Univaja diz que desaparecimento na Amazônia é reflexo da omissão e inoperância do governo federal; ‘genocida’

A Univaja aponta que a Funai não tem contribuído, de forma positiva, diante da pauta (Reprodução)
Priscilla Peixoto – Da Revista Cenarium

MANAUS – A União dos Povos Indígenas Vale do Javari (Univaja) disseminou uma nota nesta segunda-feira, 13, na qual aponta o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e jornalista Dom Phillips como um reflexo da omissão e inoperância do governo federal classificado pela associação como “genocida”.

O documento de três páginas relembra, ainda, outro caso ocorrido quase três anos antes que também resultou na morte de um servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai). “O desaparecimento de Bruno e Dom, assim como o assassinato do servidor da Funai, Maxciel Pereira dos Santos, em 2019, são reflexos da inoperância do Estado brasileiro e suas práticas genocidas. Até hoje, aguardamos respostas sobre o inquérito da morte do Maxciel. A omissão do Governo Bolsonaro tem afetado, diretamente, nossas vidas“, ressalta um trecho da nota.

De acordo com a Univaja, a população que habita a Terra Indígena Vale do Javari vive em meio à tensão, medo e insegurança por conta dos invasores, garimpeiros e madeireiros. “Vivemos inseguros em nossas aldeias. Os invasores saqueiam nossos alimentos, nossos peixes, nossas caças, nossos minerais para extrair lucro“.

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A União dos Povos Indígenas manifesta também solidariedade às famílias de Bruno e Dom. “Hoje, estamos aqui sentindo a ausência do nosso consultor, parceiro e amigo Bruno Pereira, que está desaparecido desde domingo, 5 de junho de 2022. Com ele, estava o jornalista britânico Dominic Phillips, que veio para Atalaia do Norte para acompanhar uma atividade da nossa equipe de vigilância (…) entendemos que eles estavam aqui por nós, longe de suas famílias. Eles são nossos parceiros. Vieram nos ajudar no monitoramento da nossa terra“, afirma a Univaja.

Denúncia e Reforço

Em nota, a associação relembra que entre os períodos de 2020 a 2022 vários ofícios foram encaminhados a diferentes órgãos públicos, como a Fundação Nacional do Índio, em Brasília, e suas instâncias locais (Coordenação Regional e Frente de Proteção Etnoambiental Vale do Javari), Ministério Público Federal, Polícia Federal e Secretaria de Estado da Casa Civil do Governo do Amazonas.

Os documentos, dentre outras coisas, denunciavam as invasões nas terras indígenas, desmatamento, assédio, instalação da linha de transmissão de energia irregular na Terra Indígena Mawetek (onde há povos isolados) e a presença de narcotraficantes que assediam os Kanamari e Mayoruna. A Univaja atenta apara a necessidade da atuação constante das forças armadas e policiais, em Atalaia do Norte, e aponta que a Funai não tem contribuído, de forma positiva, diante da pauta.

A Funai Brasília não tem sido nossa parceira, tem nos atacado por meio de notas mentirosas veiculadas na mídia. É a Funai que tem sido omissa, em nossa região, diante dessa problemática. O Vale do Javari é nossa terra e somos nós que sabemos andar na região. Precisamos de monitoramento e fiscalização territorial para proteger nossas vidas e a vida dos povos isolados. Queremos que as autoridades olhem para o que está acontecendo no Vale do Javari e tomem providências diante do número crescente dos invasores. Que nosso território seja protegido, hoje e no futuro, pelos nossos filhos e netos“, destaca a nota.

Resposta

Em contrapartida, a Funai divulgou uma nota também nesta segunda-feira, 13, na qual nega as declarações feitas pela Univaja. Em publicação, a Fundação Nacional do Índio tem trabalhado, intensamente, nas buscas aos desaparecidos na região do Vale do Javari (AM), na Amazônia e, tem realizado ações permanentes e contínuas de monitoramento, fiscalização e vigilância territorial na Terra Indígena Vale do Javari, em conjunto com órgãos ambientais e de segurança pública competentes.

Quanto à atuação da Funai no Vale do Javari, cabe assinalar que a instituição investiu quase R$ 10 milhões em ações, nos últimos 3 anos, o que representa uma alta de 104% na comparação com o período anterior, quando foram gastos R$ 4,8 milhões. Entre as medidas, estão ações de fiscalização e coibição de ilícitos, tais como extração ilegal de madeira, atividade de garimpo e caça e pesca predatória”, pontua a Funai.

A nota atribui a realidade atual da região aos erros políticos e indigenistas de gestões anteriores. “Convém lembrar que o Vale do Javari sofre com uma série de problemas crônicos, fruto de décadas de fracasso da política indigenista brasileira, que em governos anteriores era guiada por interesses escusos, falta de transparência e forte presença de organizações não-governamentais. Infelizmente, hoje, convivemos com a péssima herança de problemas mal geridos do passado“, avalia a nota.

Nota de esclarecimento sobre a atuação da Funai no Vale do Javari (Reprodução/Fundação Nacional do Índio)

Veja a nota da Univaja na íntegra.

Veja o documento da Funai na íntegra.

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