UFRR e indígenas Waimiri Atroari debatem implementação de Educação de Jovens e Adultos
Por: Ian Vitor Freitas*
22 de novembro de 2024
BOA VISTA (RR) – A comunidade indígena Waimiri Atroari em Roraima deve receber a implantação da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A discussão sobre o assunto ocorreu no Núcleo de Apoio Waimiri Atroari/NAWA, junto com representantes da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Na reunião, também foi pontuada a renovação do acordo de cooperação existente entre as duas instituições.
O primeiro acordo de cooperação entre as duas instituições tem como objetivo a realização do projeto intitulado “Capacitação Programa Waimiri Atroari”, que implementa cursos de capacitação voltados para os indígenas.
O projeto está sediado no Instituto de Antropologia (Inan) e é executado pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGANTS), assim como pelo curso de Bacharelado em Antropologia, atualmente sob a coordenação do professor da UFRR, Carlos Alberto Marinho Cirino.

De acordo com informações do professor da UFRR e assessor da associação da comunidade, Carlos Cirino, a relação dos indígenas com a universidade passou a ser mais direta e próxima no ano de 2010. A busca da comunidade por cursos se intensificou a partir do ano de 2017.
“A comunidade me procurou e queria saber se a UFRR poderia desenvolver cursos de capacitação a nível de extensão para eles. A busca dos indígenas Waimiri Atroari era conhecer nossa cultura, nossa ciência e buscamos levar esse conhecimento para eles. Atualmente, estamos reavaliando os aditivos para que o acordo seja renovado e os cursos possam continuar levando o máximo de conhecimento”, explica Cirino.
Ele ainda destacou outro acordo de cooperação voltado para implantação do Ensino Fundamental em formato de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Além disso, a ideia é trazer também o Ensino Médio, sendo todos coordenados pela UFRR na terra indígena.
“Essa seria uma primeira turma na busca por implantar um Ensino Médio, Técnico ou Magistério para que eles possam começar a construir suas escolas na comunidade. A proposta é que eles não saiam da sua localidade, mas que o professor vá para a comunidade lecionar. Durante a reunião junto com o reitor da UFRR e uma equipe do Colégio de Aplicação explicamos o que seria a EJA, como poderia ser implantada, ou seja, como de fato esse modelo poderia ajudar no objetivo da comunidade”, afirma o professor Carlos Cirino.
Democratização da educação
Para o reitor da UFRR, José Geraldo Ticianeli, a busca pela celebração dos acordos de cooperação com a comunidade indígena é mais uma das ações de interiorização da universidade, com o objetivo de democratizar cada vez mais o acesso a uma educação Superior de qualidade para a sociedade roraimense.
“A interiorização da nossa universidade tem sido um objetivo primordial das nossas ações. O exemplo dessa busca são as discussões para implantação dos cursos da Eagro em Alto Alegre e da EJA na comunidade indígena Waimiri Atroari, por meio do nosso Colégio de Aplicação. Esse é um compromisso que a UFRR faz com a comunidade local, o de estar sempre na busca de atender com educação superior da melhor qualidade e com isso contribuir com o desenvolvimento econômico e social do Estado”, destaca.
Já o professor Carlos Cirino, reitera o caráter inovador da experiência que a UFRR tem tido com a comunidade. “Foi a comunidade que procurou a UFRR com essa demanda, pois sentiram a necessidade. Então, a universidade abraçou esse pedido e vem buscando fazer o seu papel de levar o conhecimento. Claro, tem todas as dificuldades como o de deslocamentos, mas esse é um trabalho inovador e temos que nos orgulhar muito. É uma etnia que se manteve muito tempo fechada, agora resolveram ampliar seu contato e estamos levando a UFRR até eles”, destacou o professor.
Waimiri Atroari
O povo indígena da comunidade Waimiri Atroari está localizado na Amazônia brasileira, entre o Norte do Estado do Amazonas e Sul do Estado de Roraima. De acordo com o site Terras Indígenas Brasil, os municípios que comportam a maior área do território é Novo Airão (39,41%) e Presidente Figueiredo (31,05%), ambos do Amazonas, em terceiro está Rorainópolis (25,49), município de Roraima.

Além disso, o site ainda aponta um crescimento de significativo da população indígena na região. Dos anos de 2002 até 2022, o número de Waimiri Atroari aumentou de 954 para 2200 indígenas.
A busca por educação da UFRR é um avanço significativo para esse povo indígena, já que uma das suas características é o pouco contato com entidades fora do território, um dos motivos da ação se deve ao por conta do crescimento populacional.
Em 2022, Universidade Estadual de Roraima divulgou uma pesquisa que destaca a história dos povos indígenas da Amazônia, que foram marcados por conflitos e violências. Um desses povos é o Waimiri Atroari, que sofreram nesse período, sendo feitos de escravos na expansão da economia mercantil-extrativista de exploração da Amazônia advinda dos conflitos entre Portugal, Espanha e Holanda.