‘Um olhar além da notícia’: cineasta lança documentário sobre casos de feminicídios no Brasil

O cineasta Pedro Neto quer narrar casos com "um olhar além da notícia" (Reprodução/Internet)

Victória Sales – Da Cenarium

MANAUS – Com a necessidade de contar diversas histórias sobre o feminicídio no Brasil, o documentário “Vozes do Feminicídio” tem data prevista para ser lançado no mês de novembro. Em conversa exclusiva com o diretor do projeto, Pedro Neto, ele afirmou à CENARIUM que a ideia do documentário surgiu da necessidade de mostrar o além da notícia.

“Muito se discute, com justiça, razão e necessidade, o fato. Como aconteceu, onde aconteceu, o fator do acontecimento e quem praticou o crime. No entanto, a gente para por aí, é a velha dinâmica do factual, que nada está errado, é uma dinâmica que precisa ser respeitada para que você tenha condições de produzir a notícia”, destacou Pedro.

PUBLICIDADE

O diretor conta que a proposta é trazer um olhar além da notícia. “E surge o documentário dessa necessidade que nós sentimos de contar essas histórias. O documentário contará com três histórias de feminicídio. O caso Renata Muggiati, o caso Maria Helena e vamos tratar de um outro crime que aconteceu no último domingo, 3. O ex-namorado esperou a vítima chegar em casa para matá-la”, explicou.

Leia também: Especialistas comentam crescimento do feminicídio entre mulheres negras no Brasil

Pedro detalhou ainda que enquanto trabalhava na assistência de acusação nos casos de feminicídio percebia uma luta muito grande das famílias e amigos em provar a inocência da vítima. “Infelizmente, nós vivemos em uma sociedade onde há o machismo estrutural, algumas pessoas se sentem desconfortáveis com esse tema, mas ele é real e existe ainda aquele pensamento automatizado de ‘o que ela fez para morrer?'”, salientou.

Estrutura

O documentário conta com três pessoas atuando diretamente na produção. Neto trabalhou no argumento, roteiro e reportagem. Marcos Charneski na parte cinematográfica e, na produção diretamente, a jornalista Ana Paula França, responsável por compactuar os dados e buscar todo o aparato de informações técnicas para aperfeiçoar a narrativa.

Transmissão

O documentário vai estar disponível pela plataforma do YouTube, pelo canal Pense. “É um canal novo que está começando e esse nome é para pensar além da notícia, para aperfeiçoar o nosso conhecimento sobre fatos que movimentam a sociedade. O canal não falará somente sobre crimes, temos outras pautas já objetivadas em andamento”, salientou.

Objetivo

O principal objetivo do documentário é mostrar que o feminicídio não é uma tragédia que afeta apenas a mulher, se estende a familiares, amigos, pessoas próximas e do convívio das vítimas. “Eu tenho casos em andamento, autoras conhecidas, réus confessos em que a família carrega essa dor e essa voz de defender a própria vítima durante seis, sete anos. Você enterra seu ente querido, a sua mulher, mas ela não deixa de estar presente na vida dessas pessoas até que sejam julgados esses casos, pois elas precisam se manter combativas, rebatendo acusações de insinuações de justificativas para a morte da mulher”, contou Pedro.

Dados

Segundo dados do 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2020, duas em cada três vítimas de feminicídio eram mulheres negras, o que representou 61,8% das mortes, seguidas de 36,5% brancas, 0,9% amarelas e 0,9% indígenas. 

No entanto, é importante ressaltar que os dados do ano de 2020 abordam o número de notificações oficiais de violência contra meninas e mulheres durante o período da pandemia de Covid-19. O Estado do Mato Grosso era primeiro do ranking, com média de 3,6 mortes a cada 100 mil mulheres; seguido de Roraima e Mato Grosso do Sul, com três feminicídios por 100 mil mulheres.

PUBLICIDADE

O que você achou deste conteúdo?

Compartilhe:

Comentários

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia as perguntas mais frequentes para saber o que é impróprio ou ilegal.