globais e brasileiros. No primeiro semestre de 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 19 bilhões em bens para os Estados Unidos, e um aumento nas tarifas dificultaria a competitividade desses produtos no mercado norte-americano. Os dados são da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (AMCHAM).
Para o economista Inaldo Seixas, embora seja cedo para prever as consequências de longo prazo, já há consenso de que o aumento de tarifas de importação e subsídios aos produtores americanos elevarão a dívida pública dos EUA, alimentando a inflação e reduzindo o comércio global. “O Brasil deve se preparar para um dólar mais alto e uma possível redução das exportações ao seu segundo maior parceiro comercial”, destacou.
Durante a campanha, Trump sinalizou a intenção de impor tarifas de 10% a 20% a todos os parceiros comerciais, além de taxas de até 60% para produtos da China e 100% para casos específicos. Seixas alerta que, caso o republicano cumpra essas promessas, os consumidores americanos enfrentarão alta de preços devido à dificuldade de substituir produtos importados. Isso deve impulsionar a inflação nos Estados Unidos e resultar em uma reação do Federal Reserve (Fed), com prováveis aumentos das taxas de juros, fator que pressionará o dólar e, consequentemente, a moeda brasileira.
Além disso, Seixas observa que as tarifas aumentadas para produtos chineses podem desacelerar a economia da China, principal parceira comercial do Brasil. Um cenário de guerra comercial entre EUA e China diminuiria a demanda chinesa por commodities brasileiras, mas abriria oportunidades para exportadores nacionais de soja, que poderiam substituir as compras da China de produtos agrícolas dos EUA.