Um em cada 25 credenciados na COP30 trabalha para a indústria petrolífera


Por: Fred Santana

17 de novembro de 2025
Um em cada 25 credenciados na COP30 trabalha para a indústria petrolífera
Entrada da Zona Azul da COP30, em Belém (Reprodução/COP30)

BELÉM (PA) – Mais de 1.602 representantes da indústria petrolífera e de combustíveis fósseis foram credenciados para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém, de acordo com a coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO). Isso equivale a um a cada 25 participantes do evento, segundo a análise da entidade.

Enquanto isso, organizações sociais buscam fortalecer sua presença na conferência por meio de casas e espaços próprios, lutando para que sua participação tenha impacto real, e não se limite a discursos protocolares.

Segundo o relatório da KBPO, o número de lobistas dessas áreas supera a delegação de quase todos os países presentes, exceto o Brasil, que enviou 3.805 delegados. Essa presença maciça equivale a aproximadamente 4 % dos participantes da conferência — ou seja, um em cada 25 credenciados representa interesses fósseis.

Fila para credenciamento de acesso às instalações da COP30 (Alex Ferro/COP30)

A KBPO indica que muitos desses lobistas entraram por meio de associações comerciais, como a International Emissions Trading Association (Ieta), que trouxe 60 representantes, incluindo delegados de grandes empresas como ExxonMobil, BP e TotalEnergies.

Estratégias globais de obstrução climática

Em paralelo à análise da KBPO, o livro Climate Obstruction: A Global Assessment, da Oxford University Press, descreve como estratégias políticas e institucionais de obstrução climática vêm sendo empregadas por indústrias fósseis, utilidades, agronegócio e outros setores para retardar políticas ambientais. O estudo reúne mais de 100 pesquisadores e detalha como essas redes influenciam regulações, negociações multilaterais e discursos públicos.

No livro, um papel central é atribuído às associações comerciais (trade associations). Segundo os autores, essas entidades funcionam como canais coordenados de influência, permitindo que empresas individuais participem de forma menos visível, mas com impacto estratégico. Essas organizações, afirmam, contribuem para moldar regras, minar regulações ambientais e enfraquecer acordos globais de redução de emissões.

Além disso, o estudo documenta o uso de lobby político, litigância estratégica, campanhas de desinformação e pressão institucional. Os autores afirmam que essas práticas não apenas atrasam políticas ambiciosas, mas também comprometem a transparência e a eficácia das negociações climáticas.

Onde está a sociedade civil na COP30

Enquanto a presença corporativa fóssil domina números, a sociedade civil também tem sido organizada para ter participação visível e ativa na COP30, embora enfrente desafios. A Secretaria-Geral da Presidência do Brasil divulgou um Mapa da Participação com mais de 70 casas e espaços da sociedade civil distribuídos em Belém para o evento.

Entre esses espaços estão a “Casa da COP do Povo”, promovida por organizações de base, e a “Aldeia COP 30”, organizada por povos indígenas e outras entidades sociais. Essas iniciativas fazem parte da Green Zone, área pública da conferência destinada a debates, exposições culturais, oficinas e diálogos com a população.

Para garantir participação institucional, a Secretaria-Geral organizou um seminário chamado “Espaços de Participação Social” para apresentar a estrutura e definir critérios de credenciamento para organizações da sociedade civil. Também foi criado um Grupo de Trabalho Técnico da Participação Social, reunindo governo, movimentos sociais e estados para reforçar a construção colaborativa da conferência.

Adicionalmente, o Comitê COP 30, formado por organizações como Mandí, Mapinguari, GuetoHub, Laboratório da Cidade e Palmares Lab, articula a presença da sociedade civil nos bastidores da COP. Esse comitê defende a criação de zonas (como a “Yellow Zone”) para propostas sociais mais integradas e a construção de políticas climáticas com justiça territorial.

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Editado por Adrisa De Góes

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