Turismo acessível perto de Manaus: nado com botos e visita a aldeias indígenas são atrações
Turistas podem aproveitar para nadar com os botos e apreciar a Ponte sobre o Rio Negro, como no registro de Yves Veras. (Luís Henrique Oliveira/ Cenarium)
Luís Henrique Oliveira – Da Revista Cenarium
MANAUS – Yanomamis, Tukano, Desano, Piratapuia, Tuyuka, Sateré-Mawé, Kokama. São diversas as etnias que fazem parte das raízes da população que forma a Amazônia. Mas uma realidade que antes parecia distante, a de conhecer de perto esses povos, agora, tem se tornado possível graças aos investimentos de agências de turismo que proporcionam visitas a aldeias indígenas, com direito à alimentação, nado com botos e passagem pelo Encontro das Águas. Tudo a poucos minutos do Porto de Manaus, na região do Parque Ecológico Janauari.
Vivenciar uma expedição como esta não sai mais que R$ 150 por pessoa. A primeira parada é o Porto, no Centro da capital. O grupo de turistas se prepara para embarcar às 8h com destino à primeira atração: o nado com boto. A parada fica a cerca de 15 minutos, na margem para o município de Iranduba. No local, botos-cor-de-rosa são encontrados nadando livremente pelo rio Negro, atraídos por comida, pequenos peixes que são oferecidos para que o turista entre na água e faça seu registro lado a lado com o animal. Além disso, os visitantes ainda conseguem comprar lembrancinhas, em sua maioria, artesanato produzido pelos moradores locais com materiais da floresta, como madeira, cipós e sementes, a preços justos.
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E basta uma companhia incrível para um passeio em plena terça-feira tornar o dia inesquecível. Da parada com os botos, o grupo, formado por 45 pessoas, além do guia Francineto e dois tripulantes, seguiu em direção ao Encontro das Águas. Nesse intervalo, a viagem é de mais 15 minutos. Mesmo com o uso de máscara, solicitado pelo guia, para impedir contaminações por Covid-19, foi possível sentir o cheiro vindo dos rios Negro e Solimões, que não se misturam devido a fatores que variam desde questões geológicas, climáticas, termais ou até mesmo o tamanho ou a acidez das águas. Para completar, o verde da floresta em contraste com o céu azul formava um verdadeiro quadro, digno de exposição em galerias.
Se um passeio como este já é gratificante para pessoas que residem na própria cidade de Manaus, para turistas de outras capitais e países a imersão na maior floresta tropical do mundo se torna ainda mais interessante. Seguindo a viagem, por volta das 11h, o grupo é levado ao encontro do maior peixe de escamas de água-doce e um dos mais cobiçados do mundo, o piracuru (Arapaimas-gigas), que chega a atingir 3 metros e pesar 250 quilos. Em um viveiro, dezenas deles são exibidos e podem ser alimentados pelos visitantes com ração apropriada.
Todos os turistas, entre crianças, adultos e idosos ficam impressionados com a serenidade e o tamanho do animal. Ainda no local, é possível pagar uma quantia simbólica para simular a pesca do pirarucu e comprar mais souvenirs disponíveis na lojinha recheada de artesanatos dos povos da floresta.
O momento do almoço se aproxima, mas antes disso, o guia Francineto oferece um pouco mais de aventura. Partindo do viveiro dos pirarucus, a lancha Suziane segue em direção a uma trilha suspensa e pontes de madeira instaladas mata adentro. Na região, são encontradas dezenas de sumaúmas, árvores que impressionam pelo gigantismo. O destaque para elas vai além da altura, que pode passar dos 70 metros, mas também pelo diâmetro do seu tronco que, em alguns casos, é preciso até 20 pessoas para abraçá-las.
Mais aventura
Caminhando na trilha de cerca de 100 metros de extensão, alguns macacos caiarara divertem as pessoas. Por serem danados, o guia solicita que todos agarrem bem os óculos, bonés e celulares, para evitar que eles ‘roubem’ os objetos na maior ‘cara dura’. Francineto brinca com a reação de turistas estrangeiros, que tentam, a todo momento, fugir da perseguição sem-fim dos animais. Pulando de galho em galho, o bando ganha frutas e transita sem medo dos turistas.
O passeio chega, por volta do meio-dia, ao ponto de observação das vitórias-régias. Conhecidas pelo seu formato, elas têm uma grande folha circular, com bordas levantadas, que ficam sobre a superfície da água, podendo chegar a até 2,5 metros de diâmetro e suportar até 40 quilos, se estes forem bem distribuídos em sua superfície. Além das folhas, suas flores, que são mais frequentes em março e julho, também são encontradas. Segundo moradores locais, as flores da vitória-régia são consideradas as maiores das Américas, curiosidade confirmada por especialistas em uma simples pesquisa na internet.
Minutos depois, o grupo é levado para o Restaurante Janauarylândia. Entre as opções, peixes para todos os gostos. Tem pirarucu, matrinxã, tambaqui, jaraqui. Todos ao molho escabeche ou empanados, além de acompanhamentos como arroz, farofa, maionese, vatapá e variadas opções de salada.
Visita à aldeia indígena
Seguindo viagem, é hora de partir pelo rio Solimões em direção à aldeia indígena Tuyuka, um dos povos da família linguística Tukano Oriental do Noroeste Amazônico, nativos da fronteira entre o Brasil e a Colômbia. Lá, de cara, nos deparamos com ruínas de uma construção abandonada da época do auge da borracha, uma vez que no local há um pequeno aglomerado de seringueiras, de onde se tirava o látex.
As marcas do tempo, tanto em seus caules que evidenciam a retirada da seiva, como nos muros da casa de dois andares, remetem a uma época que o Amazonas era rico e Manaus, conhecida como a Paris dos Trópicos. Segundo Francineto, a construção não suportou o fenômeno da cheia dos rios, que faz com que o solo fique tomado por água.
Uma outra razão para o abandono, é em virtude da desvalorização da atividade seringueira que fez com que os moradores tivessem de deixar tudo para trás, devolvendo o espaço aos verdadeiros donos das terras, os indígenas Tuyuka, que recepcionam os visitantes apresentando cobras, jacarés e bichos-preguiça para quem desejar registrar o momento em fotografias.
De acordo com os nativos, uma foto segurando o animal sai por R$ 10, valor que serve para custear combustível para transportes rápidos e outros itens. Após uma breve apresentação, inicia o momento de pintura, nos rostos dos visitantes, com tintas encontradas na natureza.
As pinturas são mais do que uma arte estética, elas transmitem a história da ancestralidade indígena, para identificar os membros das tribos. Desse modo, os desenhos são feitos de acordo com o gênero, a idade, a função na tribo, grupos sociais ou em rituais.
Depois de todos os turistas com os rostos pintados, para sentirem na pele a energia do local, os homens da tribo apresentam instrumentos musicais, usados em vários rituais, como o de agradecimento pelas colheitas de frutas como tucumã, açaí, bacaba e acari. Entre os instrumentos apresentados está o jurupari, que emite um som marcante, e o instrumento da vara. Na maioria das danças e rituais, tanto homens como mulheres e crianças participam.
Enfim, o contato com os nativos chega ao fim. O guia Francineto leva os turistas aos fundos da aldeia, onde é vendido artesanato indígena. E começa a contagem de todos os visitantes que são, gentilmente, convidados de volta à embarcação.
São 14h30. Com todos a bordo da lancha Suziane, o destino, agora, é o retorno ao Porto de Manaus. Tudo com a brisa do rio e o início do Pôr do Sol fechando o dia com chave de ouro, evidenciando que o contato direto com a natureza não tem preço. Até a próxima experiência…
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