Ucrânia aceita negociar com Rússia depois de aumento da pressão militar de Putin

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky  Presidência da Ucrânia (AFP)

Com informações da Folha de S.Paulo

UCRÂNIA – O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, aceitou negociar um acordo para interromper a guerra lançada pela Rússia contra seu país na quinta-feira, 24. Na prática, ele pode estar assinando sua rendição após um aumento da pressão militar de Vladimir Putin neste domingo, 27.

Forças russas entraram na segunda maior cidade da Ucrânia, Kharkiv, e iniciaram uma batalha nas suas ruas após uma noite de intensos combates. Em Kiev, a pressão continua com bombardeios, mas não há sinais de uma ofensiva total contra o centro da capital.

A movimentação veio logo após o Ocidente ter elevado o grau de punição a Moscou, ao anunciar o início da desconexão de alguns bancos russos do sistema internacional de transferências financeiras.

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No fim da manhã (madrugada no Brasil), o Kremlin anunciou que uma delegação havia sido enviada para Gomel, cidade na Belarus, a 40 km da fronteira ucraniana. “Estaremos prontos para começar negociações”, disse o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov.

Inicialmente, o governo de Zelenski rejeitou a iniciativa, presumivelmente porque o que Moscou quer é uma rendição. Em um pronunciamento, o presidente disse que seria possível conversar na Belarus se os russos não tivessem usado a ditadura aliada como uma das bases para seu ataque —justamente contra Kiev, a menos de 200 km da fronteira sul belarussa.

Por volta das 15h (10h em Brasília), contudo, a Presidência ucraniana disse que aceita ir a Gomel, demonstrando uma mudança de tom do líder. O ucraniano teve um sábado de sucesso midiático no Ocidente, deixando seu passado de comediante e político inábil no poder para trás ao fazer discursos desafiadores em Kiev.

Peskov não elaborou acerca do que a delegação vai exigir. Quando falou sobre o assunto, na sexta (25), havia citado que a ideia era negociar “a neutralidade da Ucrânia”. Este é o ponto principal das demandas feitas ao Ocidente por seu chefe, enquanto juntava quase 200 mil soldados em torno do vizinho: evitar que Kiev adira à Otan (aliança militar ocidental) e, por tabela, à União Europeia.

Putin, por sua vez, apareceu rapidamente pela primeira vez em dois dias, em um pronunciamento televisivo sobre o Dia das Forças Especiais. “Eu presto especial tributo àqueles que estão desempenhando heroicamente seus deveres militares durante a operação especial para assistir as repúblicas populares do Donbass”, afirmou.

O eufemismo para a guerra virou obrigatório para a mídia russa, agora proibida em falar “invasão” ou “agressão”. Ele se refere ao “casus belli” arrumado por Putin para, nas suas palavras, desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia: o reconhecimento como países de duas áreas controladas por rebeldes pró-Rússia desde 2014 no Donbass (leste do país), que ato contínuo pediram ajuda militar a Moscou.

Ela veio, como os meses de preparação acabaram provando, na forma de uma invasão por diversos pontos da Ucrânia. Kiev está cercada por dois pontos, a noroeste e a nordeste, mas os russos não fizeram uma ação.

“Eles podem estar sofrendo sim com a resistência ucraniana, mas essa abertura do canal de rendição parece contar outra história. Podem querer evitar um massacre de civis na capital, que acabaria com o que sobrou de imagem externa da Rússia, mas também para facilitar a instalação de um governo pró-Kremlin”, diz o cientista político Konstantin Frolov.

Por outro lado, disse, há rumores em Moscou de que Putin poderá escalar a ação militar de forma dramática, uma vez que sua abordagem até aqui não dobrou Zelenski.

Aí entra a eventual queda de Kharkiv. Já na noite de sábado houve movimento grande de blindados, tanques e obuseiros autotransportados pela fronteira na região de Belgorod, prenunciando cerco e invasão. Um gasoduto na região foi explodido, mas não há ainda uma avaliação do impacto do ataque.

“Estamos resistindo ao inimigo”, disse a conta de Facebook da prefeitura local.

Se Kharkiv e seus 1,4 milhão de habitantes estiverem em mãos russas, isso pode facilitar o reforço das operações em Kiev, a oeste, e cortará uma linha importante entre as forças ucranianas que operam nas antigas fronteiras da chamada linha de contato, que a separava os rebeldes do Donbass.

Ao mesmo tempo, os russos tomaram cidades nos arredores de Kherson, cidade cerca de 500 km ao sul de Kharkiv. Se a conquistarem, poderão “fechar” uma linha cruzando o país, espremendo forças ucranianas entre ela e o Donbass.

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