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Um dos setores mais afetados pela pandemia, artistas locais compartilham perspectivas para 2022
Aldeia da Memória Indígena de Manaus, um memorial feito em grafismo pelo artista manauara Fábio Ortiz (Ricardo Oliveira/ CENARIUM)
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28 de dezembro de 2021
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium
MANAUS — O setor cultural tem sido, sem dúvidas, um dos segmentos mais prejudicados pela pandemia. Lentamente a classe artística vem se reerguendo do baque que só no ano de 2020 deixou, ao menos, 600 mil trabalhadores desempregados, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao final de mais um ano e com um cenário aparentemente mais esperançoso, principalmente por conta das vacinas, aCENARIUM ouviu alguns artistas locais para saber quais as perspectivas e sentimentos desses profissionais que movimentam, alegram e entretém a sociedade.
Para o produtor e cineasta amazonense Z Leão, o setor audiovisual, mais precisamente a sétima arte, ainda está longe de ser valorizada no Estado e a pandemia só piorou a luta que acontece há anos. Mesmo em períodos hostis, ele ressalta os destaques de alguns curtas-metragens produzidos no Amazonas e reforça a necessidade de iniciativas que contemplem o segmento.
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“Independente da pandemia, mesmo com o cinema amazonense estando sempre remando contra a correnteza, tivemos curtas premiados no ano. É claro que em tempos de Covid-19 tudo ficou bem mais difícil, mas não devemos esquecer que os governos locais ainda não entenderam que depois de 21 anos da retomada do cinema amazonense e graças às iniciativas incansáveis e solitárias do finado Junior Rodrigues é preciso pensar grande, agir como gente grande e não promover essas ‘meninices’ de gestão cultural no audiovisual” destaca Z Leão.
Na leitura do cineasta, muito além do período marcado pela Covid-19, dos anos 2000 até 2021 a classe que promove a produção do cinema local vive de muito esforço e pouca valorização. “Não tiveram tino para compreender que o cinema amazonense deve ser tratado com tapetes vermelhos e não com esse feito de retalhos, desbotados ainda. O cinema amazonense já conta com mais de mil profissionais atuantes e com gana de fazer grandes produções com recursos adequados, mas, infelizmente, ficam sobrevivendo ano a ano as migalhas que os tutores da cultura local insistem em dar como esmola. Os anos de 2000 até 2021 não foram ainda nada bons para o cinema amazonense”, considera.
Para um novo ano que está chegando, o cineasta espera mais investimento e assim mostrar toda a real potencialidade das produções audiovisuais. “Esperamos coisas melhores e bem maiores para os nossos futuros e talentosos cineastas, com projetos gigantescos de importância cultural mundial”, deseja Z Leão.
Contra maré
Se para a turma do audiovisual o cenário para se manter no mercado é de muita luta e insistência, os artistas que trabalham com a arte da pintura e do grafismo, mesmo em tempos pandêmicos, colheram bons frutos. Um dos nomes que se destacou entre os profissionais do grafismo no Amazonas foi o artista manauara Fábio Ortiz, de 27 anos.
Filho de pais ribeirinhos do município de Manacapuru, distante 93 quilômetros de Manaus, ele se divide entre a agronomia e a arte desde o ano de 2016, quando teve seu primeiro contato com a técnica do grafite. Um dos trabalhos mais marcantes realizados em 2021 por Ortiz foi o grafismo na Aldeia da Memória Indígena de Manaus, em abril deste ano. O mural de 34 metros, localizado na Praça Dom Pedro II, Centro Histórico da cidade, possui quatro imagens grafitadas inspiradas em livros e documentos históricos.
“Sei que em período de pandemia a classe artística tem sido muito afetada, mas com o grafite tive demandas que abriram portas. Não só eu, como meus amigos que trabalham nesta seara. Não posso reclamar, seria injusto. Obviamente, tive a rotina afetada como todo mundo e como estudante, diferente do âmbito profissional, me senti bem prejudicado, mas confesso que trabalho não faltou. Sinceramente espero que as coisas melhorem para todos e, principalmente, para os que vivem da arte. Só a gente sabe o quão valioso e essencial é o nosso ofício”, conta o artista.
Desafio
Para a cantora e sócia diretora da Casa Som Amazônia, Ellen Fernandes, os últimos dois anos foram desafiadores para os artistas independentes e assim como o cineasta Z Leão, Ellen ressalta a importância de leis de incentivo àqueles que promovem no setor cultural.
“O cenário artístico deste ano foi de muitos desafios para todo artista independente. A lei de incentivo à Cultura Aldir Blanc é muito importante nesse momento que o setor cultural ainda está se refazendo. Pude lançar o Programa Batelão da Amazônia, que é uma produção beneficiada pela lei, e pude fortalecer mais o trabalho autoral e a troca com outros artistas. Também pude perceber a necessidade de maior ampliação do mercado da música em diversos níveis, tais como o educacional e o fonográfico, por exemplo”, ressalta.
A gestora cultural torce para que junto a um novo ciclo também venha o fortalecimento e maior valorização da arte, não só como ferramenta de entretenimento, mas como instrumento de educação. “Estamos em trabalho constante para contribuir no fortalecimento de um público que saiba identificar a complexibilidade do trabalho do artista, a importância da arte e da música, especificamente como elementos de formação cidadã. Espero um ano de 2022 com muita música e muita arte, pois foram esses meios que não nos fizeram sucumbir durante a pandemia”, finaliza.
Amazonas
Com a paralisação das atividades culturais por conta da pandemia de Covid-19, o Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas, realizou diversas medidas para atenuar os impactos sofridos pela classe artística amazonense, principalmente, econômica.
De acordo com o secretário de Estado de Cultura do Estado, Marcos Apolo Muniz, entre as ações realizadas estão editais e auxílio que contemplam trabalhadores do segmento. Para amenizar as dificuldades vividas durante o período, foram entregues cestas básicas para, pelo menos, 12 mil trabalhadores da classe e aberto canais de atendimento psicossocial, entre outras atividades de suporte realizadas pela pasta.
“Muitos artistas e técnicos da área trabalham hoje para se alimentar no dia seguinte e se não tiver esse trabalho por longos períodos eles já passam por necessidades. Por isso, focamos nas ações psicossociais e nos editais, como a Lei Aldir Blanc. Em resumo, fazemos uma balança priorizando a saúde, mas entendendo que assim como a Secretaria de Ação Social estava atuando, fazendo o papel dela, a Secretaria de Cultura também tinha um grupo grande de pessoas para auxiliar no que fosse possível”, pontua o secretário.
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