Uma em cada quatro brasileiras afirmam ter sofrido violência na pandemia, diz pesquisa


07 de junho de 2021
Uma em cada quatro brasileiras afirmam ter sofrido violência na pandemia, diz pesquisa
O percentual de mulheres que afirmaram ter sofrido violência nesta pesquisa é ligeiramente inferior aquele verificado no levantamento anterior, lançado em 2019 (Divulgação/Pixabay)

Com informações do O Globo

RIO DE JANEIRO – Uma em cada quatro brasileiras com mais de 16 anos afirma ter sofrido algum tipo de violência ou agressão, nos últimos doze meses, durante a pandemia de Covid-19. Isso significa dizer que, cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física, psicológica ou sexual ao longo do último ano. Os dados são da terceira edição da pesquisa “Visível e Invisível: a vitimização de mulheres no Brasil”, feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Datafolha, lançada nesta segunda-feira, 7.

O percentual de mulheres que afirmaram ter sofrido violência nesta pesquisa é ligeiramente inferior aquele verificado no levantamento anterior, lançado em 2019. Porém, isso não significa que a violência contra a mulher diminuiu. Na prática, quando se observa o local onde as agressões ocorreram, mais mulheres disseram ter sofrido violência em casa — 49% nesta edição, contra 42% na anterior; e uma porcentagem menor foi agredida na rua — 19% agora, contra 29% na edição passada.

Ou seja: durante a pandemia, a violência contra a mulher se tornou mais expressiva em casa. Esse fenômeno não surpreende e não é exclusividade brasileira. Antes de o coronavírus chegar com força por aqui, alertas nesse sentido já vinham sendo feitos por organismos internacionais e entidades de defesa dos direitos das mulheres a partir do que ocorreu na China e na Europa. Porém, em países que tiveram lockdowns mais rígidos, o confinamento teve mais peso no agravamento da violência doméstica. Por aqui, o principal fator citado pelas entrevistadas foi outro.

Para as brasileiras, a dificuldade de garantir autonomia financeira foi o que as deixou mais vulneráveis à violência durante a pandemia. A perda de emprego ou a impossibilidade de trabalhar para garantir renda própria foi o motivo citado por 25,1% das entrevistadas que sofreram violência. Mais da metade dos entrevistados afirmaram que permaneceram mais tempo em casa durante a pandemia, e a maior convivência com o agressor foi citada por 21,8% das respondentes como agravante da violência. As dificuldades de acionar a polícia ou ir até uma delegacia da mulher apareceram em terceiro lugar, mencionadas apenas por 9,2% das entrevistadas. 

“Nos primeiros meses de pandemia, utilizamos hipóteses um pouco importadas para explicar o aumento da violência, tomando como referência o que aconteceu em países que viveram lockdowns bastante rígidos, onde as dificuldades de locomoção e o isolamento social tiveram muito impacto. Isso também afetou as brasileiras, mas somente as de uma determinada classe social mais alta, que puderam trabalhar de casa [26%, conforme a pesquisa]. No fim, para a maioria das brasileiras, a redução na renda foi o que mais pesou”, explica Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Desde o início da pandemia, o desemprego tem afetado mais as mulheres. Só nos primeiros 15 dias de confinamento, em março de 2020, 7 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho. O impacto desigual da crise econômica entre os gêneros persistiu. Segundo dados mais recentes do IBGE, no primeiro trimestre de 2021 a taxa de desocupação entre os homens era de 12,2% e, entre as mulheres, de 17,9%.

A relação direta entre o desemprego ou a dependência econômica com a maior vulnerabilidade à violência também foi identificada entre as mais de 6 mil vítimas atendidas pelo projeto Justiceiras ao longo do último ano. Mais de 40% delas relatam estarem desempregadas, sendo que 35% não tem nenhuma renda.

“Mesmo as que tem uma condição mais privilegiada não têm liquidez. Tem o patrimônio do casal, mas se ela precisar de dinheiro vivo para sair de casa e fugir de uma situação de violência, ela não tem. Essa dependência econômica é preponderante para que ela não consiga quebrar o ciclo de violência”, explica a advogada Luciana Terra Villar, uma das lideranças da área jurídica do Justiceiras.

A pesquisa do Fórum de Segurança Pública também identificou que a precarização das condições de vida no último ano foi maior entre as mulheres que sofreram violência: 62% delas afirmaram que a renda familiar diminuiu no período e 47% perderam o emprego.

O levantamento mostra ainda que a maior parte delas (45%) não fez nada sobre a agressão sofrida. Um terço alegou ter resolvido a situação por conta própria e quase 17% julgaram que a violência que sofreram não era importante o bastante para procurar a polícia.

“Diante desse cenário, quando essa mulher olha em perspectiva, a grande preocupação da vida dela é garantir que vai ter almoço para todo mundo em casa, que o filho vai ter o que comer. O que a gente percebe é que a violência talvez não seja o elemento mais importante da rotina dela e que uma situação de insegurança alimentar a faça aceitar determinados tipos de violência, especialmente para proteger os filhos”, analisa Bueno.

A pesquisa entrevistou 2.079 pessoas, sendo 1.093 mulheres, entre os dias 10 e 14 de maio de 2021, em 130 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais para as perguntais gerais e de três pontos para as direcionadas às mulheres.

Veja a matéria completa no site

O que você achou deste conteúdo?

VOLTAR PARA O TOPO
Visão Geral de Privacidade

Este site usa cookies para que possamos oferecer a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas em seu navegador e executam funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.