Valor gasto em ‘motociatas’ de Bolsonaro poderia alimentar quase seis mil famílias no Norte do País

De maio a junho, o presidente realizou quatro atos políticos pelo País, que custaram R$ 1,6 milhões. (PT/Reprodução)

Iury Lima – Da Revista Cenarium

VILHENA (RO) – O valor milionário gasto nos passeios de motocicleta feitos pelo presidente da República Jair Bolsonaro (sem partido) ao longo do mês de maio poderia ter alimentado cerca de 6 mil famílias na região Norte do Brasil. Nos sete Estados da região, a insegurança alimentar aumentou na pandemia e já atinge 67,7% dos domicílios.

As ‘motociatas’ que segundo Bolsonaro acontecem sem viés político, mas parecem mais um movimento de campanha do candidato à reeleição, custaram mais de R$ 1,6 milhão aos cofres públicos só no mês passado. A maior parte ficou com os militares, que também atuaram na segurança do presidente e na fluidez do trânsito, nos eventos: R$ 1,54 milhão. O gasto se refere apenas ao pagamento de diárias de homens do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e de militares empenhados nos eventos

Este valor seria suficiente para comprar 5.928 cestas básicas no Estado do Amapá, por exemplo, que tem a cesta básica mais barata entre os Estados da região Norte do País. De acordo com a Agência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) do Amapá, uma cesta básica na capital, Macapá, sai por até R$ 281,68.

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Com esse valor seria possível fazer a aquisição de quase 6 mil cestas básicas e ainda sobrariam R$ 200,96, quase o valor de uma parcela do Auxílio Emergencial. Se o valor do gasto presidencial destinado aos últimos atos políticos fosse destinado ao auxílio, seria possível realizar o pagamento de 6.680 parcelas. 

No Amapá, a insegurança alimentar passou a assolar 67,7% dos domicílios depois da chegada da Covid-19, de acordo com a pesquisa “Efeitos da Pandemia na alimentação e na situação da Insegurança Alimentar no Brasil”, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a Universidade de Brasília (UnB).

Atos de Bolsonaro descumprem medidas sanitárias contra o vírus que matou mais de meio milhão de brasileiros e incentivam descrença em relação ao alto risco de contágio. (Domingos Peixoto/Reprodução)

Insegurança alimentar no País

A pesquisa da UFMG e UnB, realizada entre novembro e dezembro de 2020 e publicada em abril deste ano, revelou que 59,4% dos lares brasileiros enfrentaram dificuldades ou ainda têm incertezas sobre o futuro de sua alimentação no decorrer da pandemia do coronavírus.

A região Norte, com 67,7%, só ficou atrás do Nordeste, com índice de insegurança em relação à alimentação chegando a 73,1%. Os indicadores apontam para 125,6 milhões de pessoas nesta situação em todo o País, revelando que chegou a faltar comida completamente em 15% dos lares.

Insegurança alimentar no Brasil de agosto a dezembro de 2020

RegiãoLares afetados
Nordeste73,1% 
Norte67,7%
Centro-Oeste54,6%
Sudeste53,3%
Sul51,6%
Fonte: Pesquisa Efeitos da Pandemia na alimentação e na situação da Insegurança Alimentar no Brasil/ UFMG e UnB

Passeios pelo Brasil

De maio a junho deste ano, Bolsonaro realizou quatro atos políticos que ele próprio chama de “motociatas”. O primeiro passeio sobre duas rodas aconteceu em Brasília, no dia 9 do mês passado. Sem máscara de proteção contra o coronavírus, o presidente partiu do Palácio da Alvorada, percorrendo ruas da capital do País.

O chefe do executivo federal ainda aproveitou a oportunidade para fazer discursos em meio à aglomeração, desrespeitando várias medidas sanitárias de enfrentamento à Covid-19, doença que já matou mais de 514 mil brasileiros.

No dia 23 ele percorreu 60 quilômetros pela cidade do Rio de Janeiro, da Barra da Tijuca ao Aterro do Flamengo, na Zona Sul. Mais uma vez, sem máscara de proteção.

Em São Paulo, no dia 12 de junho, o trajeto foi feito em mais de 100 quilômetros, partindo do sambódromo, na Zona Norte, ao Obelisco do Ibirapuera. Este evento recebeu o nome de “Acelera para Cristo” e foi organizado por apoiadores evangélicos. O Governo do Estado de São Paulo desembolsou R$ 1,2 milhão com reforço policial (além dos gastos do próprio governo federal) com o emprego de policiais das três forças de segurança estaduais.

Foram mais de 6,3 mil agentes escalados, entre batalhões especiais de Choque, Trânsito, Rodoviário, Canil, Comando de Aviação da PM, Corpo de Bombeiros e Resgate, entre outros.

Já o quarto ato ocorreu em Chapecó (SC), no último sábado, 26, onde o presidente percorreu com o prefeito da cidade, João Rodrigues (PSD), na garupa. 

João Rodrigues (PSD), prefeito de Chapecó (SC), comemorou passeio pela cidade na garupa de Bolsonaro, durante “motociata”. (Isac Nóbrega/Reprodução)

Prestação de contas

Na quarta-feira, 23, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia aprovou um requerimento de autoria do senador Humberto Costa (PT-PE), atual presidente da Comissão de Direitos Humanos no Senado, solicitando auditoria do Tribunal de Contas da União sobre os gastos com recursos públicos nas “motociatas” de Bolsonaro.

“O senhor presidente da República mobilizou toda a estrutura da presidência, assessores, seguranças, pagamento de diárias, 4 aviões e 1 helicóptero que ficaram sobrevoando essa “motociata” (…). A justificativa que foi feita pelo presidente foi de entregar uma boina a um aluno do colégio militar de São Paulo. Então, eu resolvi solicitar ao Tribunal de Contas da União que faça uma auditoria nos gastos dessa viagem a São Paulo e na realização dessa motociata”, declarou o senador Humberto Costa em um vídeo publicado por ele próprio no Twitter.

“Eu entendo que diz respeito a um ato de conteúdo político eleitoral e não a uma atribuição específica do cargo de presidente da República”, finalizou.

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