Única pré-candidata trans no Amapá quer dar visibilidade a excluídos

Fleur Duarte é pré-candidata a vereadora em Macapá (Composição: Weslley Santos/Revista Cenarium)
Marcela Leiros – Da Cenarium

MANAUS (AM) – A cidade de Macapá, capital do Amapá, tem, até o momento, apenas uma pré-candidata trans preparando-se para concorrer às eleições municipais neste ano: a ativista dos Direitos Humanos Fleur Duarte. Em meio às articulações e agendas inerentes à pré-campanha como vereadora, ela conversou com a CENARIUM sobre as expectativas para o pleito. O objetivo de Fleur é ajudar minorias vulnerabilizadas a conquistarem mais espaço na política e na sociedade.

Duarte, que integra o partido Rede Sustentabilidade, também foi a primeira mulher trans a receber o título de mulher protagonista de destaque na luta dos direitos humanos pelo Tribunal Regional do Estado do Amapá (TRE-AP). É esta bandeira que ela carrega em uma luta incansável pelo direito à cidadania que norteia a pré-candidatura.

Quero que a voz do povo seja ouvida e representada por pessoas como nós, pobres, da periferia, pessoas estruturalmente excluídas da sociedade e esquecidas pela política da elite que esteve há tempos nos espaços de poder ou de famílias de criaram um certo patrimônio na política, passando de pai pra filho e todos da família“, defendeu a ativista, que teve a pré-candidatura lançada em abril.

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Fleur Duarte em manifestação contra o “PL do Antiaborto”, em Macapá, no Amapá (Reprodução/Instagram)

Ela disse esperar, com muita expectativa, conseguir ser eleita à Câmara Municipal de Macapá (CMM), mas tem consciência de que mesmo que o maior objetivo não seja alcançado, a campanha ainda será um “tijolinho” na construção da visibilidade e representatividade LGBTQIAPN+ no Estado.

Minhas expectativas são boas acredito que eu possa sim ser eleita e, se eu for, serei a primeira [mulher trans] eleita na história do Estado do Amapá“, compartilhou ela. “A política é uma máquina de moer gente. Mas, acredito que um dia uma de nós poderá ser eleita sim“.

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Trajetória

A trajetória de Fleur Duarte no ativismo iniciou em 2015, quando passou a acompanhar uma familiar no Instituto de Prevenção do Câncer Joel Magalhães (Ijoma). Ali, ela viu mulheres em situação de vulnerabilidade, muitas vezes negligenciadas pelo Estado ou pelas próprias famílias, que lutavam por tratamento.

Comecei pelo movimento de mulheres em vulnerabilidade de saúde e tratamento de câncer, onde eu pude enxergar que essas mulheres precisam de atenção, onde são também muito maltratadas, são negligenciadas, são esquecidas e morrem por conta disso, do esquecimento, da negligência, pela falta de apoio familiar, e através disso eu acompanhei“, explicou.

A ativista dos Direitos Humanos Fleur Duarte (Reprodução/Instagram)

Desde então, ela quando começou a ajudar, por meio das redes sociais, pessoas que precisavam ser atendidas no instituto, com informações como a forma de chegar ao Ijoma, do que é preciso para ser atendido, quais os atendimentos disponibilizados no local, entre outros.

Fleur Duarte também passou a dedicar-se aos estudos de Relações Públicas e Política para a Cidadania, mas sem abandonar o ativismo e a certeza de que precisava construir um caminho para a política para que mais pessoas como ela ocupem os espaços de poder.

Eu percebi que eu poderia fazer algo diferente, que era preciso eu disputar a política, por necessidade mesmo, não para falar só por mulheres em vulnerabilidade de saúde, em tratamento de câncer, ou para falar somente pela minha comunidade LGBT, mas para falar por pessoas, falar por todo mundo, porque é necessário, é mais que necessário, é preciso ter corpos como os nossos, de qualquer pessoa estruturalmente excluída na sociedade, para a gente disputar esse espaço de poder“, declarou.

A ativista integra a coordenação de políticas públicas do Elo Nacional LGBT Rede, assim como do grupo Elo Mulheres e do Elo Juventude.

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